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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT44: Gênero, geração e saúde: experiências, narrativas e itinerários

Madiana Rodrigues, Mónica Franch

Os processos de saúde, adoecimento e cuidado estão atravessados pelas dimensões de gênero e geração, no que diz respeito aos modos de atenção, estilos de vida, relações de trabalho, políticas e respostas institucionais às ameaças à saúde e ao tipo de adoecimento que acomete as pessoas. No entanto, é raro encontrar análises, e também políticas, que se proponham a compreender a interação existente entre gênero, geração e as dinâmicas de adoecimento e cuidado em diferentes contextos sociais e culturais. No campo das políticas de saúde a incorporação de gênero e geração costuma ocorrer de forma diferenciada. Muitos estados e municípios possuem programas e políticas voltadas à saúde das mulheres (e mais recentemente a saúde dos homens), e à saúde LGBTQIA+, frequentemente como resposta às demandas do movimento feminista e do movimento LGBTQIA+. Embora essa incorporação não seja garantia de boas práticas, trata-se de uma situação que contrasta com a pouca visibilidade que os aspectos geracionais possuem na atenção à saúde, que está muito mais limitada aos extremos da vida (infância e velhice) ou que, no caso específico das mulheres, limita a compreensão do curso da vida aos aspectos reprodutivos. Nesta proposta, partimos de uma abordagem feminista da saúde, que busca articular as dimensões biológica, social e cultural na compreensão dos processos de adoecimento e cuidado, levando em consideração ainda as relações de poder, diversidades regionais e desigualdades neles envolvidas.

Palavras chave: Gênero; Direitos; Políticas Públicas
Resumos submetidos
Mulheres na ciência, a perspectiva das mulheres que constroem uma ciência do Zika na Região Metropolitana de Recife.
Autoria: Mariana Esteves Petruceli
Autoria: A epidemia de Zika trouxe alarde não somente entre moradoras e moradores da principal região afetada, o Nordeste brasileiro, mas também entre médicos, especialistas e o restante do país que temiam uma ameaça global (Diniz, 2016). Após a descoberta da ligação entre os casos de infecção por Zika Vírus (ZV) e o aumento no número de nascimentos de crianças com microcefalia por uma médica pernambucana, ficou claro que o estado de Pernambuco, e mais especificamente a Região Metropolitana de Recife (RMR), configuraram o epicentro da chamada Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV). As mães das crianças afetadas pela SCZV se tornaram agentes importantes para o que chamamos de ciência do Zika, se organizando em busca de atenção midiática, tratamento e diagnóstico médico, ou seja, cuidado para seus filhos. A mobilização também ocorreu por parte dos biocientistas, cientistas especializados nas áreas convocadas para responder à essa crise sanitária como fisioterapeutas, neurologistas, pediatras e terapeutas ocupacionais que se debruçaram na busca por informações sobre o vírus e seus desdobramentos, bem como por um atendimento e assistência efetivos para as famílias afetadas. Entre os anos de 2015 e 2018, havia mais de 90 projetos de pesquisa relacionados ao Zika apenas na Região Metropolitana de Recife (Aissa Simas, 2020). Em 2022, anos após o decreto do fim da emergência sanitária decorrente do Zika Vírus, ao entrevistar especialistas que atuaram nesses projetos, na assistência ou na pesquisa, notamos padrões do que seria uma ciência feita por mulheres. As quebras das barreiras das áreas de conhecimento, a coordenação horizontal de projetos e a interdisciplinaridade é algo narrado por essas especialistas. Como a neuropediatra pernambucana que relatou a emergência sanitária para as autoridades, as mulheres parecem protagonizar mudanças importantes, deixando um legado concreto para a resposta científica em meio a crises sanitárias. Durante as entrevistas foi possível notar também o engajamento — ou falta dele — entre biocientistas em relação ao Covid-19. As motivações, as preocupações e as reformulações no fazer científico são investigados e relatados nesse trabalho que procura destrinchar a ação dessas mulheres na construção das ciências da saúde e, em especial, a ciência do Zika.
