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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT45: Gênero, sexualidade e subjetividade em contextos transnacionais

Vinícius Zanoli, Guilherme Passamani

Este simpósio discutirá gênero, sexualidade e interseccionalidade nos fluxos transnacionais. Compreendendo fluxos globais de modo amplo, nos referimos à circulação de pessoas, objetos, ideias, símbolos e capital. No primeiro eixo, Política, Gênero, Sexualidade e Globalização, a proposta é debater temas como política, gênero, sexualidade e globalização, principalmente aqueles de enfoque interseccional. A proposta é debater sobre ativismos nas suas diversas facetas e relações com gênero e sexualidade, tanto em esfera nacional quanto transnacional, particularmente, pesquisas com enfoque em como distintos eixos de diferenciação se relacionam na constituição de sujeitos políticos, bem como análises sobre a constituição de redes locais, nacionais e transnacionais de advocacy, trajetórias ativistas e relações entre distintas formas de ativismo. No segundo eixo, Mobilidade, Desejo, Gênero e Sexualidade, a proposta é debater temas como desejo, erotismo, migrações e mobilidades, especialmente a dimensão transnacional desses processos em intersecção com gênero se sexualidade. É de particular interesse pesquisas com enfoque nos mercados transnacionais do sexo, nas economias sexuais transnacionais e na indústria sexual daí advinda. Nos interessa pensar as redes que se estabelecem, nesse campo, a partir das questões que atravessam os processos de subjetivação, interseccionando gênero, sexualidade, afetos e trocas econômicas em contextos transacionais.

Palavras chave: Gênero e Sexualidade; Fluxos Transnacionais; Deslocamentos
Resumos submetidos
Um "corpo realidade como arma": Ocupação, resistência e a corpolítica transvestigênere de Indianarae Siqueira e da CasaNem
Autoria: Fabricio Campos Longo da Silva
Autoria: Este trabalho é produto da minha dissertação de mestrado, que investigou a relação entre o ativismo de Indianarae Siqueira e a experiência de formação política vivida pelas pessoas acolhidas na CasaNem, um abrigo para pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social que é o mais importante legado delu. A casa é uma das múltiplas causas que motivam Indianarae, que passam pela moradia, acesso à saúde, assistência jurídica e psicológica, emprego, direitos trabalhistas e sexuais e direitos dos animais, além do reconhecimento das identidades não-binárias. Nesse sentido, seu ativismo está mais ligado a um pluralismo queer marginalizado e anticapitalista do que à agenda assimilacionista do movimento LGBT tradicionalmente estabelecido no ocidente. Entretanto, esses 30 anos de luta estão marcados em seu corpo e o tempo apresenta o desafio de planejar uma "aposentaria" da militância que possibilite a continuidade de seus projetos através do trabalho de outras pessoas. Assim, a pesquisa buscou iluminar a construção de seu capital político enquanto liderança no movimento social e a possibilidade de transferência desse capital para outros ativistas e/ou projetos, e também o impacto de suas realizações. A produção de dados se deu através da minha participação em reuniões e eventos políticos, tanto presenciais quanto online, com as análises complementadas por entrevistas e pelas interações em grupos de comunicação virtual. Através da ocupação de imóveis e de "protestos performance" que colocam a materialidade de seu corpo transvestigênere como argumento, Indianarae está finalmente colhendo os frutos de seu trabalho e testemunhando a mudança de leis e políticas públicas para a população LGBTQIA+.
