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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT46: História(s) da(s) Antropologia(s): temas e tendências

Peter Schröder, Erik Petschelies

O interesse pela história da antropologia renovou-se nas últimas décadas, o que não se deve apenas às críticas pós-modernas e pós-coloniais das décadas de 1970 a 1990, e que suscitaram uma autocrítica sobre a autoridade etnográfica e a participação em empreendimentos coloniais, pois dinâmicas próprias desenvolveram-se. Assim, estudos sobre a origem da antropologia e da etnografia, as bases filosóficas de suas epistemologias e a constituição de diversas tradições nacionais com suas genealogias contribuem para um entendimento mais heterogêneo da disciplina, colocando em xeque as narrativas mainstream sobre sua história. Destacam-se ainda os esforços decoloniais de visibilizar biografias silenciadas e superar os efeitos do epistemicídio, isto é, a marginalização dos trabalhos de intelectuais que não se enquadraram em padrões sociais e étnicos predominantes, além da reconstituição das histórias das antropologias não hegemônicas, e pelas relações entre elas e antropologias outrora hegemônicas, como a alemã. Portanto, este GT busca contribuir para as diversas histórias das antropologias no Brasil e em outros contextos nacionais e transnacionais. O painel se situa num campo interdisciplinar, entre história, antropologia e historiografia das ciências, e está aberto a contribuições que enfocam estudos de caso ou das tradições nacionais e transnacionais, estudos biográficos ou arquivísticos, análises de teorias e métodos e reflexões metodológicas em historiografia das antropologias.

Palavras chave: História da Antropologia; História da Antropologia no Brasil; Historiografia da Antropologia
Resumos submetidos
Roberto Cardoso de Oliveira: Entre a Antropologia, a Filosofia e a História
Autoria: Kaléo de Oliveira Tomaz
Autoria: Roberto Cardoso de Oliveira (1928-2006) é um importante antropólogo, sendo que suas contribuições teóricas e sua trajetória de vida tiveram fortes impactos sobre a Antropologia Brasileira. Já em seus últimos anos de vida o autor buscou propor uma espécie de etnografia da ciência, concentrando parte de seus esforços em discutir a História da Antropologia. Neste sentido, o presente trabalho busca debater a relação existente entre este esforço do antropólogo com suas pesquisas em relação ao lugar da Hermenêutica dentro da Antropologia. Para tanto o texto busca fazer uma análise de diferentes autores cujas "vozes" estão presentes nos escritos de Cardoso de Oliveira. Portanto se procura adentrar nos campos de discussão aos quais o antropólogo faz referência para captar aqueles que mais o influenciam em seus escritos. Após este processo pretende-se discutir: I) a maneira pela qual Cardoso de Oliveira desenvolve sua historiografia da Antropologia; II) as críticas que este autor faz aos pesquisadores que ele denomina como pós-modernos; III) a coesão na Antropologia enquanto disciplina. Ademais busca-se dissertar também as implicações de se fazer pesquisa antropológica e etnográfica sobre Livros e Documentos, levando-se em conta a Polifonia e a Multivocalidade que estes tipos de papeis apresentam. Este trabalho provém de uma Pesquisa de Iniciação Científica, produzida e financiada pelo CNPQ/Unicamp, durante os anos 2019/2020, orientada pelo Prof. Christiano Key Tambascia e com o título "Entre a Antropologia, a Filosofia e a História: uma análise da perspectiva teórica de Roberto Cardoso de Oliveira". Desta forma o estudo é um aprofundamento e desenvolvimento de um Paper mais curto apresentado no XXVIII Congresso de Iniciações Cientificas da UNICAMP. A pesquisa seria dividida em dois momentos: A primeira através dos livros escritos por Cardoso de Oliveira, sendo estes: "O Trabalho do Antropólogo" (2000) e "Sobre o Pensamento Antropológico" (1988); A segunda nos Arquivos do próprio Roberto Cardoso de Oliveira que estão em posse do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL). Entretanto, a segunda parte da pesquisa sofreu alguns impactos devido a pandemia de Covid-19 e por isso teve seu tempo reduzido. Como resultados foi alcançado um entendimento sobre o lugar da Hermenêutica dentro da antropologia na visão do autor. Sendo que esta se manifestava por um processo compreensivo que se flexionava dentro da intersubjetividade da própria disciplina. É através de uma compreensão da construção dessa intersubjetividade que Cardoso de Oliveira descreve o desenvolvimento da História da Antropologia. Para o antropólogo essa história não se dava em uma substituição de um paradigma por outro, mas pela permanência e tensão destes diferentes modos de se pensar a teoria antropológica.
A difusão do evolucionismo haeckeliano no Brasil
Autoria: Erik Petschelies
Autoria: As razões pelas quais o zoólogo e filósofo alemão Ernst Haeckel (1834-1919) alcançou reputação intelectual internacional no século XIX devem-se tanto à sua defesa enfática do evolucionismo darwinista e a uma interpretação específica, especialmente a teoria da recapitulação, quanto pela sua contribuição ao fenecimento das fronteiras entre ciência e arte. No século XIX, Haeckel não foi o único intérprete do evolucionismo, e ao seu lado, além do próprio Charles Darwin (1809-1882), Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829), e Herbert Spencer, responsável por cunhar o malfadado darwinismo social, figuram entre pensadores fundamentais. O objetivo desta apresentação é apontar para a influência exercida por Haeckel entre cientistas naturais e antropólogos brasileiros na virada do século XIX ao XX, especialmente àqueles ligados ao Museu Paulista e ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, no que tange estudos de história natural, antropologia e etnografia.
