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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT58: Pandemia silenciosa: o impacto do novo coronavírus na saúde mental em tempos de pandemia e pós-pandemia de Covid-19

Érica Quinaglia, Sônia W. Maluf

Este GT visa a reunir pesquisas que abordem práticas, políticas e discursos no campo da saúde mental nos contextos de enfrentamento à pandemia de Covid-19 e de pós-pandemia. Apresentada como uma outra pandemia, subjacente e paralela à de Covid, as questões de saúde mental têm aparecido como problemas emergentes nas políticas de saúde no país e em nível global. Torna-se premente a compreensão antropológica dos impactos específicos que esses contextos trouxeram para a saúde mental; a análise sobre o quanto a saúde mental se torna uma linguagem e um modelo explicativo para questões mais amplas de sofrimento social; o escrutínio sobre quais são os caminhos futuros para políticas de saúde mental e para a emergência de novas práticas, experiências e saberes sobre esse tema. A proposta comporta, de um lado, práticas e saberes locais, tradicionais e/ou dissidentes de sujeitos e coletividades em relação a saúde/adoecimento/sofrimento mental; e, de outro, políticas públicas, serviços e ações do Estado nesse campo, envolvendo redes de atendimento, dispositivos epidemiológicos, políticas e biopolíticas pretensamente universais e seus modos desiguais de distribuição de direitos. A intenção é ampliar a compreensão das questões atinentes aos processos de sofrimento, aflição, perturbação e/ou adoecimento, práticas, políticas e discursos a partir de um olhar antropológico sobre esta pandemia silenciosa e sobre o impacto dos contextos de pandemia e pós-pandemia de Covid-19 na saúde mental.

Palavras chave: saúde mental; Estado; pandemia e pós-pandemia de Covid-19
Resumos submetidos
Pueblo Originários y COVID 19: salud mental, gobierno y el Runa andino
Autoria:
Autoria: El presente artículo se inscribe en el desarrollo de la salud pública con enfasis en la salud mental de los pueblos Originários desde una mirada política, social y cultural del contexto Andino. Su objetivo es el de problematizar e interpretar el desempeño de los sistemas de gobierno y sus políticas públicas para el tratamiento de la salud mental de los pueblos Originários Andinos. Se ha utilizado el método descriptivo observacional directo, utilizando la técnica etnográfica digital y la revisión bibliográfica en profundidad. El resultado de la investigación permite explicar desde la realidad andina, los impactos en la salud mental post COVID19.
Ser linha de frente: vivências de profissionais da saúde do RN em tempos de pandemia
Autoria:
Autoria: O trabalho é pautado por um estudo acerca das experimentações de mundo de profissionais da saúde atuantes na linha de frente no enfrentamento à Covid-19 no Rio Grande do Norte. Partindo de uma discussão teórica que se interessa nas temáticas relativas ao pesquisar na pandemia, interseccionalidades, governança, necropolítica e cuidado de si e do outro, ocorre a problematização do que é construir a saúde no Brasil. O presente escrito tem como objetivo central compreender as perspectivas de avaliação dessas/es trabalhadoras/es sobre presenças, vivências e ausências no sistema de saúde brasileiro, como também investigar a possível existência de uma renovação de práticas nesse campo social, sejam elas já em curso ou de elaboração ainda necessária. Nesse sentido, o trabalho contribui com uma apreensão de demandas e necessidades dessa categoria diante de um cenário de transformações sociais, culturais e políticas que expressam desigualdades já em curso no sistema capitalista. Através de uma metodologia quali-quantitativa, expressa em um survey via Google Forms, foram verificadas 48 respostas no intervalo de 2 meses. Como resultados, a pesquisa conta com uma presença massiva de mulheres e de moradores de grandes cidades do estado como parte da amostragem estudada: ambos recortes equivalentes ao percentual de 89,6% cada. Dentre este grupo, 62,5% narraram a existência de uma mudança na relação com o paciente. Ademais, nos depoimentos, apresenta-se a existência de uma pandemia do medo e da construção de uma coletividade entre o grupo da linha de frente, com base na identificação e compartilhamento de afetividades como medo, culpa, ansiedade e estresse. Nesse cenário de análises, é verificada uma potencialização do adoecimento mental dentro do público-alvo. De acordo com este, o futuro da profissão demonstra um cenário de alterações e incertezas.
