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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT07: Antropologia da percepção e dos sentidos

Olivia von der Weid, Viviane Vedana

A percepção é um fenômeno que depende tanto da fisiologia quanto de um processo de orientação. Ao mesmo tempo em que se define pela variação de estímulos que os órgãos dos sentidos são capazes de responder, o próprio grau de sensibilidade dos órgãos é em parte modulado e modelado pelo ambiente cultural. O contínuo processo de modulação das percepções sensoriais resulta das interações entre os seres, humanos e não humanos, em diferentes ambientes e de um processo de aprendizagem, que acontece de forma implícita ou deliberada. A percepção é uma forma de ação que se dá no movimento do fazer, nas práticas exploratórias dos seres em relação ao ambiente, objetos ou outros seres. O objetivo do GT é reunir contribuições de diferentes horizontes etnográficos que se dediquem à temática, considerando, em alguma medida: 1) os mundos perceptivos e universos sensoriais criados por diferentes grupos; 2) as práticas e articulações entre os seres - máquinas, instrumentos, animais, plantas, substâncias, tecnologias - capazes de ampliar as formas humanas de perceber e os meios de agir no mundo; 3) os modos de educação da atenção para a percepção e os sentidos, e o papel do sensorial nas práticas de ensino/aprendizagem; 4) o descentramento sensorial nas experiências etnográficas, que ensinam a sentir outramente a relação com o mundo e com os outros; 5) as formas estéticas de evocar, na escrita ou outras modalidades de registro, as atmosferas sensoriais vividas no encontro etnográfico.

Palavras chave: percepção; ambiente; práticas
Resumos submetidos
A escuta dos skatistas: a sonoridade ambiente para um engajamento/affordance.
Autoria: Julio Cesar Stabelini
Autoria: Resumo O objetivo deste resumo é explorar as implicações/relações entre habilidades perceptivas em jogo na relação entre sujeitos e ambiente a partir da prática do skate na cidade de São Paulo, tendo os usos dos recursos dos registros audiovisuais como forma de representação etnográfica. O skateboarding não é apenas um esporte, é mais que uma prática física, envolve todo o conjunto perceptivo, toda uma experiência individual e também coletiva de construção de corporalidades, sociabilidades, entre produções de vivências no ambiente da cidade - pensada aqui não como algo pronto, disponível para ser ocupada, mas como algo que emerge de fluxos, do entrelaçamento de trajetórias diversas (Ingold, 2011). Partindo do fato de que a percepção envolvida na prática do skate combina audição, visão, equilíbrio, propulsão, etc., a pesquisa que venho desenvolvendo no PPGAS/USP procura explorar a hipótese de que algo que podemos chamar de uma "escuta" com o corpo tenha um papel importante e pouco estudado no engajamento do skatista nas affordances urbanas. Embora a maioria das pessoas associe a prática do skate com as imagens visuais, há nela uma relação importante entre som e ritmo. Segundo Borden (2001), quando se anda de skate no ambiente urbano o som das rodas sobre o concreto é uma das primeiras percepções dos skatistas. E, mais do que isso: esses sons de atrito em diferentes superfícies (não só concreto, mas também madeira, metal, mármore, asfalto, etc.) fazem parte do universo do skatista (IDEM). Ao deslizar pela cidade, ou ao andar nas pistas, o conjunto skate/praticante cria ritmos únicos que revelam muito sobre as condições da superfície e do ambiente. Padrões rítmicos podem ser criados quando se desliza por rachaduras no asfalto, ou por um tipo de calçamento com um padrão específico. Esses sons são amplificados e ressoam através da madeira do shape, transmitindo as vibrações para o corpo do praticante. O resultado disso, afirma Borden (idem), é que o skatista interioriza o terreno físico e a textura da cidade através desses sons. A escuta dos skatistas é treinada para reconhecer um tipo de sonoridade específica em meio à totalidade de sons presentes no ambiente. A prática do skate envolve uma habilidade de identificar e compreender certas estruturas sonoras: uma escuta atenta e treinada que torna possível usar a sonoridade ambiente para um engajamento/affordance. Mas ela envolve também a produção de um ritmo que se desdobra ao longo das linhas executadas pelos praticantes: um groove, que estou entendendo como uma forma de musicar/ou de engajamento musical. A prática do skate também produz sons: uma sonoridade específica, constitutiva da ambiência sonora de certas localidades - ou da cidade em geral.