Eu travesti de nós sobre nós: Produção de narrativas de humanidades de travestis em Fortaleza, um recorte do caso Dandara no jornal O Povo
Autoria: Dediane Souza
Autoria: Partindo das minhas experiências enquanto sujeita travesti e das vivências no ativismo em defesa dos Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), bem como motivada pela possibilidade de articulação de pensamentos, debates e embates emergentes, proponho, nesta pesquisa, levantar as seguintes reflexões: quais as narrativas produzidas pelos veículos de comunicação sobre o assassinato de Dandara? Quais as repercussões do caso Dandara na centralidade do debate sobre assassinatos de travestis e quais as categorias antropológicas, sociológicas e filosóficas atravessam o contexto de violência vivenciada pelas travestis no Brasil? A metodologia seguirá, dentre outras, a seguinte fase: a leitura bibliográfica de autores que dialogam com a centralidade do tema da pesquisa, levando em consideração autoras travestis e negras, feministas negras. O "Eu travesti: de nós sobre nós" é uma proposta de escrita inspirada no exercício de uma construção textual em primeira pessoa articulada com trajetórias coletivas de vidas das travestis, pensando numa construção identitária e permeada pelo ativismo. O caso Dandara exemplifica a luta pela vida das travestis e as violências a que estão sujeitas. Tendo por objetivo analisar as categorias êmicas e éticas apresentadas nas narrativas humanidades produzidas e veiculadas no jornal O Povo e seus desdobramentos das notícias do assassinato de Dandara em Fortaleza no ano de 2017.
Prazeres digitais: uma breve introdução à plataformização do trabalho sexual
Autoria: Marcelo Chaves Soares
Autoria: O senso comum costuma qualificar a prostituição como o trabalho mais antigo do mundo, ela ultrapassou séculos e sua prática ganhou nova roupagem a cada transformação que a sociedade passava. O advento da internet, possibilitou a circulação de informações e a comunicação de pessoas de modo acelerado. Com isso, o avanço da Web 2.0 trouxe nova roupagem às relações sociais, produzindo novas subjetividades e sociabilidades, além de ressignificar as diversas formas de trabalho, incluindo o trabalho sexual. Para além da busca de prazer na internet por meio do pornô tradicional, a plataformização criou um novo comércio sexual, que se traduz em proletários sexuais virtuais. Assim considerando, o presente trabalho discute o impacto da plataformização no trabalho sexual, a partir da narrativa de uma garota de programa. Para tanto, apontaremos, historicamente, as principais transformações no trabalho sexual na sociedade e a consolidação das plataformas digitais como infraestruturas. Movimenta-se os estudos de plataformização de Poell, Nieborg e Dijck (2020). Quanto à metodologia, o trabalho adquire caráter qualitativo com técnica de coleta de dados por meio de revisão de literatura e entrevista semi-estruturada. Observa-se como resultados que as plataformas têm ressignificado a maneira como as pessoas buscam prazer, do mesmo modo que exploram essas trabalhadoras (es), enquanto elas compreendem a plataforma como uma forma de libertação das produtoras de filmes pornograficos é independência financeira.
Refletindo transvestigeneridades negres-natives no cis-tema patriarcal capitalista supremacista branco imperialista
Autoria: ewa nïara
Autoria: O trabalho se propõe a refletir questões interseccionais em posição de diálogo e crítica às teorias e conceitos sobre as relações entre marginalização dentro das estratificações sociais de raça, gênero e classe, e pretende investigar dimensões simbólicas de identidade, performance e política, com enfoque em corpas transvestisgêneres negres-natives na atualidade. Subsequentemente, perceber de que formas estas categorias se articulam politicamente para defender seus interesses, projetos e acesso às políticas públicas, partindo amplamente de metodologias qualitativas. Apresentando percepções acerca da operacionalização da burocracia enquanto arma do genocídio de populações marginalizadas socialmente. As tecnologias criadas dentro das estratificações de gênero, raça e classe são ficções políticas encarnadas, que tomam uma posição de naturalidade através de dispositivos de controle do conhecimento e narrativa. Tais tecnologias são perpetuadas por diferentes aparatos de regulação engendrados em nossas culturas, bem como ensinada diariamente pelas mídias que nos cercam. O desenvolvimento capitalista e o avanço tecnológico exponencial trazem mudanças rápidas, cada uma com suas implementações como também suas profundas falhas éticas, que impactam diretamente na nossa forma de nos entendermos enquanto pessoas. Assim, com o passar dos anos vamos transicionando cada segundo mais de seres reais — de matéria e espírito — para seres virtuais, com definições e atributos ainda em questionamento. A pesquisa é principalmente de abordagem qualitativa, se atendo na relevância da análise bibliográfica. Metodologicamente, o trabalho se dá pela fundamentação teórica e discussão com autores. Estabelecendo os conceitos já existentes academicamente em relação ao recorte temático a fim de propor um embasamento conceitual de profundidade histórica necessário para se tratar temáticas que vêm sendo debatidas há décadas, tanto academicamente quanto socialmente, relacionando com momentos mais atuais. Ainda se nota uma lacuna tratando a relação entre transgeneridade e negritude partindo de pensadoras que fazem parte dessas interseccionalidades, o que coloca em evidência um histórico de violência e marginalização. Sugiro então que este trabalho venha encorpar uma epistemologia travesti preta, pois urge transnegrecer o meio acadêmico.