A difusão do evolucionismo haeckeliano no Brasil
Autoria: Erik Petschelies
Autoria: As razões pelas quais o zoólogo e filósofo alemão Ernst Haeckel (1834-1919) alcançou reputação intelectual internacional no século XIX devem-se tanto à sua defesa enfática do evolucionismo darwinista e a uma interpretação específica, especialmente a teoria da recapitulação, quanto pela sua contribuição ao fenecimento das fronteiras entre ciência e arte. No século XIX, Haeckel não foi o único intérprete do evolucionismo, e ao seu lado, além do próprio Charles Darwin (1809-1882), Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829), e Herbert Spencer, responsável por cunhar o malfadado darwinismo social, figuram entre pensadores fundamentais. O objetivo desta apresentação é apontar para a influência exercida por Haeckel entre cientistas naturais e antropólogos brasileiros na virada do século XIX ao XX, especialmente àqueles ligados ao Museu Paulista e ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, no que tange estudos de história natural, antropologia e etnografia.
Um culturalista brasileiro em Honduras: a antropologia "deslocada" de Ruy Coelho
Autoria: Rodrigo Ramassote
Autoria: Esta proposta tem como objetivo abordar a recepção crítica da obra do antropólogo brasileiro Ruy Coelho (1920-1990) em Honduras, país em que ela recebeu uma larga acolhida e se tornou uma referência bibliográfica obrigatória. Ao contrário do que sucede no Brasil, onde sua produção intelectual jamais foi objeto de especial interesse para antropólogos, em Honduras a tradução de sua tese de doutorado sobre os garífunas (etnônimo pelo qual atualmente se designam os caraíbas negros) em 1981 lhe garantiu consagração e renome, sendo ela ainda hoje citada, lida e influente. Como compreender tal dissonância? Quais circunstâncias teriam interferido na recepção diferenciada de seu legado intelectual? Como explicar a influência de sua contribuição em Honduras? Por meio do caso de Ruy Coelho, pretendo qualificar o debate sobre a circulação internacional de ideias, ao indicar que sua dinâmica não ocorre em espaços vazios, mas é filtrada tanto por condições institucionais objetivas - especializações disciplinares, linhas de pesquisa e hierarquias temáticas - quanto por circunstâncias histórico-políticas específicas. Pretendo ainda refletir sobre a distinção entre "autores menores" e "maiores" na história da antropologia. Como situar a posição ocupada por Ruy Coelho (1920-1990) no interior da história da antropologia no Brasil? Como lidar com um autor de difícil classificação e, em alguns aspectos, ultrapassado? Se não é o caso, propriamente, de resgatar a obra de Ruy Coelho do esquecimento, do ostracismo ou da invisibilidade - afinal, como indiquei acima, sua monografia segue influente em Honduras - trata-se, antes, de avaliar a maneira mais adequada de reassentar sua contribuição no interior de parte do debate antropológico contemporâneo no Brasil.
Roberto Cardoso de Oliveira: Entre a Antropologia, a Filosofia e a História
Autoria: Kaléo de Oliveira Tomaz
Autoria: Roberto Cardoso de Oliveira (1928-2006) é um importante antropólogo, sendo que suas contribuições teóricas e sua trajetória de vida tiveram fortes impactos sobre a Antropologia Brasileira. Já em seus últimos anos de vida o autor buscou propor uma espécie de etnografia da ciência, concentrando parte de seus esforços em discutir a História da Antropologia. Neste sentido, o presente trabalho busca debater a relação existente entre este esforço do antropólogo com suas pesquisas em relação ao lugar da Hermenêutica dentro da Antropologia. Para tanto o texto busca fazer uma análise de diferentes autores cujas "vozes" estão presentes nos escritos de Cardoso de Oliveira. Portanto se procura adentrar nos campos de discussão aos quais o antropólogo faz referência para captar aqueles que mais o influenciam em seus escritos. Após este processo pretende-se discutir: I) a maneira pela qual Cardoso de Oliveira desenvolve sua historiografia da Antropologia; II) as críticas que este autor faz aos pesquisadores que ele denomina como pós-modernos; III) a coesão na Antropologia enquanto disciplina. Ademais busca-se dissertar também as implicações de se fazer pesquisa antropológica e etnográfica sobre Livros e Documentos, levando-se em conta a Polifonia e a Multivocalidade que estes tipos de papeis apresentam. Este trabalho provém de uma Pesquisa de Iniciação Científica, produzida e financiada pelo CNPQ/Unicamp, durante os anos 2019/2020, orientada pelo Prof. Christiano Key Tambascia e com o título "Entre a Antropologia, a Filosofia e a História: uma análise da perspectiva teórica de Roberto Cardoso de Oliveira". Desta forma o estudo é um aprofundamento e desenvolvimento de um Paper mais curto apresentado no XXVIII Congresso de Iniciações Cientificas da UNICAMP. A pesquisa seria dividida em dois momentos: A primeira através dos livros escritos por Cardoso de Oliveira, sendo estes: "O Trabalho do Antropólogo" (2000) e "Sobre o Pensamento Antropológico" (1988); A segunda nos Arquivos do próprio Roberto Cardoso de Oliveira que estão em posse do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL). Entretanto, a segunda parte da pesquisa sofreu alguns impactos devido a pandemia de Covid-19 e por isso teve seu tempo reduzido. Como resultados foi alcançado um entendimento sobre o lugar da Hermenêutica dentro da antropologia na visão do autor. Sendo que esta se manifestava por um processo compreensivo que se flexionava dentro da intersubjetividade da própria disciplina. É através de uma compreensão da construção dessa intersubjetividade que Cardoso de Oliveira descreve o desenvolvimento da História da Antropologia. Para o antropólogo essa história não se dava em uma substituição de um paradigma por outro, mas pela permanência e tensão destes diferentes modos de se pensar a teoria antropológica.