A modulação da memória, atenção e sentidos em grupos de estimulação cognitiva para pessoas com a Doença de Alzheimer
Autoria: Bárbara Rossin
Autoria: As experiências classificadas pela biomedicina como "doença", "distúrbio" e "deficiência" parecem estar assentadas sobre um paradoxo (SACKS, 1995). Ao mesmo tempo em que comunicam a devastação ou alteração de determinado registro de existência, elas também revelam formas novas e, por vezes, criativas de viver, sentir e perceber o mundo. Nas "doenças neurológicas", como o Alzheimer, isso não é diferente. São muitas as novas possibilidades de reorganizar o corpo-mente-ambiente, de se orientar no tempo, localizar-se no espaço, de imaginar cenários possíveis e de se emaranhar às coisas. Neste artigo, reflito sobre o trabalho de reconstrução e modulação da memória, atenção e sentidos de pessoas diagnosticadas com a Doença de Alzheimer e/ou outras demências em um serviço multiprofissional em saúde. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada nos grupos de estimulação cognitiva do Centro de Referência em Atenção à Saúde do Idoso (CRASI), da Universidade Federal Fluminense (UFF), examino as dinâmicas conduzidas e os agenciamentos produzidos entre pessoas-materiais-ambiente. Procuro investigar como utensílios domésticos, cartões com palavras, músicas, adereços, frutas, flores e temperos agenciam e (co)produzem sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar), memórias, corpos, contextos sintáticos e semânticos. Ao descrever as práticas laborais dos profissionais de saúde e a execução das tarefas, argumento que não apenas os enquadramentos perceptivos que governam os sentidos e a memória estão sendo (re)desenhados, mas a própria ideia de pessoa e os mundos a ela associados.
Sobre as formas de sentir o vento ou ficções criativas: notas sobre relações entre vigilantes, casarões e seres intangíveis em São Luís
Autoria: GABRIELA LAGES GONCALVES
Autoria: : Este ensaio etnográfico tem como ponto de partida minha pesquisa de doutoramento situada no Centro Histórico de São Luís (Maranhão) - cidade intitulada Patrimônio Mundial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura (UNESCO). Desde 2017 tenho me dedicado a pensar relações sociais entre os casarões históricos e agências espirituais diversamente nomeadas pelas pessoas (espíritos, fantasmas, assombrações, visagens). Com base em pesquisa etnográfica junto aos profissionais da vigilância, pude ter acesso a experiências cotidianas que se manifestam de diferentes formas - vozes, aparições, cheiros, temperaturas, entre outras formas de afetação. Neste ensaio, reflito sobre uma sutil forma de manifestação das visagens, os ventos que costumeiramente agem sobre espaços, objetos e pessoas. A proposta do texto é um exercício de desnaturalização de um fenômeno tido como natural, porém num contexto recheado de particularidades que fazem dos ventos "ficções criativas" no Centro Histórico em São Luís.
O corpo encantado: reverberações do chão afro-brasileiro na escola de samba Acadêmicos do Salgueiro
Autoria: Vítor Gonçalves Pimenta
Autoria: Neste trabalho, evoco o "corpo encantado" da minha vivência corporal e dos demais componentes da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, na tentativa de descrever essa experiência coletiva via "corpo comunitário". Assim, narro o chão afro-brasileiro da escola de samba em performance no dia oficial do desfile. A escola de samba, tradicionalmente, localiza-se no Morro do Salgueiro, mais precisamente, em termos geográficos, na Serra da Carioca, maciço da Tijuca, também chamada de Morro do Mirante. O acesso principal ao morro é pela Rua General Roca, que se inicia na famosa Praça Saens Peña, coração do bairro tijucano, localizado na Zona Norte carioca. Desde a sua origem, a comunidade do Morro do Salgueiro destaca-se por ser uma fonte irradiadora de tradições culturais de origem africana. Umas das tradições que marcam a história do Morro do Salgueiro é a escola de samba. O Salgueiro como escola de samba caracteriza-se por ter um "chão forte", ou seja, uma comunidade formada por um grande grupo de corpos, que se subdivide nas diversas alas que compõem a agremiação, sendo responsável pelo seu assentamento. A comunidade da escola de samba é formada pela ala das baianas, a ala da Velha Guarda, os casais de mestre-sala e porta-bandeira, a ala dos/as passistas, a ala da bateria, ala dos compositores, as alas que contam o enredo da escola, os/as componentes das alegorias, e a equipe do carro de som, composta por instrumentistas, intérpretes e os/as diretores/as de harmonia. O objetivo é evocar os movimentos do corpo encantado em conexão com os corpos da comunidade que fazem o carnaval na sua dimensão performática, refletindo sobre as potencialidades e os encantamentos do corpo. E, ainda, reverberar as potências perceptivas do "corpo encantado" conectadas com o "corpo comunitário" no interior de um desfile de escola de samba, na busca de descrever a relação entre os/as componentes e outros/as componentes, componentes e público, e componentes e as "coisas", por meio dos sentidos corporais.