Prazeres digitais: uma breve introdução à plataformização do trabalho sexual
Autoria: Marcelo Chaves Soares
Autoria: O senso comum costuma qualificar a prostituição como o trabalho mais antigo do mundo, ela ultrapassou séculos e sua prática ganhou nova roupagem a cada transformação que a sociedade passava. O advento da internet, possibilitou a circulação de informações e a comunicação de pessoas de modo acelerado. Com isso, o avanço da Web 2.0 trouxe nova roupagem às relações sociais, produzindo novas subjetividades e sociabilidades, além de ressignificar as diversas formas de trabalho, incluindo o trabalho sexual. Para além da busca de prazer na internet por meio do pornô tradicional, a plataformização criou um novo comércio sexual, que se traduz em proletários sexuais virtuais. Assim considerando, o presente trabalho discute o impacto da plataformização no trabalho sexual, a partir da narrativa de uma garota de programa. Para tanto, apontaremos, historicamente, as principais transformações no trabalho sexual na sociedade e a consolidação das plataformas digitais como infraestruturas. Movimenta-se os estudos de plataformização de Poell, Nieborg e Dijck (2020). Quanto à metodologia, o trabalho adquire caráter qualitativo com técnica de coleta de dados por meio de revisão de literatura e entrevista semi-estruturada. Observa-se como resultados que as plataformas têm ressignificado a maneira como as pessoas buscam prazer, do mesmo modo que exploram essas trabalhadoras (es), enquanto elas compreendem a plataforma como uma forma de libertação das produtoras de filmes pornograficos é independência financeira.
Do norte do Equador?: a recepção da categoria "bissexual" no Brasil
Autoria: Inácio dos Santos Saldanha
Autoria: Nos discursos políticos e científicos sobre a sexualidade, a bissexualidade ainda é um ponto que recebe pouca atenção e aprofundamento. Os processos históricos de trânsito e incorporação dessa categoria associada à fluidez e à indefinição, especialmente, ainda uma bibliografia nesse sentido tenha sido acumulada sobre a homossexualidade, principalmente na antropologia. Este estudo tem como objetivo analisar o processo de emergência da categoria "bissexual" nesse campo no Brasil durante a crise da Aids, momento em que a bissexualidade assumiu um lugar de destaque no debate público. Analiso, para isso, a literatura antropológica sobre sexualidade e HIV/Aids das décadas de 1980 e 90. Essa literatura se expandia para a grande imprensa, pesquisas sociodemográficas e movimentos sociais, apontando para uma "exterioridade" da categoria "bissexual" no país, mas negociando seu uso com a imprensa e o campo científico internacional. Concluo que o trânsito da categoria para dentro e por dentro do Brasil seguia tendências múltiplas conforme eixos como região, classe e escolaridade revelados pela mesma literatura.
