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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT78: Visualidades Indígenas

Ana Lúcia Ferraz, Edgar Teodoro da Cunha

Esta proposta retoma a experiência dos GTs Visualidades Indigenas realizados nas RBA"s de 2016 e 2018, visando reunir pesquisas recentes que analisem as produções audiovisuais feitas por povos indígenas ou sobre eles. O escopo das investigações a serem apresentadas deve agregar reflexões sobre as concepções de imagem do ponto de vista das cosmologias de distintos povos indígenas, mas também reflexões sobre a apropriação das técnicas de produção de imagens, analises de processos de socialização da linguagem do cinema e do vídeo por meio de oficinas e seus paradoxos e experiências correlatas. O objetivo das sessões será analisar as novas visualidades que se colocam para dentro e para fora dos grupos indígenas, o protagonismo dos jovens indígenas na produção de discursos audiovisuais a partir de dentro das lógicas culturais; relações entre imagem e xamanismo; circulação de pontos de vista indígena e sua recepção acadêmica, apropriação do audiovisual em processos de transmissão de conhecimento, seus limites e possibilidades. Os temas gerais que serão acolhidos no GT tratam de comunicação intercultural, relações entre imagem e política, questões de autoria, tecnologias nativas do tornar visível, jovens indígenas e apropriação das técnicas do vídeo, transmissão oral e o audiovisual.