Resonancias generativas: oír, sentir, fluir con las múltiples vidas del bosque nativo a los pies del volcán Villarrica (Chile).
Autoria: Mariana León Villagra
Autoria: ¿Como sentir el bosque nativo? fluir y conectarse con su biodiversidad poniendo foco en el oír como proceso de conocimiento. Es parte del proyecto "Caminar el Bosque", una experiencia piloto con 7 personas (no artistas) que caminaron en el Parque Nacional de Villarrica (Chile) para percibir el bosque. Se creo una metodología etnográfica apuntado a la percepción de los sentidos y propiciar capas de experiencias que se incorporaban corporalmente en la acción en movimiento del "caminar" fluyendo en/con el bosque. Abordamos 3 ejes: 1) la percepción plena, usando baños del bosque; 2) el registro de soundscape y creación de arte sonoro por los/las participantes; y por medio del proceso creativo-reflexivo desde el oir-estar-fluir, 3) observar la conexión entre las memorias y emociones de que afloraron en los participantes con la concepción del bosque nativo que dichas experiencias generaron, apuntado a otro modo de entender los aspectos de la biodiversidad, como una vivencia incorporada para, desde ahí, la valoración de las diversas vidas y agentes humanos y no humanos que en el habitan. Esta ponencia compartirá la experiencia y método, como a sus principales reflexiones: que las personas fueron capaces comprender el oír y la escucha como elementos vitales de su concepción de mundo y su forma de actuar en el; a la vez, como aspectos de salud y regeneración que a todos nos suscito el estar en esa conexión con los sonidos la "naturaleza" del bosque y sus agentes. Por ultimo, habiéndose realizado en un territorio mapuche, marcado con un volcán "Rukapillan" en el centro de este Parque Nacional, siendo un espíritu protector importante en la cosmología mapuche, se hace interesante como las mismas personas participantes (mapuches y no mapuches) a traves de este método llegaron a una conexión con esa totalidad y sabiduría del bosque que denominaron "Nguzuam Tañi Mawiza" o reflexionar de la montaña, como una esencia que trasciende lo humano y refiere a la vida misma del bosque y naturaleza.
Cultura material e percepções: a experiência sensorial com os vestígios arqueológicos da Casa da Torre e do Galeão Sacramento, Bahia
Autoria: Leandro Vieira da Silva
Autoria: Ao contrário de outras disciplinas que incorporaram os aspectos sensoriais em suas investigações, a Arqueologia até o presente momento ainda não explorou toda a potencialidade dessa linha de pensamento. Do pouco que se têm na Arqueologia, os estudos concentram-se principalmente em duas áreas: a arqueologia da paisagem e, de forma secundária, a arqueologia dos tecidos. Nos dois campos predominam em absoluto a visão e o tato, deixando o cheiro, o som e o paladar praticamente inexplorados. Dessa maneira, apresentamos neste trabalho um relato de nossa experiência durante a pesquisa de doutorado, no qual foram analisados os vestígios arqueológicos associados ao domínio das práticas alimentares da Casa da Torre de Garcia D"Àvila, cuja fundação remonta o ano de 1551, localizado no município de Mata de São João e do Galeão Santíssimo Sacramento, afundado em 1668 no litoral de Salvador, ambos situados no Estado da Bahia. Nesta explanação, buscamos demonstrar experiências ligadas ao tato, à visão, à audição, ao olfato e ao paladar durante a pesquisa de doutoramento e como esses sentidos esclareceram ou complexificaram as análises. As categorias de vestígios que serão apresentados neste trabalho são vidros, porcelanas chinesas e faianças portuguesas. E além dessa cultura material, também serão abordados os relatos históricos sobre o consumo de carne de baleia e como ela se inseriu nas questões ligadas às percepções do tempo passado e aos julgamentos de valor no tempo presente.