Práticas biográficas no campo de Antropologia: perspectivas etnográficas minoritárias e seus desdobramentos na história da disciplina
Autoria: Leandro de Oliveira
Autoria: A Antropologia, desde sua institucionalização como disciplina científica no século XIX, aderiu a perspectivas coletivistas que priorizava conceitos totalizantes - tais como "cultura", "sociedade", "grupo" - como ferramentas para produção de conhecimento sobre a alteridade. Um dos efeitos desta abordagem foi a tendência a relegar a reflexão sobre a experiência pessoal a um estatuto residual ou marginal nas pesquisas etnográficas, dando pouco espaço para o registro e teorização sobre trajetórias e narrativas biográficas. Este estatuto periférico se manteve até, aproximadamente, os anos 1970 - a despeito da existência de alguns experimentos teórico-metodológicos bastante criativos desenvolvidos em período anterior, tais como a proposta de "autobiografia nativa" de Paul Radin (1920) e as pesquisas desenvolvidas no meio urbano na tradição da escola sociológica de Chicago. Nos últimos 50 anos, contudo, práticas biográficas vêm sendo progressivamente reconhecidas como estratégias pertinentes à construção de etnografias e do conhecimento no campo de Ciências Humanas, de modo geral. Isto inclui ampla gama de procedimentos: histórias de vida, histórias de família, etnobiografias, autoetnografias, etc. Paralelamente a escrita biográfica sobre o outro, emergem estratégias de escrita de si que constroem o antropólogo como uma personagem ativa no texto - seja através de sua inscrição em cenas de interação com interlocutores da pesquisa, seja pela explicitação seletiva de certos aspectos da trajetória e vida pessoal do antropólogo, contextualizados como parte de processos coletivos mais amplos que impactam sua entrada em campo e/ou estão vinculados a seus posicionamentos político-epistemológicos (com forte potencial como instrumentos para a crítica ao presente etnográfico e à autoridade etnográfica). Estes processos parecem sugestivas de mudanças nos regimes de verdade em que o conhecimento antropológico está situado, remetendo a dinâmicas político-culturais mais abrangentes. Esta comunicação se dedicará a uma exposição, de caráter exploratório, sobre este cenário de transformações nas práticas da disciplina. Neste sentido, ela visa colaborar para a construção de historiografias alternativas da disciplina, resgatando estas contribuições minoritárias e considerando sua potencialidade na proposição de novas formas de fazer antropológico.
Do parentesco à intersemioticidade: as mil folhas dos objetos estruturais
Autoria: Erick Nascimento Vidal
Autoria: Esta comunicação tem por objetivo mostrar como, na história dos estudos de parentesco, especialmente na primeira metade do século XX, um tipo de problema se formulou que tem relevância contemporânea, mas em outro campo: aquele das chamadas formas expressivas ou da chamada antropologia da arte. Trata-se da interação entre formas ou níveis de comunicação distintos. Aqui, será esboçada uma demonstração de como a obra de Lévi-Strauss formulou este problema num campo e permite ainda abordá-lo no outro. A narrativa tradicional - que tem, sem dúvida, sua validade - quanto à abordagem estruturalista do parentesco reserva um lugar de honra a Mauss e ao problema da reciprocidade. A ênfase nesta, no entanto, levou a questionamentos sobre até que ponto a troca é um modelo pertinente, na medida em que ela suporia uma abstrata igualdade entre os polos. O problema real estaria nas desiguldades reais supostas e reproduzidas por ela. Ocorre que, como Bourdieu certa vez salientou, a acusação de "panlogismo" ou de uma "visão puramente semiológica" não se aplica perfeitamente às análises do próprio Lévi-Strauss. Isso nos lança na via de um outro tipo de questionamento e, para resgatá-lo, é útil retornar a história dos estudos de parentesco. De fato, já a disputa entre Morgan e McLennan supunha um conflito entre duas teorias simbólicas e inaugurava, com a própria antropologia, o campo tenso do logocentrismo: disputa entre a ênfase sobre a linguagem e outros sistemas de signo. Autores como Rivers e Kroeber, Malinowski e Hocart enfrentaram, à sua maneira, dilemas comparáveis, como será indicado. Sobretudo a relação entre práticas relacionais e terminologia de parentesco opôs Kroeber e Radcliffe-Brown, mas ambos buscaram, em formulações diferentes, enfatizar o caráter parcial da integração entre elas. O que fez Lévi-Strauss foi não só reelaborar esse nexo, mas inseri-lo numa teoria mais ampla dos sistemas de comunicação (endossada por Jakobson) incluindo o parentesco, a economia e a linguagem verbal (mas também a arte) - uma teoria, no entanto, que, longe de supor que esses diferentes níveis ou campos se encaixam perfeitamente, oscila entre a busca de um código comum capaz de traduzir a todos e a análise dos seus múltiplos desencontros. Ora, este é precisamente o tipo de problema enfrentado atualmente por estudiosos de práticas semióticas complexas como a música do Alto Xingu ou as múltiplas tradições de desenho na areia em Vanuatu. Indicá-lo, ainda que esquematicamente, permitirá formular uma indagação sobre a própria essência dos sistemas semióticos em sua potência de transformação e conexão com outros. Ademais, sugerirá uma releitura da história da disciplina do ponto de vista deste problema dito "intersemiótico" que parece novo apenas por uma ilusão historiográfica.
Entre rastros e indícios: a atuação de Karla Kozák na constituição de coleções etnográficas em museus do Paraná
Autoria: Gabriela Freire, Gabriela Freire, Ana Elyze Santos Martins de Gois
Autoria: A comunicação tem como objetivo apresentar os resultados iniciais de uma pesquisa sobre a contribuição de Karla Kozák para a constituição de coleções etnográficas de museus paranaenses e, consequentemente, para os estudos sobre arte e materialidades de populações indígenas. Karla (1896-1960) era irmã de Vladimir Kozák (1897-1979), cinegrafista tcheco que se tornou conhecido por suas expedições a diversas populações indígenas (como os Xetá, Iny-Karajá, Ka"apor e Wauja), que deram origem a coleções etnográficas, fotográficas e audiovisuais que estão guardadas principalmente no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR (MAE-UFPR) e no Museu Paranaense. As contribuições de Karla, por sua vez, não são tão conhecidas pelos pesquisadores atuais quanto as de seu irmão. Embora suas aquarelas já tenham sido expostas pelo Museu Paranaense, instituição que recebeu a herança jacente de Vladimir Kozák em 1990, seu papel central em algumas expedições de seu irmão (em que ela coletava peças que depois passariam a compor coleções museológicas, realizava a feitura de registros imagéticos de pinturas corporais e a viabilização das viagens, ao cuidar dos preparativos burocráticos e de subsistência para estas), não é suficientemente reconhecido, por vezes ignorado, tanto pelas instituições que guardam suas coleções quanto pelos pesquisadores que as estudam. Nessa fala, apresentaremos o histórico das coleções de peças e fotografias dos povos Wauja e Karajá que foram constituídas por Karla e seu irmão, e que estão atualmente no MAE-UFPR. A documentação que fundamentará a apresentação - diários, cartões postais e outras correspondências - faz parte do acervo do Museu Paranaense, ressaltando o trânsito que as coleções que dizem respeito à Karla e seu irmão têm e tiveram entre os museus do estado do Paraná. Espera-se, com a pesquisa apresentada, questionar o processo de silenciamento da voz e das ações de Karla, e de visibilizar o trabalho de pesquisa e coleta daquela que é conhecida, até hoje, como a "irmã do Kozák".