Palavras chave: Cinema Indígena; Ponto de vista; Imagens e Política.
Resumos submetidos
"Nossa palavra é bem mais que turística": um sobrevoo pelas narrativas dos vídeos do Coletivo de cinema Mbya-Guarani
Autoria: Karina Lilith Moreira Sanchez
Autoria: Este texto pretende compreender as narrativas dos vídeos do Coletivo de cinema Mbya da aldeia Tekoa Ko"enju, que tem como intenção ressignificar o passado missioneiro, trazendo à tona a performance do cotidiano que implica o Nhande reko (modo de ser guarani). O trabalho busca analisar os discursos, ora pela enfática relação com o passado missioneiro, ora pela transmissão de conhecimentos (por meio da oralidade) que se referem ao Nhande reko. Nesse sentido, uma maneira de compreender a relação entre os guaranis e as missões pode ser delineada pela constituição autoritária e escravocrata do contexto colonial, o qual, todavia, reverbera na atual região das Missões. Segundo Jesus (2015), a maneira como o passado guarani é representado em São Miguel das Missões, por meio dos comportamentos dos turistas, do Movimento Tradicional Gaúcho (MTG) e até mesmo dos moradores do município, denota uma obliteração dos Mbya contemporâneos. Desse modo, a produção do coletivo Mbya-Guarani de cinema/VNA concebe uma inserção que mostra a sua interpretação da história, dialogando com representações não-indígenas e com as diversas apropriações que se fazem da identidade Guarani. A produção é uma maneira de circular informações sobre cosmologia, sobre relações com Estados Nacionais e com sociedade jurua (não-indígena). Esta é desenvolvida pela ONG Vídeo nas Aldeia (Vna) junto ao Coletivo Mbya-Guarani de cinema. Os Coletivos Indígenas são estruturados a partir das oficinas exercidas pela ONG Vídeo nas Aldeia e integrados por criadores indígenas, que recebem da Vna assistência financeira e técnica para as produções audiovisuais.
Imagens da terra - práticas de conhecimento na licenciatura indígena
Autoria: Amilton Pelegrino de Mattos
Autoria: Está apresentação busca refletir e problematizar os regimes de visualidade envolvidos nos processos de escrita das pesquisas de acadêmicos de uma licenciatura indígena. Trata-se da licenciatura indígena da Ufac-Floresta, sediada em Cruzeiro do Sul, Acre, em que venho atuando como docente, com orientação de pesquisas, e pesquisador desde 2008, quando o curso iniciou suas atividades. Pretendo tratar de experiências fílmicas convencionais realizadas em colaboração com os pesquisadores do curso, tais como os filmes O espírito da floresta (2012) e O sonho do nixi pae (2015), bem como o projeto A fala da terra (2017), mas também pensar o audiovisual em outros termos, a partir da relação de coplanaridade com outros regimes de imagem e conhecimento. Desse modo, momento exemplar de coplanaridade entre regimes de conhecimento-imagem a ser considerado nesse processo é a colaboração com o pesquisador Ibã Huni Kuin que se iniciou em 2009 com a realização de vídeo-cantos como forma de escrita para sua pesquisa dos cantos de ayahuasca de seu povo. Nessa experimentação dois regimes de imagens e conhecimento são colocados em relação. Ibã define tais cantos de seu povo como a "língua da jiboia", termo fundamental para que, alguns anos depois, os acadêmicos dessa licenciatura elaborem a noção de "fala da terra", segundo exemplo de coplanaridade que aqui servirá de referência. "Fala da terra" consiste no esforço dos acadêmicos e de suas comunidades em elaborar uma concepção de linguagem baseada em suas práticas de conhecimento visando problematizar, a partir de tal concepção, além do projeto de curso dessa licenciatura indígena e suas práticas de pesquisa acadêmica, a própria concepção moderna de linguagem vigente na instituição. A noção de "fala da terra" tem conduzido nossas experimentações em torno das possibilidades de escrita de tais pesquisas. A partir de então, outras práticas adotadas podem ser consideradas como tecnologias de produção de imagens e corpos sensíveis. Essas tecnologias resultam da combinação de práticas acadêmicas e saberes indígenas, articulando, por meio da pesquisa, entrevistas/encontros, oficinas, filmes, com relações de parentesco, rituais, a ayahuasca e a terra (floresta). Nessa problematização dos regimes de conhecimento e linguagem que se confrontam em uma licenciatura indígena, tem nos interessado, portanto, debater a questão dos diferentes "regimes de terra" e sua articulação com os regime de linguagem, "regimes de terra-linguagem". Com "regimes de terra" me refiro principalmente ao contraste entre os modos como os distintos regimes de conhecimento e de linguagens em jogo nas pesquisas desses acadêmicos, no caso o contraste entre modernos e indígenas, concebem a terra.
Dialogando com Marcelo Tingui: `` O Audiovisual é uma Ferramenta de Resistência e Existência.
Autoria: Marcelo de Campos, Sílvia Aguiar Carneiro Martins
Autoria: Dialogando com Marcelo Tingüi: "...o audiovisual é uma ferramenta de resistência e existência" Marcelo Tingüi e Silvia A. C. Martins No evento realizado dentro da disciplina Práticas de Extensão em Ciências Sociais (https://www.youtube.com/watch?v=ElcjN5cEiqI), Marcelo Tingüi se apresenta como cineasta indígena. O objetivo aqui é dar continuidade a esse diálogo, aprofundando dados da sua experiência de inserção nesse campo de estudo e uso do audiovisual enquanto "ferramenta de luta", "de produção etnográfica" que dá "visibilidade às práticas tradicionais dos povos." Assim, é um espaço aberto para conhecermos melhor sua trajetória contada por ele mesmo, destacando suas realizações, como por exemplo: o Coletivo Tingüi Filmes (https://www.youtube.com/channel/UCDAN8VYTX5ry5vqNqDRG94Q ); a criação da plataforma Narrativas Indígenas do Nordeste (https://narrativasindigenas.ensp.fiocruz.br/quem-somos/ ) que é uma rede audiovisual indígena; suas experiências de expansão de conhecimento do audiovisual através de oficinas realizadas em áreas indígenas (como entre os Mundurucu-AM); filme realizado sobre Maninha Xucuru-Kariri com o cineasta Celso Brandão e historiador Aldemir Barros. É, portanto, um artigo escrito em coautoria, mas que o protagonista principal é o próprio Marcelo Tingüi que nos apresenta sua trajetória e experiência de vida em que o audiovisual é ferramenta fundamental de articulação e expressão política entre povos indígenas.