Aprendendo a ler o mundo: educação da atenção e percepção parapsíquica do ambiente
Autoria: Gustavo Ruiz Chiesa
Autoria: "O parapsiquismo aumenta a condição de entendimento do mundo", me disse um dos membros fundadores da ECTOLAB: Associação Internacional de Pesquisa Laboratorial em Ectoplasmia e Paracirurgia, uma instituição de pesquisa sem fins lucrativos, localizada em Foz do Iguaçu e formada por médicos, psicólogos, engenheiros, biólogos, neurocientistas interessados em aprofundar suas reflexões e experimentações em torno das ideias de saúde, cura, bem-estar e equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual, cujo foco encontra-se na tentativa de compreender, mensurar e identificar o "ectoplasma" e os efeitos que tal substância provoca nos organismos vivos e no ambiente. Tal "substância", "fluido", "energia", "coisa", "semi-material" ou "material-espiritual" seria encontrada em todos os seres vivos e supostamente possibilitaria o aumento das percepções parapsíquicas do ambiente na medida em que seria ela quem favoreceria a conexão ou mediação entre os planos material e espiritual. Nesse sentido, na visão desses pesquisadores, a percepção parapsíquica, potencializada por essa substância fluídica, possibilitaria uma leitura adequada do mundo justamente porque permitiria ver aquilo que ninguém vê ou ver além do que normalmente se vê. No entanto, acrescentam eles, "é preciso saber ver sem se perder", o que implica num processo de educação da atenção parapsíquica. Devemos estar atentos, nos deixar levar e nos afetar por tudo aquilo que nos envolve, mas com a habilidade para não perder o controle, a lucidez e o discernimento nesse envolvimento. Em outras palavras, devemos seguir o fluxo de percepções e afecções com a atenção dividida - ou seja, estar atento ao corpo e com o corpo - e a concentração necessária para interromper o fluxo e estabilizá-lo quando for preciso. Tais conselhos poderiam ser facilmente indicados a qualquer antropólogo que desejasse iniciar seu trabalho de campo, especialmente para aqueles que procuram fazer da participação total o seu método primordial de investigação etnográfica. Tal foi minha intenção na pesquisa que realizei junto a esse grupo de pessoas interessadas em investigar uma série de fenômenos difíceis de serem compreendidos pelo simples uso da razão. Procurei, desse modo, compreender e ser afetado por uma experiência e uma visão de mundo em que saber e sentir são percebidos como partes de uma única e indivisível totalidade. Inspirado em grande medida em um conjunto de ideias e formulações bastante caras à chamada "virada experiencial" na Antropologia, procurei não só participar intensamente de suas atividades, mas também sentir ou experimentar na própria pele certos fenômenos que, apesar de invisíveis, eram perfeitamente percebidos ou sentidos por todos aqueles que estivessem dispostos a ver um pouco mais, ou a ver além do que se vê.
Gravidez de bicho: misturas indesejáveis em Santarém Novo, PA
Autoria: Natália Abdul Khalek Mendonça
Autoria: Traço, nesta etnografia, comparações entre os sentidos do sangue menstrual e do igarapé em narrativas de moradores de Santarém Novo (PA), àqueles que aparecem em etnografias com povos indígenas e ribeirinhos amazônicos, e propõe um exercício de pensamento perspectivista. A figura da Mãe do Rio, que é ou mora no "olho" do igarapé, diferencia-se em corpos variáveis de animais (cobra, peixe, sapo), percebida como um "dono". O contato entre sangue da mulher e sêmen da cobra ou peixe pode gerar uma gravidez de bicho, com futuro incerto. Pajés e benzedeiras, alguns em parentesco com os "seres do fundo", parteiras, com seu conhecimento quanto ao fechar e abrir o corpo, assim como mulheres em suas práticas de cuidado durante a menstruação, compõe as relações com bichos. A produção e alterações de gente ou bicho dependerá do manejo de fluidos corporais, do resguardo enquanto técnica de distanciamento, e está imbrincada à manutenção da vida dos igarapés e à saúde porvir das mulheres. Palavras chave: sangue menstrual, igarapé, gravidez de bicho, Santarém Novo, perspectivismo amazônico
Sonoridades, escutas e aprendizados com o uso de podcasts em sala de aula
Autoria: Anita Ferrari Pereira da Silva, Daniela Tonelli Manica, Soraya Fleischer
Autoria: Nesta apresentação, serão analisadas as possibilidades sonoras de um programa de podcast científico, o Mundaréu, para o aprendizado de Antropologia em sala de aula. Ao ouvir um podcast, instigamos o ouvido e a escuta, por isso, as características dos sons, das falas, dos silêncios e das músicas são muito importantes. Discutiremos algumas das percepções dos estudantes sobre esses sons e sua influência nos seus processos de aprendizado. Reunimos um conjunto de dados durante o primeiro semestre de 2020, com a participação de integrantes do Mundaréu em aulas de 14 disciplinas ofertadas na Universidade de Brasília (UnB). O experimento gerou um extenso formulário com 122 respostas de estudantes e uma avaliação do experimento com 35 respostas, além de uma avaliação específica, produzida por uma das professoras em sua disciplina. Daremos enfoque às questões perceptivas evocadas pelos estudantes em relação à mídia sonora, às suas experiências de escuta, e às oportunidades que o podcast oferece para entender mais "de perto", isto é, com mais intimidade, histórias e experiências.