Damas de espadas: travestis em assembleias reinvindicam a defesa de direitos humanos
Autoria: Amadeu Cardoso do Nascimento
Autoria: Esta pesquisa consiste em uma etnografia informada pela perspectiva transfeminista que procura compreender as alianças, resistências e ativismos de travestis na busca pela garantia de seus direitos sociais, civis e políticos. O universo estudado é a cidade de Fortaleza, CE, especificamente os espaços de alianças nos quais as travestis resistem e atuam. O trabalho se debruça tanto sobre as trajetórias de vida de ativistas como Janaína Dutra, Thina Rodrigues, Andrea Rossati e Dediane Souza e de suas herdeiras, quanto sobre a descrição de atos políticos diversos que perfazem os movimentos sociais dos quais fazem ou fizeram parte. Tendo por inspiração fundamental as obras Nascimento (2021), Jesus (2019) Oliveira (2018) e aportes teóricos como a teoria queer de Butler (2019, 2020, 2021), além dos estudos decoloniais e pós-coloniais, recorre-se à análise de documentos, à observação participante e às entrevistas de tal forma a promover uma descrição da constituição e da configuração presente do movimento no estado.
Do norte do Equador?: a recepção da categoria "bissexual" no Brasil
Autoria: Inácio dos Santos Saldanha
Autoria: Nos discursos políticos e científicos sobre a sexualidade, a bissexualidade ainda é um ponto que recebe pouca atenção e aprofundamento. Os processos históricos de trânsito e incorporação dessa categoria associada à fluidez e à indefinição, especialmente, ainda uma bibliografia nesse sentido tenha sido acumulada sobre a homossexualidade, principalmente na antropologia. Este estudo tem como objetivo analisar o processo de emergência da categoria "bissexual" nesse campo no Brasil durante a crise da Aids, momento em que a bissexualidade assumiu um lugar de destaque no debate público. Analiso, para isso, a literatura antropológica sobre sexualidade e HIV/Aids das décadas de 1980 e 90. Essa literatura se expandia para a grande imprensa, pesquisas sociodemográficas e movimentos sociais, apontando para uma "exterioridade" da categoria "bissexual" no país, mas negociando seu uso com a imprensa e o campo científico internacional. Concluo que o trânsito da categoria para dentro e por dentro do Brasil seguia tendências múltiplas conforme eixos como região, classe e escolaridade revelados pela mesma literatura.
Eu travesti de nós sobre nós: Produção de narrativas de humanidades de travestis em Fortaleza, um recorte do caso Dandara no jornal O Povo
Autoria: Dediane Souza
Autoria: Partindo das minhas experiências enquanto sujeita travesti e das vivências no ativismo em defesa dos Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), bem como motivada pela possibilidade de articulação de pensamentos, debates e embates emergentes, proponho, nesta pesquisa, levantar as seguintes reflexões: quais as narrativas produzidas pelos veículos de comunicação sobre o assassinato de Dandara? Quais as repercussões do caso Dandara na centralidade do debate sobre assassinatos de travestis e quais as categorias antropológicas, sociológicas e filosóficas atravessam o contexto de violência vivenciada pelas travestis no Brasil? A metodologia seguirá, dentre outras, a seguinte fase: a leitura bibliográfica de autores que dialogam com a centralidade do tema da pesquisa, levando em consideração autoras travestis e negras, feministas negras. O "Eu travesti: de nós sobre nós" é uma proposta de escrita inspirada no exercício de uma construção textual em primeira pessoa articulada com trajetórias coletivas de vidas das travestis, pensando numa construção identitária e permeada pelo ativismo. O caso Dandara exemplifica a luta pela vida das travestis e as violências a que estão sujeitas. Tendo por objetivo analisar as categorias êmicas e éticas apresentadas nas narrativas humanidades produzidas e veiculadas no jornal O Povo e seus desdobramentos das notícias do assassinato de Dandara em Fortaleza no ano de 2017.