Um culturalista brasileiro em Honduras: a antropologia "deslocada" de Ruy Coelho
Autoria: Rodrigo Ramassote
Autoria: Esta proposta tem como objetivo abordar a recepção crítica da obra do antropólogo brasileiro Ruy Coelho (1920-1990) em Honduras, país em que ela recebeu uma larga acolhida e se tornou uma referência bibliográfica obrigatória. Ao contrário do que sucede no Brasil, onde sua produção intelectual jamais foi objeto de especial interesse para antropólogos, em Honduras a tradução de sua tese de doutorado sobre os garífunas (etnônimo pelo qual atualmente se designam os caraíbas negros) em 1981 lhe garantiu consagração e renome, sendo ela ainda hoje citada, lida e influente. Como compreender tal dissonância? Quais circunstâncias teriam interferido na recepção diferenciada de seu legado intelectual? Como explicar a influência de sua contribuição em Honduras? Por meio do caso de Ruy Coelho, pretendo qualificar o debate sobre a circulação internacional de ideias, ao indicar que sua dinâmica não ocorre em espaços vazios, mas é filtrada tanto por condições institucionais objetivas - especializações disciplinares, linhas de pesquisa e hierarquias temáticas - quanto por circunstâncias histórico-políticas específicas. Pretendo ainda refletir sobre a distinção entre "autores menores" e "maiores" na história da antropologia. Como situar a posição ocupada por Ruy Coelho (1920-1990) no interior da história da antropologia no Brasil? Como lidar com um autor de difícil classificação e, em alguns aspectos, ultrapassado? Se não é o caso, propriamente, de resgatar a obra de Ruy Coelho do esquecimento, do ostracismo ou da invisibilidade - afinal, como indiquei acima, sua monografia segue influente em Honduras - trata-se, antes, de avaliar a maneira mais adequada de reassentar sua contribuição no interior de parte do debate antropológico contemporâneo no Brasil.
Afrocentricidade: outra história da antropologia através de antropólogos(as) negros(as) do séc. XIX e XX
Autoria: Elizabeth Lima da Silva
Autoria: O presente trabalho busca estabelecer um campo de possibilidades para o diálogo na Antropologia Clássica com outros pensadores, etnólogos e antropólogos africanos, europeus, norte-americanos e brasileiros com produções que não obtiveram visibilidade e o título de "clássicas" por antropologia branca e hegemônica da época, mas que possuem enorme valor teórico e epistemológico para instrumentação analítico-metodológica de uma escrita antropológica contemporânea noutras bases. Dentre esses que discutiam sobre seus contextos e faziam críticas ao projeto colonial, colocando como desafio outros valores e práticas civilizatórias, podemos destacar antropólogos/as negros e negras como Joseph-Anténor Firmin (Haiti, 1850 1911), Cheikh Anta Diop (Senegal, 1923-1986) Manuel Raymundo Querino (Brasil, 1851-1923), Zora Neale Hurston (EUA, 1891-1960), Manoel Zapata Oliveiralla (Columbia, 1920-2004), Jean Price-Mars (Haiti, 1876-1969) Lélia González (Brasil, 1935-1994) e Edison Carneiro (Brasil, 1912-1972). Portanto, busco compreender sobre o silenciamento dessas contribuições na formação da Antropologia e Ciências Sociais, mas também apresentar as potentes produções acadêmicas trazidas por tais intelectuais no séc. XIX e XX. Palavras-chave: Antropologia Clássica; História; Biografia; Estudos Decoloniais; Raça.
Wanda Hanke nos interstícios do establishment
Autoria: Josiéli Andréa Spenassatto
Autoria: Wanda Hanke, uma etnógrafa de origem germânica que atuou por 25 anos na América do Sul durante a primeira metade do século XX, formou uma das mais volumosas e importantes coleções do Museu Paranaense, em Curitiba. Um dos objetivos aqui é tornar visível uma figura outsider à história da antropologia, que ficou esquecida por muitos anos e que tem em sua trajetória mesma pontos que chamam atenção pela especificidade frente às experiências de outras mulheres no mesmo período. Mas também, junto com isso, a história cruzada entre Hanke e Museu Paranaense magnetiza o histórico de relações desta instituição com outros agentes germânicos da época, figuras masculinas em circunstâncias de vida e de pesquisa relativamente parecidas. As estratégias de atuação do Museu Paranaense, um dos mais antigos museus do Brasil, de agir ativamente na captação de know-how e de coleções de agentes estrangeiros, com maior ou menor grau de amadorismo, e em situações de fragilidade civil no Brasil, visavam incrementar o volume e diversidade de coleções para suas prateleiras, e consequentemente o seu prestígio nas redes políticas e intelectuais nacionais e internacionais. Os contrastes de trajetória de Wanda Hanke, Gunther Tessmann e Reinhard Maack ajudam a levantar possibilidades para os sentidos e as recepções da atuação de Hanke, para discutir uma abordagem sobre a sua marginalidade, para trazer à tona sujeitos e instituição concretos em interação, sob circunstâncias específicas, que versam sobre a criação e a reprodução de redes que burlam o establishment, embora na busca por fazer parte dele.