Caminhos reflexivos de uma Trabalhadora-pesquisadora com pessoas em situação de rua em Porto Alegre/RS no contexto pandêmico
Autoria:
Autoria: Este trabalho pretende relatar e desenvolver reflexões sobre a vivência como trabalhadora-pesquisadora no Serviço de Abordagem Social, na política de Assistência Social em Porto Alegre/RS com a população em situação de rua na região do bairro Partenon ao longo destes dois anos pandêmicos. O fazer antropológico é um grande desafio, uma imersão no espaço do que não é conhecida, a estranheza é cotidianamente enfrentada com a simples ação de conviver e coexistir. Diversos questionamentos foram e ainda são feitos ao longo desta pandemia de COVID 19 no processo do dia a dia do trabalho desta política pública. Alguns serviços passaram a trabalhar em regime de tele trabalho, o distanciamento ficou realmente imenso. No entanto, na rua a vida seguiu. Como ficar em casa, se já não havia casa? Como lavar as mãos se não havia torneiras públicas? Os banheiros públicos localizam-se na região central da cidade e nem sempre estão abertos. Como fazer para cuidar de quem esta rua e é grupo prioritário se ainda não sabíamos o que fazer? Para onde levar quem adoecia? Como levar? A equipe também estaria em risco? Qual o protocolo para população de rua nas unidades de saúde da região? E os trabalhadores também do grupo de risco, como fazer? E como seria o processo de vacinação dos/as trabalhadores e da população de rua? Ambos seriam prioritários? Trabalhar e pesquisar grupos conceituados como vulneráveis, diante do cenário de agravamento das condições sociais e econômica em meio à crise sanitária e humanitária em que vivemos, torna-se uma das ferramentas para desenvolver estratégias de manutenção da existência para todes.
Quando o tratamento não cura: relatos e trajetórias terapêuticas no contexto da pandemia de COVID-19 em Belém/PA
Autoria:
Autoria: Este trabalho visa analisar, sob uma perspectiva da antropologia da saúde, a trajetória de pessoas acometidas pela COVID-19, mais especificamente aquelas que apresentam a chamada Síndrome Pós-COVID-19 na capital paraense. Por meio de entrevistas semiestruturadas, busca-se investigar como se constitui a rede de cuidados dessas pessoas, seja pela rede de saúde pública ou privada, quais as formas de tratamento, como convivem com sequelas da doença e de que forma isso afeta o cotidiano desses interlocutores. Isso porque o olhar e a compreensão sobre as experiências pessoais, bem como a elaboração de seus cuidados, desenhando trajetórias em diferentes redes que lhe proporcionem algum suporte, são muito importantes. A noção de sofrimento, causado pela enfermidade, faz alusão a uma trajetória adotada em busca de tratamento. A doença, por sua vez, como indicam Rodrigues e Caroso (1999), trata-se de uma experiência física e subjetiva, envolvida em complexa rede de sentimentos que orientam os indivíduos em suas buscas por significados. Trata-se de uma relação que vai além do caráter biológico dos cuidados com o corpo doente, estendendo-se ao caráter das interações sociais. Nesse contexto pandêmico, os relatos de experiências pessoais e familiares, bem como o modo que elaboram seus cuidados, desenhando trajetórias em diferentes redes que lhe proporcionem algum suporte, mostra-se relevante. Assim, é importante compreender a forma como as pessoas processam e compartilham as informações acerca da doença, assim como trazer à perspectiva os impactos que a mesma traz às suas vidas. Palavras-chave: Covid-19, trajetória, tratamento, experiência.