A ética do cuidado entre gerações nos Círculos de Mulheres: aproximações empíricas em Salvador e região metropolitana
Autoria: Thainá Soares Ribeiro
Autoria: Pesquiso no Doutorado o movimento denominado como Círculos de Mulheres. Estes Círculos são difíceis de ser definidos, devido seu possível enquadramento em diversos movimentos como Nova Era, Ecofeminismo e Espiritualidades Femininas. Mas, ainda que sem uma definição estanque, podem ser compreendidos como grupos organizados por mulheres e para mulheres, na grande maioria cisgênero, que se encontram em espaços não-institucionais, articulando-se a partir de referências que emergiram na contracultura, bem como as que emergem vinculadas a região do encontro, com bricolagem de religiões e saberes sobre o corpo. Na contramão das perspectivas dominantes em relação aos corpos das mulheres, bem como sobre o sagrado na perspectiva das mulheres, os Círculos buscam uma nova relação com o corpo e com a saúde. Neste trabalho, trago algumas reflexões sobre as minhas percepções inicias no campo - num círculo na cidade de Salvador, outro na região metropolitana, refletindo sobre os agenciamentos do corpo e do cuidado nesses círculos - entre gerações de mulheres, por meio de uma ginecologia denominada autônoma. As participantes dos Círculos de Mulheres apropriam-se de vários "conhecimentos tradicionais" (em tópicos como o uso de ervas para a saúde das mulheres, ciclo menstrual, menopausa etc.) e munem-se da experiência de compartilhar "corpos semelhantes", ou seja, de viver empiricamente todos esses processos. A ideia do que é "ser mulher" é uma questão central - as participantes reivindicam um cuidado com a saúde sexual a partir da perspectiva das mulheres, ou seja, uma busca por autonomia em relação ao conhecimento do próprio corpo. Além disso, a diversidade de concepções sobre o corpo pode não estar ancorada na normatividade do corpo biológico, como algumas percepções do campo me indicaram. A ética do cuidado nesses Círculos se estabelece a partir de performações sobre o feminino, a ideia de útero não apenas como órgão biológico, mas como um espaço de energia feminina que existe no corpo de todos os seres.
Mulher-máquina, Máquina-mulher: reflexões etnográficas sobre os modos de uso dos "corpos" pelas mulheres costureiras em Boa Vista, Roraima.
Autoria: Arancha Micaelle dos Santos Pereira, Madiana Rodrigues
Autoria: Essa reflexão faz parte de pesquisa de mestrado ainda em andamento, cujo objetivo é analisar, a partir da teoria e metodologia da antropologia, como o trabalho e o ofício da costura se interseccionam na vida de mulheres que trabalham em grupos femininos na cidade de Boa Vista, capital de Roraima. O foco empírico são mulheres que são ou já foram pertencentes aos Centros de Produção Comunitária (CPC). Esses espaços estão ligados às políticas governamentais, sobretudo aos setores que englobam o Bem-Estar Social e do Trabalho, nos quais foram cristalizadas em meados dos anos de 1990, no Extremo-Norte do Brasil. Tal demanda se centralizou em dois momentos: pela consolidação de investimentos para indústrias se instalarem no solo regional (OLIVEIRA, 2013) e apenas, em segundo plano, para formar mulheres no mercado de trabalho com atividades que pudessem ser apreendidas no espaço doméstico. Para isso, o investimento nos trabalhos de costurar dessas mulheres estariam nos maquinários - máquina de costura de todos os tipos e usos, mesas e cadeiras, ferros de passar a vapor, armarinhos, entre outros. Em decorrência de mudanças de governos, a falta dos investimentos e ações estatais, os grupos femininos foram se desfazendo ao longo dos anos, e nesse contexto, as máquinas de costura como estratégia para o suprimento de necessidades mais básicas foram vendidas. Mediante o trabalho de campo etnográfico realizado em 2021 nos Centros de Produções Comunitárias ainda existentes, observamos que as máquinas de costura fazem parte da extensão dos usos dos corpos das interlocutoras-costureiras no cotidiano. Assim, nos termos de Donna Haraway (1985) o Ciborgue pode ser uma simbiose entre mulher e máquina. O domínio de conhecimento das mulheres acerca dos artefatos é percebido nos ditos e feitos: é preciso que haja harmonia de ambas as partes para o bom funcionamento, e ainda mais, para um bom trabalho. Nesse cenário laboral, os movimentos repetitivos que fazem com as mãos e os pés em postura sentada e ereta por longas horas, além do esforço da visão são motivos de adoecimento do corpo das mulheres na faixa etária dos sessenta anos, embora as mulheres mais jovens também sofram com dores em diversas partes do corpo. Desta forma, nesta apresentação temos como proposta discutir, a partir do trabalho etnográfico, a simbiose corpo-mulher e corpo-máquina. As perguntas que pretendemos responder giram em torno de: a) quais são os encontros e os limites entre elas e as máquinas; b) como individualizam e coletivizam os usos do corpo-máquina; c) quais são as estratégias que fazem para cuidar dos seus "corpos" no trabalho.