Do parentesco à intersemioticidade: as mil folhas dos objetos estruturais
Autoria: Erick Nascimento Vidal
Autoria: Esta comunicação tem por objetivo mostrar como, na história dos estudos de parentesco, especialmente na primeira metade do século XX, um tipo de problema se formulou que tem relevância contemporânea, mas em outro campo: aquele das chamadas formas expressivas ou da chamada antropologia da arte. Trata-se da interação entre formas ou níveis de comunicação distintos. Aqui, será esboçada uma demonstração de como a obra de Lévi-Strauss formulou este problema num campo e permite ainda abordá-lo no outro. A narrativa tradicional - que tem, sem dúvida, sua validade - quanto à abordagem estruturalista do parentesco reserva um lugar de honra a Mauss e ao problema da reciprocidade. A ênfase nesta, no entanto, levou a questionamentos sobre até que ponto a troca é um modelo pertinente, na medida em que ela suporia uma abstrata igualdade entre os polos. O problema real estaria nas desiguldades reais supostas e reproduzidas por ela. Ocorre que, como Bourdieu certa vez salientou, a acusação de "panlogismo" ou de uma "visão puramente semiológica" não se aplica perfeitamente às análises do próprio Lévi-Strauss. Isso nos lança na via de um outro tipo de questionamento e, para resgatá-lo, é útil retornar a história dos estudos de parentesco. De fato, já a disputa entre Morgan e McLennan supunha um conflito entre duas teorias simbólicas e inaugurava, com a própria antropologia, o campo tenso do logocentrismo: disputa entre a ênfase sobre a linguagem e outros sistemas de signo. Autores como Rivers e Kroeber, Malinowski e Hocart enfrentaram, à sua maneira, dilemas comparáveis, como será indicado. Sobretudo a relação entre práticas relacionais e terminologia de parentesco opôs Kroeber e Radcliffe-Brown, mas ambos buscaram, em formulações diferentes, enfatizar o caráter parcial da integração entre elas. O que fez Lévi-Strauss foi não só reelaborar esse nexo, mas inseri-lo numa teoria mais ampla dos sistemas de comunicação (endossada por Jakobson) incluindo o parentesco, a economia e a linguagem verbal (mas também a arte) - uma teoria, no entanto, que, longe de supor que esses diferentes níveis ou campos se encaixam perfeitamente, oscila entre a busca de um código comum capaz de traduzir a todos e a análise dos seus múltiplos desencontros. Ora, este é precisamente o tipo de problema enfrentado atualmente por estudiosos de práticas semióticas complexas como a música do Alto Xingu ou as múltiplas tradições de desenho na areia em Vanuatu. Indicá-lo, ainda que esquematicamente, permitirá formular uma indagação sobre a própria essência dos sistemas semióticos em sua potência de transformação e conexão com outros. Ademais, sugerirá uma releitura da história da disciplina do ponto de vista deste problema dito "intersemiótico" que parece novo apenas por uma ilusão historiográfica.
Wanda Hanke nos interstícios do establishment
Autoria: Josiéli Andréa Spenassatto
Autoria: Wanda Hanke, uma etnógrafa de origem germânica que atuou por 25 anos na América do Sul durante a primeira metade do século XX, formou uma das mais volumosas e importantes coleções do Museu Paranaense, em Curitiba. Um dos objetivos aqui é tornar visível uma figura outsider à história da antropologia, que ficou esquecida por muitos anos e que tem em sua trajetória mesma pontos que chamam atenção pela especificidade frente às experiências de outras mulheres no mesmo período. Mas também, junto com isso, a história cruzada entre Hanke e Museu Paranaense magnetiza o histórico de relações desta instituição com outros agentes germânicos da época, figuras masculinas em circunstâncias de vida e de pesquisa relativamente parecidas. As estratégias de atuação do Museu Paranaense, um dos mais antigos museus do Brasil, de agir ativamente na captação de know-how e de coleções de agentes estrangeiros, com maior ou menor grau de amadorismo, e em situações de fragilidade civil no Brasil, visavam incrementar o volume e diversidade de coleções para suas prateleiras, e consequentemente o seu prestígio nas redes políticas e intelectuais nacionais e internacionais. Os contrastes de trajetória de Wanda Hanke, Gunther Tessmann e Reinhard Maack ajudam a levantar possibilidades para os sentidos e as recepções da atuação de Hanke, para discutir uma abordagem sobre a sua marginalidade, para trazer à tona sujeitos e instituição concretos em interação, sob circunstâncias específicas, que versam sobre a criação e a reprodução de redes que burlam o establishment, embora na busca por fazer parte dele.