"Temos que lidar com excesso de trabalho, agravamento do estresse, ansiedade, insônia...": os abalos na saúde mental de professoras de escolas públicas de Porto Alegre durante a pandemia de Covid-19
Autoria:
Autoria: A pandemia da Covid-19 exigiu que as práticas educativas presenciais fossem interrompidas e novas formas de ensino, realizadas remotamente, fossem inseridas no cotidiano das escolas. Neste contexto, todos os atores foram surpreendidos: tanto estudantes e seus familiares, quanto os professores, as coordenações pedagógicas, as equipes diretivas e até mesmo as mantenedoras e os órgãos estatais, como as Secretarias de Educação. No âmbito de uma pesquisa que se direcionava a uma abordagem comparativa entre uma escola pública e uma escola privada no contexto de ensino remoto emergencial, foi possível ter contato com os relatos de professoras de variadas escolas públicas estaduais de Porto Alegre. Em uma perspectiva etnográfica que reacendeu as discussões sobre a realização de etnografias em contextos digitais, foram realizadas entrevistas exploratórias e observações em aulas síncronas online de uma escola estadual. Os relatos escancararam as realidades dessas educadoras e elencaram as diversas questões responsáveis pelo abalo de sua saúde mental. A distância dos estudantes, a carga de trabalho excessiva, as dificuldades financeiras, as duplas e triplas jornadas, as ameaças por parte da Secretaria de Educação, a dificuldade de inserção no ambiente digital e as incertezas sobre a propagação do vírus e a duração da pandemia foram alguns dos pontos que causaram os abalos citados pelas professoras. Em uma das conversas, uma professora descreveu este cenário: "tivemos que nos adaptar a uma nova rotina de trabalho, com novas ferramentas e demandas, além dos ataques à educação e à carreira, dessa forma é humanamente impossível manter uma boa condição de saúde mental". Para a maioria delas, o aumento das situações de estresse, a sobrecarga e a frustação trouxeram na bagagem muita ansiedade, insônia, cansaço e depressão. Além da falta de estrutura e orientações para a realização das aulas virtuais por parte da Secretaria da Educação, as professoras estaduais gaúchas vêm enfrentando aproximadamente oito anos de salários congelados e 20 meses de salários parcelados. A crise sanitária expôs um sistema que já caminhava para o colapso, devido à falta de investimentos e de diálogo com a comunidade escolar. Diante da falta de uma política pública de assistência psicológica aos educadores, ganha espaço a discussão sobre a Lei Federal nº 13.935/2019, que trata da obrigatoriedade de psicólogos e assistentes sociais nas equipes multiprofissionais de ensino-aprendizagem das escolas.
Volta à escola com a Covid-19: tensionando a ideia de "geração perdida"
Autoria:
Autoria: Neste 2022, crianças e adolescentes estão retornando ao "chão da escola", ainda com a Covid-19 entre nós, depois de dois anos de ensino remoto em virtude da pandemia. Na esfera pública, uma ideia ventila nesse contexto: de que haveria no Brasil, como em outros países menos privilegiados geopoliticamente, uma "geração perdida" de estudantes, uma vez que a crise sanitária delimitou, também, uma crise educacional, com supostos déficits irrecuperáveis de aprendizagem. Esta comunicação argumenta sobre a necessidade de se empregar a noção de "geração perdida" com enorme responsabilidade. Estudiosas(os) já vêm alertando para o perigo de uso dessa expressão em favor de processos iníquos de financeirização da vida. Não fora desse contexto, quer-se chamar a atenção mais detida ao risco de utilização leviana desse termo no que diz respeito a repercussões sobre disposições existenciais e de saúde mental em meio a crianças e jovens, especialmente - mas não somente - entre àquelas(es) que encontram maiores obstáculos em seus percursos formais de educação, devido a desigualdades. A fala se alicerça em dados, observações, interlocuções e análises reunidos a partir do projeto "Escola em quarentena: um registro antropológico de memórias educacionais", coordenado pela autora em parceria com duas outras pesquisadoras e educadoras. Essa iniciativa se caracteriza a um só tempo como um exercício de pesquisa, um esforço de extensão e um experimento de ciência aberta. O projeto integra hoje o "Coronarquivo" do Centro de Humanidades Digitais da Unicamp, espaço dedicado a reunir arquivos virtualizados de memória da pandemia de Covid-19, sob a preocupação de contar uma história equânime de uma catástrofe que é multifacetada - simultaneamente sanitária, geopolítica, econômica e sociológica.