Damas de espadas: travestis em assembleias reinvindicam a defesa de direitos humanos
Autoria: Amadeu Cardoso do Nascimento
Autoria: Esta pesquisa consiste em uma etnografia informada pela perspectiva transfeminista que procura compreender as alianças, resistências e ativismos de travestis na busca pela garantia de seus direitos sociais, civis e políticos. O universo estudado é a cidade de Fortaleza, CE, especificamente os espaços de alianças nos quais as travestis resistem e atuam. O trabalho se debruça tanto sobre as trajetórias de vida de ativistas como Janaína Dutra, Thina Rodrigues, Andrea Rossati e Dediane Souza e de suas herdeiras, quanto sobre a descrição de atos políticos diversos que perfazem os movimentos sociais dos quais fazem ou fizeram parte. Tendo por inspiração fundamental as obras Nascimento (2021), Jesus (2019) Oliveira (2018) e aportes teóricos como a teoria queer de Butler (2019, 2020, 2021), além dos estudos decoloniais e pós-coloniais, recorre-se à análise de documentos, à observação participante e às entrevistas de tal forma a promover uma descrição da constituição e da configuração presente do movimento no estado.
Refletindo transvestigeneridades negres-natives no cis-tema patriarcal capitalista supremacista branco imperialista
Autoria: ewa nïara
Autoria: O trabalho se propõe a refletir questões interseccionais em posição de diálogo e crítica às teorias e conceitos sobre as relações entre marginalização dentro das estratificações sociais de raça, gênero e classe, e pretende investigar dimensões simbólicas de identidade, performance e política, com enfoque em corpas transvestisgêneres negres-natives na atualidade. Subsequentemente, perceber de que formas estas categorias se articulam politicamente para defender seus interesses, projetos e acesso às políticas públicas, partindo amplamente de metodologias qualitativas. Apresentando percepções acerca da operacionalização da burocracia enquanto arma do genocídio de populações marginalizadas socialmente. As tecnologias criadas dentro das estratificações de gênero, raça e classe são ficções políticas encarnadas, que tomam uma posição de naturalidade através de dispositivos de controle do conhecimento e narrativa. Tais tecnologias são perpetuadas por diferentes aparatos de regulação engendrados em nossas culturas, bem como ensinada diariamente pelas mídias que nos cercam. O desenvolvimento capitalista e o avanço tecnológico exponencial trazem mudanças rápidas, cada uma com suas implementações como também suas profundas falhas éticas, que impactam diretamente na nossa forma de nos entendermos enquanto pessoas. Assim, com o passar dos anos vamos transicionando cada segundo mais de seres reais — de matéria e espírito — para seres virtuais, com definições e atributos ainda em questionamento. A pesquisa é principalmente de abordagem qualitativa, se atendo na relevância da análise bibliográfica. Metodologicamente, o trabalho se dá pela fundamentação teórica e discussão com autores. Estabelecendo os conceitos já existentes academicamente em relação ao recorte temático a fim de propor um embasamento conceitual de profundidade histórica necessário para se tratar temáticas que vêm sendo debatidas há décadas, tanto academicamente quanto socialmente, relacionando com momentos mais atuais. Ainda se nota uma lacuna tratando a relação entre transgeneridade e negritude partindo de pensadoras que fazem parte dessas interseccionalidades, o que coloca em evidência um histórico de violência e marginalização. Sugiro então que este trabalho venha encorpar uma epistemologia travesti preta, pois urge transnegrecer o meio acadêmico.
