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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT74: Ritmos da Identidade: Música, Juventude e Identidade

João Batista J Felix, Carlos Benedito R da Silva

Socialização e discussão de pesquisas concluídas ou em andamento, enfocando a música e ritmos como elementos de mobilização coletiva, definição de linguagens e códigos de comunicação: enfoques sobre construção de performances e linguagens corporais entre grupos de juventude nas diversas regiões brasileiras ou mesmo em outros países, a partir das tendências rítmicas veiculadas pelos sistemas midiáticos. Estamos diante um fenômeno bastante interessante, pois é cada vez maior as expressões artísticas que eram assumidas como simplesmente formas de lazer, passarem a serem compreendidas como formas de se expor posições políticas e construções de identidade étnicas. A arte sempre foi vista como muito perigosa, principalmente pelos governos autoritários, mas ela era entendida como uma extensão, uma maneira a mais dos órgãos especializados em políticas (Partidos Políticos principalmente) tinham para demonstrar suas posições. Atualmente existem vários trabalhos acadêmicos que procuram demonstrar que a música, a dança, o cinema, o teatro, têm uma grande autonomia política. Nossa intenção, com a instituição deste GT, é dar espaço para conhecermos pesquisas desenvolvidas em todo o território nacional ou estrangeiros, sobre formas de se construir assumir posturas políticas e se construir identidades através da música, da dança e do lazer.