Darcy Ribeiro e a Antropologia da Educação no Brasil
Autoria: Luiz Otávio Pereira Rodrigues
Autoria: Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um antropólogo, educador, político e escritor mineiro que alçou o status de figura pública a partir da década de 1950. A sua trajetória confunde-se com a própria história da relação das Ciências Sociais e Educação no Brasil. Em razão disso, após a sua inserção no aparato estatal, o teor das suas obras antropológicas foi marcado pelo compromisso de transformar a realidade brasileira. Por essa razão, a ideia de uma ciência neutra poderia ser sacrificada pelo cumprimento de uma agenda política. Desta forma, a instância que melhor atendia os anseios de Darcy era o campo educacional, sobretudo, a reforma e ampliação das instituições escolares e universitárias. No seu ideário, elas são as instituições capazes de prover a "aceleração evolutiva" necessária para tirar o país da condição de atraso e dependência cultural e econômica. Portanto, o objetivo deste trabalho reside em analisar as obras que Darcy Ribeiro discutiu educação; sendo elas: "A Universidade Necessária. Estudos Sobre o Brasil e a América Latina" (1969); "UnB: Invenção e descaminho" (1978); "Nossa escola é uma calamidade" (1984); "O livro dos CIEPs" (1986) e "Universidade de Brasília: projeto de organização, pronunciamento de educadores e cientistas e Lei n° 3.998 de 15 de dezembro de 1961" (2011). Com isto, buscamos responder a seguinte hipótese: Darcy Ribeiro pode ser posto enquanto um pioneiro da Antropologia da Educação brasileira? O método utilizado neste trabalho foi a etnografia documental. Pois, ao destacar a centralidade que os registros podem assumir na construção das narrativas procurou-se evidenciar como as auto-representações são idealizadas, ao passo que tem a sua importância minimizada quanto postas em um contexto mais amplo. A escolha deste recurso analítico justifica-se pelo fato que Darcy, ao perceber a fragilidade da própria saúde e, desprovido de filhos e discípulos, imprimiu uma grande urgência em projetos autobiográficos. Porque ele desejava que após seu falecimento sua contribuição intelectual também fosse lembrada, e não somente os seus projetos político-administrativos. Assim, as suas utopias se manteriam vivas graças a condução de colaboradores, e ele poderia superar a morte e o tempo. Diversos estudos continuam a ser realizados sobre a vida e obra de Darcy Ribeiro, contudo, poucos são os trabalhos que buscam aproximar Antropologia e Educação em uma perspectiva não-biográfica. Cabe ressaltar que ele também queria ser lembrado por suas ideias. Portanto, a relevância deste trabalho reside em prover um ganho analítico da interpretação dos escritos de Darcy Ribeiro no centenário do seu nascimento. Tarefa de suma importância, pois o antropólogo mineiro ocupa uma posição central na constituição das Ciências Sociais e Educação brasileira.
Entre rastros e indícios: a atuação de Karla Kozák na constituição de coleções etnográficas em museus do Paraná
Autoria: Gabriela Freire, Gabriela Freire, Ana Elyze Santos Martins de Gois
Autoria: A comunicação tem como objetivo apresentar os resultados iniciais de uma pesquisa sobre a contribuição de Karla Kozák para a constituição de coleções etnográficas de museus paranaenses e, consequentemente, para os estudos sobre arte e materialidades de populações indígenas. Karla (1896-1960) era irmã de Vladimir Kozák (1897-1979), cinegrafista tcheco que se tornou conhecido por suas expedições a diversas populações indígenas (como os Xetá, Iny-Karajá, Ka"apor e Wauja), que deram origem a coleções etnográficas, fotográficas e audiovisuais que estão guardadas principalmente no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR (MAE-UFPR) e no Museu Paranaense. As contribuições de Karla, por sua vez, não são tão conhecidas pelos pesquisadores atuais quanto as de seu irmão. Embora suas aquarelas já tenham sido expostas pelo Museu Paranaense, instituição que recebeu a herança jacente de Vladimir Kozák em 1990, seu papel central em algumas expedições de seu irmão (em que ela coletava peças que depois passariam a compor coleções museológicas, realizava a feitura de registros imagéticos de pinturas corporais e a viabilização das viagens, ao cuidar dos preparativos burocráticos e de subsistência para estas), não é suficientemente reconhecido, por vezes ignorado, tanto pelas instituições que guardam suas coleções quanto pelos pesquisadores que as estudam. Nessa fala, apresentaremos o histórico das coleções de peças e fotografias dos povos Wauja e Karajá que foram constituídas por Karla e seu irmão, e que estão atualmente no MAE-UFPR. A documentação que fundamentará a apresentação - diários, cartões postais e outras correspondências - faz parte do acervo do Museu Paranaense, ressaltando o trânsito que as coleções que dizem respeito à Karla e seu irmão têm e tiveram entre os museus do estado do Paraná. Espera-se, com a pesquisa apresentada, questionar o processo de silenciamento da voz e das ações de Karla, e de visibilizar o trabalho de pesquisa e coleta daquela que é conhecida, até hoje, como a "irmã do Kozák".
Darcy Ribeiro e a Antropologia da Educação no Brasil
Autoria: Luiz Otávio Pereira Rodrigues
Autoria: Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um antropólogo, educador, político e escritor mineiro que alçou o status de figura pública a partir da década de 1950. A sua trajetória confunde-se com a própria história da relação das Ciências Sociais e Educação no Brasil. Em razão disso, após a sua inserção no aparato estatal, o teor das suas obras antropológicas foi marcado pelo compromisso de transformar a realidade brasileira. Por essa razão, a ideia de uma ciência neutra poderia ser sacrificada pelo cumprimento de uma agenda política. Desta forma, a instância que melhor atendia os anseios de Darcy era o campo educacional, sobretudo, a reforma e ampliação das instituições escolares e universitárias. No seu ideário, elas são as instituições capazes de prover a "aceleração evolutiva" necessária para tirar o país da condição de atraso e dependência cultural e econômica. Portanto, o objetivo deste trabalho reside em analisar as obras que Darcy Ribeiro discutiu educação; sendo elas: "A Universidade Necessária. Estudos Sobre o Brasil e a América Latina" (1969); "UnB: Invenção e descaminho" (1978); "Nossa escola é uma calamidade" (1984); "O livro dos CIEPs" (1986) e "Universidade de Brasília: projeto de organização, pronunciamento de educadores e cientistas e Lei n° 3.998 de 15 de dezembro de 1961" (2011). Com isto, buscamos responder a seguinte hipótese: Darcy Ribeiro pode ser posto enquanto um pioneiro da Antropologia da Educação brasileira? O método utilizado neste trabalho foi a etnografia documental. Pois, ao destacar a centralidade que os registros podem assumir na construção das narrativas procurou-se evidenciar como as auto-representações são idealizadas, ao passo que tem a sua importância minimizada quanto postas em um contexto mais amplo. A escolha deste recurso analítico justifica-se pelo fato que Darcy, ao perceber a fragilidade da própria saúde e, desprovido de filhos e discípulos, imprimiu uma grande urgência em projetos autobiográficos. Porque ele desejava que após seu falecimento sua contribuição intelectual também fosse lembrada, e não somente os seus projetos político-administrativos. Assim, as suas utopias se manteriam vivas graças a condução de colaboradores, e ele poderia superar a morte e o tempo. Diversos estudos continuam a ser realizados sobre a vida e obra de Darcy Ribeiro, contudo, poucos são os trabalhos que buscam aproximar Antropologia e Educação em uma perspectiva não-biográfica. Cabe ressaltar que ele também queria ser lembrado por suas ideias. Portanto, a relevância deste trabalho reside em prover um ganho analítico da interpretação dos escritos de Darcy Ribeiro no centenário do seu nascimento. Tarefa de suma importância, pois o antropólogo mineiro ocupa uma posição central na constituição das Ciências Sociais e Educação brasileira.