NEGOCIANDO A SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE: estratégias tecnológicas e biotecnológicas
Autoria: Amanda Raquel da Silva
Autoria: Essa pesquisa, que está em andamento, objetiva compreender diferentes dimensões da vivência da sexualidade na velhice. Se propõe a entender os efeitos das práticas discursivas sobre corpo, sexualidade e envelhecimento na vida de homens e mulheres de mais de 60 anos de idade, moradores de Natal e algumas cidades vizinhas. Além dos efeitos de diversos discursos (biomédicos, midiáticos, familiares, farmacêuticos etc.) a pesquisa se propõe a investigar etnograficamente como a sexualidade desses sujeitos está mediada pelo uso de mecanismos tecnológicos e biotecnológicos como smartphones, redes sociais e aplicativos de paquera; assim como pelo consumo de fármacos e outros procedimentos que auxiliam no desempenho sexual e indaga, ainda, pelas negociações para os usos desses mecanismos. Aqui, se privilegia uma perspectiva biográfica que permita, a partir da narração de cada uma das pessoas que participam na pesquisa, identificar o papel que desempenha a sexualidade na sua vida e os vínculos que ela tem com outros aspectos, com destaque para a classe, a raça e o gênero. Na vida cotidiana das pessoas enquadradas ou auto reconhecidas como idosas temos visto que frequentemente elas também enfrentam visões e discursos aparentemente contraditórios e que cada uma os recebe, significa e traduz com as ferramentas concretas que têm à mão. Vemos atualmente mais pessoas dispostas a aderir às práticas e valores de um "envelhecimento ativo". Ou seja, ao invés de se recolherem na solidão, isolamento, depressão, esses sujeitos parecem mais engajados em fazer dessa etapa mais avançada da vida um terreno de múltiplas e distintas possibilidades criativas. Contudo, isso não anula o peso dos estigmas que são associados à velhice, as dificuldades (especialmente das pessoas mais pobres) para se adequar aos padrões de sexualidade, beleza e a estética ou com as normas morais familiares, religiosas e de vizinhança que patologizam o desejo das pessoas mais velhas ou o tornam uma piada. Ainda, aparecem os desafios associados às negociações indiretas com a indústria farmacêutica que insiste na função erétil; com os parceiros sexuais para o uso do preservativo ou de outras formas de proteção de IST"s, com as tecnologias que virtualizaram as paqueras, com os tempos dedicados ao cuidado de si e ao cuidado dos outros, com à cobrança de atividades sexuais para mulheres que querem se livrar dessa obrigatoriedade ou dos homens que tentam que não seja percebido ou nomeado o uso de Viagra, entre outros muitos exemplos de como se manifestam os paradigmas mencionados no dia a dia das pessoas.
Puta, travesti e brasiliana: traduções (im)possíveis nos trânsitos econômico-afetivo-sexuais entre Brasil e Itália
Autoria: tita
Autoria: Neste paper adentro as especificidades da realização do trabalho sexual na cidade de Bolonha (Itália) para propor um debate metodológico sobre as (im)possibilidades de tradução e de discussões transnacionais em termos de trabalho sexual. Se no Brasil minha trajetória acadêmica dialogava com produções sócio-antropológicas sobre prostituição e criminalização de travestis, na Itália me exigem explicações (categóricas) sobre os termos do debate. A partir de uma inserção etnográfica e ativista junto ao MIT - Movimento Identità Trans - primeira organização pelos direitos trans na Itália, fundada em 1988, proponho discutir trânsitos de pessoas, de discursos e agenciamentos interseccionais. A ONG realiza um duplo trabalho de redução de danos junto a profissionais do sexo trans: atuando nas ruas com distribuição de camisinhas (que não são ampla e gratuitamente encontradas na Itália) e com telefonemas junto a profissionais do sexo que trabalham "indoor", oferecendo serviço jurídico e psicológico gratuitos. Também atende a maior demanda. que é por regularização de visto, em sintonia com toda população sex worker na Itália, que é majoritariamente migrante. "Cafetinas", "travestis", "mapô", são termos intraduzíveis com uma única palavra para o italiano. Assim como "sex worker", "zooning", "indoor" - não por acaso termos em inglês, completamente incorporados nos debates italianos - exigem uma contextualização de seu uso para o debate brasileiro. Nesse sentido, pretendo estabelecer pontes entre as diferenças legislativas, ativistas e de políticas públicas - observáveis também na diversa gestão da pandemia - para discutir a realização do trabalho sexual em contextos igualmente não regulamentados. Se uma identidade ou um corpo não é compreendido nos termos em que se propõe ou é filtrado pelo imaginário de outra forma, que efeitos isso produz? O que se perde nesta tradução? Quais agenciamentos de marcadores sociais da diferença são possíveis e atuados por esses corpos? Corpos que atravessam e exigem um reconhecimento, nem que seja uma mínima compreensão de suas existências para que se enquadrem em projetos sociais e políticas públicas locais de acolhimento de migrantes (SABA, 2021). Sugiro que a terminologia desvela justamente enquadramentos (BUTLER, 2015), possibilidades de mundo, de forma que a incompreensão cultural de corpos e categorias identitárias autoafirmadas é frutífera para análise etnográfica e interseccional. Não é somente uma questão de tradução de termos, mas implica um trabalho de descrição, tradução e mediação de mundos como parte fundante da ficção e da escrita etnográfica. E nessa tradução a abordagem interseccional se demonstra prática de análise e intervenção política decolonial.