Palavras chave: Música, Juventude e Identidade
Resumos submetidos
O Grito das Garotas
Autoria: Fernanda Gomes Rodrigues
Autoria: Proponho apresentar dissertação de mestrado, escrita em 2006, na qual se lançou um olhar antropológico sobre uma manifestação identitária, musical e política de jovens mulheres ou "garotas". O trabalho pretendeu discutir especialmente aspectos das construções de gênero, identidade e representação abordadas a partir de uma leitura das colocações de garotas que integram bandas de hardcore em Brasília-DF. Bandas estas que estavam inseridas em um movimento mundial de afirmação da potência feminina chamado Riot Grrrl. Buscou-se apreender as motivações das garotas que se unem para formar estas bandas, que tipo de transformação esta experiência traz ou deveria trazer, de acordo com as expectativas/experiências das garotas. A partir de entrevistas, observação participante e pesquisa documental em diversos Zines, físicos e digitais, foram se desvelando diversos aspectos desse movimento social e, na mesma medida, foi sendo acionado um referencial teórico a partir do qual se buscou realizar uma "descrição densa "do movimento.
Reencontrar-se no som: experiências da diáspora nordestina no Sul do Brasil
Autoria: Tatiane Silva Cerqueira Santos
Autoria: A proposta de trabalho que venho apresentar neste espaço de debate é referente ao meu projeto de pesquisa do doutorado intitulado: Reencontrar-se no som: experiências da diáspora nordestina no sul do Brasil. A pretensão é estudar as experiências de mulheres e homens de origem nordestina que vivem na região da Grande Florianópolis. Com o objetivo de conhecer a diversidade de formas de produção de corpos/sujeitos e a organização de coletivos por meio de artes performáticas que envolvem a música e a dança. Assim, são pesquisados os espaços de entretenimento e a participação em manifestações artístico-culturais associadas à cultura afro-brasileira por parte desses migrantes. Pensando estas migrações como mais um desdobramento da diáspora afro-brasileira, busca-se a compreensão do papel da música, da dança e de outras artes performáticas na sociabilidade de mulheres e homens nordestinos no novo contexto de vida. Observa-se que, apesar do preconceito que sofrem neste contexto, é por meio de práticas artístico-culturais que essas pessoas podem enfrentar a lógica imposta sobre seus corpos. Portanto, essas manifestações são entendidas como formas de resistência à imposição de padrões morais, políticos e subjetivos eurocêntricos. Palavras-chave: migrantes nordestinos; expressões culturais; música; dança.
Sobre rede e música: notas preliminares acerca da crítica sobre a bossa nova
Autoria: Henrique Martins
Autoria: Em trabalhos de natureza acadêmica ou literária, a Bossa Nova aparece comumente associada às ideias de "sofisticação", "evolução", "bom gosto", "modernidade", "renovação", etc. Assumindo com essas produções o lançamento do disco "Chega de Saudade" de João Gilberto como marco inicial daquilo que viria se estabilizar como Bossa Nova, propõe-se aqui rastrear parte da formação da rede composta por este LP, artigos jornalísticos, críticos musicais e músicos. As ambiguidades presentes em interlocuções jornalísticas bem como em entrevistas com alguns músicos realizadas entre 1959 e 1966 permitem recompor a formação deste coletivo e expõem o processo de objetivação daquilo que veio a ser considerado Bossa Nova através das performances de músicos, críticos, amantes da música e artigos jornalísticos atuando sobre a construção do gosto e conferindo determinada forma à referida prática musical. Para esta exposição, abordaremos a interlocução entre dois grupos de críticos musicais que estabeleceram duas posições claramente delineadas: uma versão que enxergava a Bossa Nova como música cosmopolita, moderna, antropofágica, e de outro lado, a vertente que pugnava pela tradição popular, aviltada pela música feita por uma classe média alienada. A primeira corrente foi protagonizada no período por nomes como o musicólogo Brasil Rocha Brito, o poeta e teórico concretista Augusto de Campos, e o maestro Júlio Medaglia, entre outros. A segunda, encontrou sua expressão máxima nos escritos da época do historiador marxista José Ramos Tinhorão. Os artigos foram publicados entre 1960 e 1966 e foram posteriormente reunidos nos livros "O balanço da bossa e outras bossas" (CAMPOS, 2012), e "Música Popular: um tema em debate" (TINHORÃO, 1966). No caso da Bossa Nova, esses trabalhos parecem reconstituir os eixos de representação social que Antoine Hennion (2007) descreve respectivamente como linear (ou aquele que pugna pela autonomia e verdade intrínseca ao objeto musical) e circular (ou aquele que vê a música como forma de representação do grupo para si próprio). Mais do que correntes de pensamento antagônicas, os dois modos de representação parecem ter constituído o suporte interno de autodefinição e estabilização (HENNION, 2007: 503) da Bossa Nova.
Classificando o lugar do outro: entre falsos e verdadeiros no Heavy Metal
Autoria: Muryel Moura dos Santos
Autoria: Ao longo de nossa pesquisa de Mestrado em Ciências Sociais, observamos a prática social dos indivíduos que se identificam com a música do Heavy Metal, mais especificamente, no lócus de pesquisa da cidade de Campina Grande-PB. Ao atentarmos a prática de jovens e adultos (na condição de músicos ou audiência), destacamos as performances em palco realizadas pelos músicos como dramas sociais vividos por esses indivíduos na cidade contra o conservadorismo. Historicamente, o estilo musical do Heavy Metal surge no pós-guerra, em meados dos anos 1980, momento pelo qual muitos artistas criticaram o status quo e suas instituições. Os artistas dessa música estavam inspirados nas reminiscências do punk para desferir agulhadas no establishment, por meio de seus discursos, estéticas e comportamento em palco, algo que se ampliou e tornou-se possível de observar isso sendo praticado por aqueles que se identificam com a música ainda na contemporaneidade, ainda mais com aqueles que desejam integrar sem envolvimento com a causa do Metal. Aqui, atentaremos de que maneira a sociabilidade ocorre, traçando uma linha de análise que contempla o jogo de categorias do grupo (como poser: destinada aquele que falseia ser do grupo e truer: aquele que superenfatiza sua adesão) para mensurar o pertencimento dos membros ao grupo. A partir desses enunciados percebemos que há disputas morais em jogo, conotando apreço e desapreço em suas relações sociais. Assim, pretendemos apresentar de que maneira os jovens e adultos adeptos dessa música nos eventos e fora desses espaços agenciam as referidas categorias de exclusão e pertencimento nas interações e analisaremos quais são os custos disso às imagens dos membros envolvidos. A metodologia utilizada para apresentar esses dados advém de um trabalho de campo nosso iniciado em 2015, por meio da observação participante em shows e no cotidiano (inclui-se também aqui as redes sociais), o que nos possibilitará apresentar e discutir esse mundo artístico e social.
"Hoje tem viu?!": uma autoetnografia sobre a socialização a partir do encontro produzido pelo ritmo do forró romântico
Autoria: Mylena Serafim da Silva
Autoria: Socialização e cultura são duas categorias fundamentais para a compreensão antropológica da sociedade. Assim, chamamos aqui esses dois conceitos para nortear a observação participante em contextos que envolvem a reunião de pessoas que escutam e/ou dançam forró romântico, tendo como campo a cidade de João Pessoa-PB e indagando de que forma esse estilo musical produz um encontro. O forró romântico, também conhecido enquanto forró das comunidades e/ou forró de favela é um ritmo dançante muito escutado na região do Nordeste, contudo se diferenciando de outros tipos de forró como o eletrônico e pé de serra. Dito isto, o público também se distingue, e podemos notar sua aproximação com ritmos como brega, por exemplo. Os encontros aqui em destaque são os shows que ocorrem em casas de festas, e que desde o início de 2022 propõe semanalmente eventos que participam pessoas de toda a cidade. A reflexão aqui proposta é perceber como que esse ritmo musical movimenta e mobiliza um grupo para além de uma diversão, mas promovendo encontros e fortalecendo uma cultura que existe e perpassa gerações, chegando a operar em um campo social, aqui com recorte para a cidade, e construindo uma identidade cultural dentro desse espaço, sendo um movimento que existe e persiste mesmo sob um contexto tido como a margem. Enquanto metodologia, faço uso da autoetnografia na medida em que ocupo esses espaços há pelo menos 15 anos, sendo um estilo musical que faz parte da minha realidade, do qual gosto. A teoria bourdieusiana nos auxilia a pensarmos de como esse grupo existe e de que modo o habitus dos agentes contribui para a permanência desses vínculos, sendo o gosto enquanto um distintivo dentro da sociedade. Nesse sentido, é válido ainda ressaltar o quanto que não somente os espaços que propõem a diversão a partir do forró romântico, mas também as pessoas que gostam do mesmo são estigmatizadas, sendo muitas vezes agentes classificados sob um entendimento de "cultura inferior" ou mesmo "sem cultura". Reconhecendo então que o forró romântico é uma cultura e que culturas não podem ser classificáveis em termos de níveis, fazemos a defesa aqui de um grupo que existe, se identifica e que, a partir do lazer, são proponentes de encontros que viabilizam um movimento dentro do campo social. A proposta é descrever, a partir de um relato de experiência em um show de forró romântico no ano de 2022 na cidade de João Pessoa-PB, como esses encontros produzem afetação e vínculos na cidade.