Impactos para a saúde mental de profissionais da saúde no enfrentamento à pandemia em Santa Catarina
Autoria:
Autoria: Esse estudo analisa o impacto da pandemia do coronavírus nos/nas profissionais de saúde, focando a saúde mental. O enfrentamento à pandemia provocou uma mudança radical nas suas rotinas. Foram realizadas entrevistas aprofundadas, por meio virtual, em diferentes momentos da pandemia, com interlocutores/as chave - gestores/as, profissionais de saúde do interior e da capital de Santa Catarina - para entender os impactos na saúde mental e nas relações sociais. Segundo os relatos, as primeiras capacitações dos/as profissionais ocorreram de forma rápida, havendo novas pactuações de protocolos à medida que conhecimentos sobre a doença eram gerados - processo permeado por incertezas e medos em relação aos riscos, especialmente no primeiro ano da pandemia. A experiência subjetiva deste processo foi vivenciada em diferentes momentos: desde os picos com lotações dos serviços até a vacinação em massa e o aumento de leitos; do caos ao enfrentamento, até à naturalização dos casos. Pesquisar durante a pandemia possibilitou identificar situações que, em momentos de estabilidade, provavelmente não seriam possíveis. Por exemplo, a falta de profissionais, seja porque alguns precisaram entrar em licença por serem grupo de risco ou porque se infectaram com o vírus e/ou tiveram sua saúde mental afetada, sobrecarregou o grupo que se manteve atuando nos serviços. Essa situação gerou conflitos internos entre as equipes. A sobrecarga de trabalho e o medo de contaminação foram preocupações constantes entre os participantes. A maior parte das equipes nos espaços hospitalares contava com profissionais da psicologia e do serviço social, mas essas trabalhadoras centravam suas intervenções de cuidado junto às famílias dos pacientes graves por Covid-19. Enquanto isso, o apoio para dar suporte às demandas de saúde mental dos/as profissionais foi mantido quase que exclusivamente pelas relações entre as equipes e o apoio familiar, por vezes, em contatos remotos. Além do medo da contaminação, a saúde mental desses/as trabalhadores/as foi negativamente afetada, principalmente devido à crescente precarização do trabalho, como perda de direitos trabalhistas, o que agravou os adoecimentos entre profissionais. A manutenção da saúde mental não pode ser entendida no âmbito individual. Por isso, é necessário desenvolver práticas que recuperem as perspectivas de humanização do trabalho interdisciplinar nos serviços de saúde e garantir suporte de forma contínua. Os/as profissionais de saúde são sempre os/as primeiros/as a comporem a linha de frente no processo de controle de uma pandemia. Portanto, é fundamental uma revisão das garantias trabalhistas, para que continuem enfrentando os desafios em saúde com o fortalecimento de suas redes produtoras de cuidados.
Os impactos do trabalho remoto entre os docentes do magistério superior do nordeste brasileiro
Autoria:
Autoria: Este trabalho busca apresentar os resultados parciais de uma pesquisa que tem como objetivo analisar os principais impactos do trabalho remoto, adotado durante os dois primeiros anos da pandemia de COVID-19 nas vidas dos(as) docentes do magistério superior da região nordeste do Brasil. A análise se constrói a partir da compreensão das características dos(as) participantes da pesquisa, da apreensão de suas experiências em relação à pandemia, da compreensão das mudanças em suas rotinas de trabalho, da avaliação que fazem do trabalho remoto, bem como das perspectivas que apresentam com relação a esse momento de transição para o retorno às atividades presenciais. O trabalho é subsidiado pelo desenvolvimento de um levantamento, cuja coleta de dados contou com um formulário digital disposto na plataforma "Google Forms", entre os meses de abril e maio de 2022, através do qual foram alcançadas 793 respostas, até o momento. Os resultados parciais da pesquisa indicam que para a maioria dos(as) respondentes houve aumento no tempo de dedicação às atividades acadêmicas durante o trabalho remoto, o que acarretou em uma precarização do trabalho docente, uma diminuição - qualitativa e quantitativa de suas produtividades, além do prejuízo em diferentes dimensões de suas vidas pessoais, como a familiar e a saúde física e psíquico-emocional. Apesar de contarem com certo otimismo com relação ao retorno das atividades presenciais e restabelecimento de uma melhor administração da rotina pela separação entre esfera pública e privada, as respostas subjetivas apresentadas pelos(as) respondentes indicam a vivência de sofrimentos diversos e intensos ao longo dos dois últimos anos, o que tende a gerar desafios para as instituições, com vistas a promover o acolhimento necessário à readaptação das atividades após um período permeado por medos, perdas, mudanças e pressões diversas.