Puta, travesti e brasiliana: traduções (im)possíveis nos trânsitos econômico-afetivo-sexuais entre Brasil e Itália
Autoria: tita
Autoria: Neste paper adentro as especificidades da realização do trabalho sexual na cidade de Bolonha (Itália) para propor um debate metodológico sobre as (im)possibilidades de tradução e de discussões transnacionais em termos de trabalho sexual. Se no Brasil minha trajetória acadêmica dialogava com produções sócio-antropológicas sobre prostituição e criminalização de travestis, na Itália me exigem explicações (categóricas) sobre os termos do debate. A partir de uma inserção etnográfica e ativista junto ao MIT - Movimento Identità Trans - primeira organização pelos direitos trans na Itália, fundada em 1988, proponho discutir trânsitos de pessoas, de discursos e agenciamentos interseccionais. A ONG realiza um duplo trabalho de redução de danos junto a profissionais do sexo trans: atuando nas ruas com distribuição de camisinhas (que não são ampla e gratuitamente encontradas na Itália) e com telefonemas junto a profissionais do sexo que trabalham "indoor", oferecendo serviço jurídico e psicológico gratuitos. Também atende a maior demanda. que é por regularização de visto, em sintonia com toda população sex worker na Itália, que é majoritariamente migrante. "Cafetinas", "travestis", "mapô", são termos intraduzíveis com uma única palavra para o italiano. Assim como "sex worker", "zooning", "indoor" - não por acaso termos em inglês, completamente incorporados nos debates italianos - exigem uma contextualização de seu uso para o debate brasileiro. Nesse sentido, pretendo estabelecer pontes entre as diferenças legislativas, ativistas e de políticas públicas - observáveis também na diversa gestão da pandemia - para discutir a realização do trabalho sexual em contextos igualmente não regulamentados. Se uma identidade ou um corpo não é compreendido nos termos em que se propõe ou é filtrado pelo imaginário de outra forma, que efeitos isso produz? O que se perde nesta tradução? Quais agenciamentos de marcadores sociais da diferença são possíveis e atuados por esses corpos? Corpos que atravessam e exigem um reconhecimento, nem que seja uma mínima compreensão de suas existências para que se enquadrem em projetos sociais e políticas públicas locais de acolhimento de migrantes (SABA, 2021). Sugiro que a terminologia desvela justamente enquadramentos (BUTLER, 2015), possibilidades de mundo, de forma que a incompreensão cultural de corpos e categorias identitárias autoafirmadas é frutífera para análise etnográfica e interseccional. Não é somente uma questão de tradução de termos, mas implica um trabalho de descrição, tradução e mediação de mundos como parte fundante da ficção e da escrita etnográfica. E nessa tradução a abordagem interseccional se demonstra prática de análise e intervenção política decolonial.