Entre a espera e o isolamento: Itinerários, narrativas e estratégias de homens trans brasileiros durante a pandemia de covid-19
Autoria: Camilo Braz
Autoria: Este trabalho pretende interpretar antropologicamente narrativas de homens trans brasileiros a respeito dos desafios impostos pela pandemia de covid-19 em variadas áreas, tais como acesso à saúde, enfrentamento do desemprego e da diminuição da renda e intensificação de processos relacionados ao que foi chamado de isolamento social. Pretende-se refletir, a partir de um diálogo com bibliografia sobre a pandemia e as experiências de pessoas marcadas por dimensões de gênero e sexualidade, sobre aspectos que tornam desafios potencialmente ampliados a partir da identidade de gênero transmasculina, em intersecção com outros marcadores sociais de diferença, sobretudo relacionados a raça e classe social. E analisar os itinerários e as estratégias mobilizadas por tais sujeitos para lidar com tais questões, apontando assim para uma possível discussão acerca de suas expectativas de vida e projetos de futuro. O material empírico foi produzido a partir de entrevistas para o projeto de pesquisa "Transmasculinidades, Saúde e Espera: antropologia do curso da vida entre homens trans", contemplado com Bolsa de Produtividade em Pesquisa Nível 2 do CNPq em 2018. A intenção dessa investigação era reencontrar colaboradores de uma pesquisa anterior, em sua maioria residentes na região metropolitana de Goiânia, no Brasil, entrevistados entre 2015 e 2016. A pandemia afetou profundamente os planos da investigação. A partir do segundo semestre de 2021, alguns dos colaboradores aceitaram dialogar por meio de ferramentas remotas de comunicação. Tais entrevistas permitem analisar aspectos não previstos no projeto, que dizem respeito aos itinerários desses sujeitos frente aos desafios impostos pela pandemia.
Cicatrizes da beleza e da dor: Sobre as mulheres que convivem com alopecia androgenética e suas variantes.
Autoria: Eduardo Monteiro
Autoria: A Alopecia Androgenética (AAG) constitui-se como a rarefação gradual e permanente dos bulbos capilares do couro cabeludo, gerando gradualmente o que se conhece comumente como "calvície" ou a perda definitiva dos fios de cabelo. A calvície se desenvolve em homens e mulheres em todo o mundo, por diversos fatores, podendo ser desencadeada por fatores genéticos, emocionais, hormonais, acidentes de tração capilar etc. Entretanto, muito se foca na masculinidade e sua relação com a alopecia enquanto fator da construção da identidade. O cabelo é, para algumas categorias do feminino, um elemento essencial da construção do corpo e da identidade. Visando essa problemática da relação corpo-identidade, objetiva-se fazer um levantamento do perfil identitário e social de mulheres que convivem com a alopecia androgenética e suas variantes, para melhor entender a relação da AAG e a forma que ela é refletida nos corpos e identidades de tais interlocutoras e se as mesmas a enxergam como um problema. Para identificar tais interlocutoras se busca fazer o uso de formulários eletrônicos para uma maior abrangência e web-chamadas para entender suas narrativas e vivências, para então, entender se a falta de cabelo se constitui como um problema. Entender como se interligam suas construções corporais e identitárias, os seus entraves sociais, formas de tratamento e enfrentamento, as alternativas que tais interlocutoras usam para driblar tal problema e entender, como a calvície afeta o corpo de mulheres e como reflete socialmente em suas feminilidades.
Cicatrizes da beleza e da dor: Sobre as mulheres que convivem com alopecia androgenética e suas variantes.
Autoria: Eduardo Monteiro
Autoria: A Alopecia Androgenética (AAG) constitui-se como a rarefação gradual e permanente dos bulbos capilares do couro cabeludo, gerando gradualmente o que se conhece comumente como "calvície" ou a perda definitiva dos fios de cabelo. A calvície se desenvolve em homens e mulheres em todo o mundo, por diversos fatores, podendo ser desencadeada por fatores genéticos, emocionais, hormonais, acidentes de tração capilar etc. Entretanto, muito se foca na masculinidade e sua relação com a alopecia enquanto fator da construção da identidade. O cabelo é, para algumas categorias do feminino, um elemento essencial da construção do corpo e da identidade. Visando essa problemática da relação corpo-identidade, objetiva-se fazer um levantamento do perfil identitário e social de mulheres que convivem com a alopecia androgenética e suas variantes, para melhor entender a relação da AAG e a forma que ela é refletida nos corpos e identidades de tais interlocutoras e se as mesmas a enxergam como um problema. Para identificar tais interlocutoras se busca fazer o uso de formulários eletrônicos para uma maior abrangência e web-chamadas para entender suas narrativas e vivências, para então, entender se a falta de cabelo se constitui como um problema. Entender como se interligam suas construções corporais e identitárias, os seus entraves sociais, formas de tratamento e enfrentamento, as alternativas que tais interlocutoras usam para driblar tal problema e entender, como a calvície afeta o corpo de mulheres e como reflete socialmente em suas feminilidades.