Etnologia indígena na Alemanha: das tradições bastianas e boasianas até o cenário atual
Autoria: Peter Schröder
Autoria: O objetivo deste trabalho é mostrar como se entende a prática acadêmica da etnologia indígena no contexto institucional da antropologia na Alemanha e como as políticas indigenistas dos estados-nação americanos entraram em suas pautas de pesquisa. Na antropologia alemã há uma longa tradição de etnologia indígena que remonta até os inícios da institucionalização da área em espaços museais no século XIX. Na Alemanha, a etnologia indígena não existe com esta denominação, mas suas pesquisas tradicionalmente fazem parte das especializações regionais, ou seja, são expressões dos diversos americanismos etnológicos com suas subdivisões. O Geist das pesquisas etnológicas focalizadas nos indígenas americanos nunca era contribuir, indiretamente, para as ideologias ou políticas do nation-building dos estados-nações americanos, mas geralmente tinha objetivos bastante idealistas, pautados, principalmente, em ideais que podem ser vinculados às tradições que se manifestam nas obras de Bastian e Boas. As políticas indigenistas dos estados-nações americanos inicialmente entraram nos estudos etnográficos alemães apenas como informações complementares, na segunda metade do século XX. A partir dos anos 70, porém, começou uma mudança lenta, mas coerente: a atenção dada às políticas indigenistas nas Américas virou assunto de pesquisas antropológicas e até entrou nas pautas de diálogos entre a antropologia acadêmica e as agências e organizações de cooperação internacional, tirando a etnologia indígena praticada na Alemanha um pouco de sua marginalização nos cenários acadêmicos.
Afrocentricidade: outra história da antropologia através de antropólogos(as) negros(as) do séc. XIX e XX
Autoria: Elizabeth Lima da Silva
Autoria: O presente trabalho busca estabelecer um campo de possibilidades para o diálogo na Antropologia Clássica com outros pensadores, etnólogos e antropólogos africanos, europeus, norte-americanos e brasileiros com produções que não obtiveram visibilidade e o título de "clássicas" por antropologia branca e hegemônica da época, mas que possuem enorme valor teórico e epistemológico para instrumentação analítico-metodológica de uma escrita antropológica contemporânea noutras bases. Dentre esses que discutiam sobre seus contextos e faziam críticas ao projeto colonial, colocando como desafio outros valores e práticas civilizatórias, podemos destacar antropólogos/as negros e negras como Joseph-Anténor Firmin (Haiti, 1850 1911), Cheikh Anta Diop (Senegal, 1923-1986) Manuel Raymundo Querino (Brasil, 1851-1923), Zora Neale Hurston (EUA, 1891-1960), Manoel Zapata Oliveiralla (Columbia, 1920-2004), Jean Price-Mars (Haiti, 1876-1969) Lélia González (Brasil, 1935-1994) e Edison Carneiro (Brasil, 1912-1972). Portanto, busco compreender sobre o silenciamento dessas contribuições na formação da Antropologia e Ciências Sociais, mas também apresentar as potentes produções acadêmicas trazidas por tais intelectuais no séc. XIX e XX. Palavras-chave: Antropologia Clássica; História; Biografia; Estudos Decoloniais; Raça.
Práticas biográficas no campo de Antropologia: perspectivas etnográficas minoritárias e seus desdobramentos na história da disciplina
Autoria: Leandro de Oliveira
Autoria: A Antropologia, desde sua institucionalização como disciplina científica no século XIX, aderiu a perspectivas coletivistas que priorizava conceitos totalizantes - tais como "cultura", "sociedade", "grupo" - como ferramentas para produção de conhecimento sobre a alteridade. Um dos efeitos desta abordagem foi a tendência a relegar a reflexão sobre a experiência pessoal a um estatuto residual ou marginal nas pesquisas etnográficas, dando pouco espaço para o registro e teorização sobre trajetórias e narrativas biográficas. Este estatuto periférico se manteve até, aproximadamente, os anos 1970 - a despeito da existência de alguns experimentos teórico-metodológicos bastante criativos desenvolvidos em período anterior, tais como a proposta de "autobiografia nativa" de Paul Radin (1920) e as pesquisas desenvolvidas no meio urbano na tradição da escola sociológica de Chicago. Nos últimos 50 anos, contudo, práticas biográficas vêm sendo progressivamente reconhecidas como estratégias pertinentes à construção de etnografias e do conhecimento no campo de Ciências Humanas, de modo geral. Isto inclui ampla gama de procedimentos: histórias de vida, histórias de família, etnobiografias, autoetnografias, etc. Paralelamente a escrita biográfica sobre o outro, emergem estratégias de escrita de si que constroem o antropólogo como uma personagem ativa no texto - seja através de sua inscrição em cenas de interação com interlocutores da pesquisa, seja pela explicitação seletiva de certos aspectos da trajetória e vida pessoal do antropólogo, contextualizados como parte de processos coletivos mais amplos que impactam sua entrada em campo e/ou estão vinculados a seus posicionamentos político-epistemológicos (com forte potencial como instrumentos para a crítica ao presente etnográfico e à autoridade etnográfica). Estes processos parecem sugestivas de mudanças nos regimes de verdade em que o conhecimento antropológico está situado, remetendo a dinâmicas político-culturais mais abrangentes. Esta comunicação se dedicará a uma exposição, de caráter exploratório, sobre este cenário de transformações nas práticas da disciplina. Neste sentido, ela visa colaborar para a construção de historiografias alternativas da disciplina, resgatando estas contribuições minoritárias e considerando sua potencialidade na proposição de novas formas de fazer antropológico.