Corpo-espaço: entre surdos e ouvintes, fragmentos de espaço e percepções de mundo
Autoria: Cibele Barbalho Assensio
Autoria: Este trabalho é uma reflexão sobre relações corpo-espaço solidárias a modos de perceber e de se relacionar com o mundo através de comunicação na modalidade gestual-visual atribuída geralmente a pessoas surdas. O sentido da visão, formas de se valer das mãos, expressões faciais e corporais estão no escopo desta proposta, bem como as espacialidades que nelas se criam e delas derivam. De que modo se desenha a relação corpo-espaço entre pessoas surdas e entre pessoas surdas e não-surdas para que a comunicação gestual-visual seja utilizada no lugar da comunicação oral-auditiva? Que percepções são notadas e encadeadas por essa relação corpo-espaço? Proponho a presente discussão a partir de dois eixos: i) aspectos de historicidade relativos à comunicação gestual-visual, envolvendo reflexões sobre processos de disciplinarização e institucionalização de pessoas surdas ii) análise da corporificação de gestualidades e visualidades relativas à Língua Brasileira de Sinais (Libras). Para tal debate, utilizo-me do mapeamento de bibliografia interdisciplinar e das ciências sociais, bem como discuto experiências anteriores de aprendizado, ensino e pesquisa que obtive, por meio do qual discuto a intercorporalidade própria da comunicação em questão e, ainda, questiono certos dualismos corpo/mente e corpo/sociedade, bastante recorrentes quando se trata do tema deficiência.
O saber agroflorestal: aprendizado através da atenção
Autoria: Tatiana Porto de Souza
Autoria: Em busca de desenvolvimento, os impactos ambientais e sociais estão cada vez mais presentes. Na agricultura não é diferente, a grande produção agrícola acarretou desigualdades no campo, com contaminação e concentrações de terras, com plantios de monocultura, não priorizando a produção de alimento, mas com o objetivo de reprodução do próprio capital, além de provocar grandes impactos diante dos saberes tradicionais em comunidades agrícolas. Com isso, alguns agricultores familiares, não estiveram dispostos em abdicar de seus saberes e desenvolverem a absorção das novas tecnologias em seus territórios. A terra tem diferentes significados, dependendo do grupo social que a detém ou pretende ter. Os grupos mais envolvidos nas dinâmicas dos territórios, em muitos casos veem como uma extensão de seus mundos, enquanto que outros, veem a terra como uma oportunidade de mercado. Nesse sentido, a educação ambiental se mostra como uma ferramenta para diminuir esses abismos sociais e ambientais, que, em outra perspectiva, a complexidade do significado da natureza, se difere diante de diferentes contextos, tendo valores distintos. Assim, o conhecimento, e consequentemente a prática ambiental, não é transmitido, a educação é originada pela atenção. Além disso, as agroflorestas, vistas como um novo paradigma na agricultura, consistem no cultivo de espécies agrícolas e pecuária juntamente com áreas de florestas, desenvolvendo um sistema autônomo. No âmbito social, proporcionam novas formas de relações, sejam com humanos ou não humanos, com incremento de formas de reprodução social, propiciando inclusão social e valorização do agricultor e do ambiente. Com base nessa discussão, esse texto busca apresentar uma reflexão sobre a construção dos saberes agroflorestais, estimulada pelos alicerces da educação ambiental e baseada na educação pela atenção. O saber agroflorestal, intimamente ligado à educação ambiental é um processo que envolve mudanças culturais de existência, refletindo sobre seus propósitos existenciais a partir de seu modo de ser e estar no mundo como um processo educador. As técnicas aprendidas e compreendidas nesse ambiente de policultivo, a partir das mudanças no meio físico e das relações existentes, implicam nesse modo de habitar o mundo na ruralidade. Nesse sentido, o saber agroflorestal pode ser o que está de mais íntimo nessa relação cultura e natureza, pois é baseada no sentir e transformar e ser transformado pelo outro, como uma gama de experiências e informações existentes no ambiente e interconectadas, cada um com suas vivências e individualidades. Assim, as agroflorestas se constituem como importantes meios de educação pela atenção, estimulando a educação ambiental, principalmente por seus componentes físicos, biológicos, socias e ambientais.