Um "corpo realidade como arma": Ocupação, resistência e a corpolítica transvestigênere de Indianarae Siqueira e da CasaNem
Autoria: Fabricio Campos Longo da Silva
Autoria: Este trabalho é produto da minha dissertação de mestrado, que investigou a relação entre o ativismo de Indianarae Siqueira e a experiência de formação política vivida pelas pessoas acolhidas na CasaNem, um abrigo para pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social que é o mais importante legado delu. A casa é uma das múltiplas causas que motivam Indianarae, que passam pela moradia, acesso à saúde, assistência jurídica e psicológica, emprego, direitos trabalhistas e sexuais e direitos dos animais, além do reconhecimento das identidades não-binárias. Nesse sentido, seu ativismo está mais ligado a um pluralismo queer marginalizado e anticapitalista do que à agenda assimilacionista do movimento LGBT tradicionalmente estabelecido no ocidente. Entretanto, esses 30 anos de luta estão marcados em seu corpo e o tempo apresenta o desafio de planejar uma "aposentaria" da militância que possibilite a continuidade de seus projetos através do trabalho de outras pessoas. Assim, a pesquisa buscou iluminar a construção de seu capital político enquanto liderança no movimento social e a possibilidade de transferência desse capital para outros ativistas e/ou projetos, e também o impacto de suas realizações. A produção de dados se deu através da minha participação em reuniões e eventos políticos, tanto presenciais quanto online, com as análises complementadas por entrevistas e pelas interações em grupos de comunicação virtual. Através da ocupação de imóveis e de "protestos performance" que colocam a materialidade de seu corpo transvestigênere como argumento, Indianarae está finalmente colhendo os frutos de seu trabalho e testemunhando a mudança de leis e políticas públicas para a população LGBTQIA+.
NEGOCIANDO A SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE: estratégias tecnológicas e biotecnológicas
Autoria: Amanda Raquel da Silva
Autoria: Essa pesquisa, que está em andamento, objetiva compreender diferentes dimensões da vivência da sexualidade na velhice. Se propõe a entender os efeitos das práticas discursivas sobre corpo, sexualidade e envelhecimento na vida de homens e mulheres de mais de 60 anos de idade, moradores de Natal e algumas cidades vizinhas. Além dos efeitos de diversos discursos (biomédicos, midiáticos, familiares, farmacêuticos etc.) a pesquisa se propõe a investigar etnograficamente como a sexualidade desses sujeitos está mediada pelo uso de mecanismos tecnológicos e biotecnológicos como smartphones, redes sociais e aplicativos de paquera; assim como pelo consumo de fármacos e outros procedimentos que auxiliam no desempenho sexual e indaga, ainda, pelas negociações para os usos desses mecanismos. Aqui, se privilegia uma perspectiva biográfica que permita, a partir da narração de cada uma das pessoas que participam na pesquisa, identificar o papel que desempenha a sexualidade na sua vida e os vínculos que ela tem com outros aspectos, com destaque para a classe, a raça e o gênero. Na vida cotidiana das pessoas enquadradas ou auto reconhecidas como idosas temos visto que frequentemente elas também enfrentam visões e discursos aparentemente contraditórios e que cada uma os recebe, significa e traduz com as ferramentas concretas que têm à mão. Vemos atualmente mais pessoas dispostas a aderir às práticas e valores de um "envelhecimento ativo". Ou seja, ao invés de se recolherem na solidão, isolamento, depressão, esses sujeitos parecem mais engajados em fazer dessa etapa mais avançada da vida um terreno de múltiplas e distintas possibilidades criativas. Contudo, isso não anula o peso dos estigmas que são associados à velhice, as dificuldades (especialmente das pessoas mais pobres) para se adequar aos padrões de sexualidade, beleza e a estética ou com as normas morais familiares, religiosas e de vizinhança que patologizam o desejo das pessoas mais velhas ou o tornam uma piada. Ainda, aparecem os desafios associados às negociações indiretas com a indústria farmacêutica que insiste na função erétil; com os parceiros sexuais para o uso do preservativo ou de outras formas de proteção de IST"s, com as tecnologias que virtualizaram as paqueras, com os tempos dedicados ao cuidado de si e ao cuidado dos outros, com à cobrança de atividades sexuais para mulheres que querem se livrar dessa obrigatoriedade ou dos homens que tentam que não seja percebido ou nomeado o uso de Viagra, entre outros muitos exemplos de como se manifestam os paradigmas mencionados no dia a dia das pessoas.