À respeito de uma outra história: a viagem das imagens fotográficas de Claude Lévi-Strauss (1908-2009)
Autoria: Carolina de Castro Barbosa
Autoria: Proponho-me nessa comunicação oral apresentar alguns resultados de minha pesquisa de doutorado ainda em desenvolvimento sobre as imagens fotográficas de Claude Lévi-Strauss (1908-2009). De forma mais específica, o objetivo é reconstruir o percurso realizado pelas imagens fotográficas produzidas no campo etnográfico no Brasil no começo do século XX entre alguns grupos indígenas. Essas imagens, enquanto objetos sociais, têm uma trajetória própria, no tempo e no espaço, que busco traçá-la considerando que sua incompletude está presente nessa caminhada. Considero também, como uma espécie de fio condutor, a própria história de Lévi-Strauss, tentando aproximar o itinerário das imagens com os rumos acadêmico e pessoal desse antropólogo, relacionando-se ainda com a história da Antropologia. Da produção no campo, essas imagens percorreram e ainda se movimentam por artigos, livros, exposições, arquivos, websites, entre outros. Para tal proposta, tendo como perspetiva de que os arquivos podem propiciar conhecimentos antropológicos a partir do entendimento de seus contextos sociais e simbólicos de produção (Cunha, 2004), foi realizada uma pesquisa presencial em parte dos arquivos de Lévi-Strauss que se encontra sob a guarda da Biblioteca Nacional da França (BNF), no qual pude acessar documentos pessoais, fotos, notas de expedição, fichas de leituras, entre documentos. Também tive acesso ao arquivo digital do Museu Du Quai Branly, no qual estão alguns arquivos fotográficos. Ainda no âmbito da pesquisa de campo, outras conexões foram realizadas com a finalidade de reconstruir a história das imagens produzidas no campo etnográfico até sua configuração atual, dispersa por vários espaços distintos. Desse modo, pretende-se contribuir para contar uma outra história da experiência etnográfica de Lévi-Strauss no Brasil tendo como mola propulsora o percurso de suas imagens.
Etnologia indígena na Alemanha: das tradições bastianas e boasianas até o cenário atual
Autoria: Peter Schröder
Autoria: O objetivo deste trabalho é mostrar como se entende a prática acadêmica da etnologia indígena no contexto institucional da antropologia na Alemanha e como as políticas indigenistas dos estados-nação americanos entraram em suas pautas de pesquisa. Na antropologia alemã há uma longa tradição de etnologia indígena que remonta até os inícios da institucionalização da área em espaços museais no século XIX. Na Alemanha, a etnologia indígena não existe com esta denominação, mas suas pesquisas tradicionalmente fazem parte das especializações regionais, ou seja, são expressões dos diversos americanismos etnológicos com suas subdivisões. O Geist das pesquisas etnológicas focalizadas nos indígenas americanos nunca era contribuir, indiretamente, para as ideologias ou políticas do nation-building dos estados-nações americanos, mas geralmente tinha objetivos bastante idealistas, pautados, principalmente, em ideais que podem ser vinculados às tradições que se manifestam nas obras de Bastian e Boas. As políticas indigenistas dos estados-nações americanos inicialmente entraram nos estudos etnográficos alemães apenas como informações complementares, na segunda metade do século XX. A partir dos anos 70, porém, começou uma mudança lenta, mas coerente: a atenção dada às políticas indigenistas nas Américas virou assunto de pesquisas antropológicas e até entrou nas pautas de diálogos entre a antropologia acadêmica e as agências e organizações de cooperação internacional, tirando a etnologia indígena praticada na Alemanha um pouco de sua marginalização nos cenários acadêmicos.
À respeito de uma outra história: a viagem das imagens fotográficas de Claude Lévi-Strauss (1908-2009)
Autoria: Carolina de Castro Barbosa
Autoria: Proponho-me nessa comunicação oral apresentar alguns resultados de minha pesquisa de doutorado ainda em desenvolvimento sobre as imagens fotográficas de Claude Lévi-Strauss (1908-2009). De forma mais específica, o objetivo é reconstruir o percurso realizado pelas imagens fotográficas produzidas no campo etnográfico no Brasil no começo do século XX entre alguns grupos indígenas. Essas imagens, enquanto objetos sociais, têm uma trajetória própria, no tempo e no espaço, que busco traçá-la considerando que sua incompletude está presente nessa caminhada. Considero também, como uma espécie de fio condutor, a própria história de Lévi-Strauss, tentando aproximar o itinerário das imagens com os rumos acadêmico e pessoal desse antropólogo, relacionando-se ainda com a história da Antropologia. Da produção no campo, essas imagens percorreram e ainda se movimentam por artigos, livros, exposições, arquivos, websites, entre outros. Para tal proposta, tendo como perspetiva de que os arquivos podem propiciar conhecimentos antropológicos a partir do entendimento de seus contextos sociais e simbólicos de produção (Cunha, 2004), foi realizada uma pesquisa presencial em parte dos arquivos de Lévi-Strauss que se encontra sob a guarda da Biblioteca Nacional da França (BNF), no qual pude acessar documentos pessoais, fotos, notas de expedição, fichas de leituras, entre documentos. Também tive acesso ao arquivo digital do Museu Du Quai Branly, no qual estão alguns arquivos fotográficos. Ainda no âmbito da pesquisa de campo, outras conexões foram realizadas com a finalidade de reconstruir a história das imagens produzidas no campo etnográfico até sua configuração atual, dispersa por vários espaços distintos. Desse modo, pretende-se contribuir para contar uma outra história da experiência etnográfica de Lévi-Strauss no Brasil tendo como mola propulsora o percurso de suas imagens.