O cuidado ao longo de muitas vidas: gênero, geração e tecnologias na experiencia com doenças raras hereditárias
Autoria: Waleska Aureliano
Autoria: Essa comunicação analisa como cuidado, gênero e geração se articulam na experiência de famílias afetadas por doenças raras hereditárias, considerando ainda como o uso (ou não uso) de tecnologias interferem nessa relação. Por tecnologias estou considerando desde testes genéticos a tratamentos medicamentosos, mas também as tecnologias usadas no cotidiano que interferem nas dinâmicas de cuidado dentro da família, como as relacionadas à disposição física da casa, à alimentação ou ao trabalho. A análise baseia-se em pesquisa etnográfica que vem sendo realizada ao longo dos últimos 10 anos com pessoas e famílias afetadas por doenças raras de forma geral, e com recorte especial para aquelas que são hereditárias. Na atual definição utilizada no Brasil, são consideradas raras doenças que afetam 65 pessoas a cada 100 mil. Estima-se que 8% da população mundial tem alguma doença rara, o que no caso brasileiro significa cerca de 13 milhões de pessoas. 80% das doenças raras tem origem genética, sendo parte delas hereditárias. Esse dado traz implicações importantes para se pensar aspectos ligados à reprodução e parentesco, as percepções que emergem ligadas às ideias de risco e responsabilidade e, principalmente, as dinâmicas de cuidado relacionada a doenças de longa duração que podem atravessar gerações de uma mesma família. Embora nem toda doença rara hereditária seja incapacitante, a maioria delas é em algum grau, sendo muitas degenerativas, com comprometimento das funções motoras e/ou cognitivas sendo agravadas com o passar dos anos. Tendo em consideração que apenas 3-5% das doenças raras possuem algum tipo de tratamento específico que pode alterar seu curso, a maioria das famílias afetadas por uma doença rara hereditária precisa lidar com condições que terão quando muito tratamentos paliativos para os sintomas. Em qualquer dos casos, estes tratamentos costumam ser de alto custo, o que no Brasil tem se traduzido na crescente judicialização da saúde, inserindo no itinerário terapêutico dessas familias o sistema judiciário. Nesse cenário, percebe-se por um lado a presença significativa de mulheres, tanto como agentes políticos na esfera pública na demanda por direitos relacionados à saúde, assim como cuidadoras de filhos, maridos e pais adoentados. Por outro lado, nota-se a falta de uma agenda política que pense o acesso à saúde atrelado ao direito ao cuidado, e menos ainda uma discussão sobre a distribuição do cuidado que envolva a sociedade e o Estado, o que continua a circunscrever as práticas de cuidado à família e, dentro delas, às mulheres que, a despeito de suas próprias condições de saúde e do envelhecimento, seguem sendo as principais cuidadoras.
Entre a espera e o isolamento: Itinerários, narrativas e estratégias de homens trans brasileiros durante a pandemia de covid-19
Autoria: Camilo Braz
Autoria: Este trabalho pretende interpretar antropologicamente narrativas de homens trans brasileiros a respeito dos desafios impostos pela pandemia de covid-19 em variadas áreas, tais como acesso à saúde, enfrentamento do desemprego e da diminuição da renda e intensificação de processos relacionados ao que foi chamado de isolamento social. Pretende-se refletir, a partir de um diálogo com bibliografia sobre a pandemia e as experiências de pessoas marcadas por dimensões de gênero e sexualidade, sobre aspectos que tornam desafios potencialmente ampliados a partir da identidade de gênero transmasculina, em intersecção com outros marcadores sociais de diferença, sobretudo relacionados a raça e classe social. E analisar os itinerários e as estratégias mobilizadas por tais sujeitos para lidar com tais questões, apontando assim para uma possível discussão acerca de suas expectativas de vida e projetos de futuro. O material empírico foi produzido a partir de entrevistas para o projeto de pesquisa "Transmasculinidades, Saúde e Espera: antropologia do curso da vida entre homens trans", contemplado com Bolsa de Produtividade em Pesquisa Nível 2 do CNPq em 2018. A intenção dessa investigação era reencontrar colaboradores de uma pesquisa anterior, em sua maioria residentes na região metropolitana de Goiânia, no Brasil, entrevistados entre 2015 e 2016. A pandemia afetou profundamente os planos da investigação. A partir do segundo semestre de 2021, alguns dos colaboradores aceitaram dialogar por meio de ferramentas remotas de comunicação. Tais entrevistas permitem analisar aspectos não previstos no projeto, que dizem respeito aos itinerários desses sujeitos frente aos desafios impostos pela pandemia.
Mulheres na ciência, a perspectiva das mulheres que constroem uma ciência do Zika na Região Metropolitana de Recife.
Autoria: Mariana Esteves Petruceli
Autoria: A epidemia de Zika trouxe alarde não somente entre moradoras e moradores da principal região afetada, o Nordeste brasileiro, mas também entre médicos, especialistas e o restante do país que temiam uma ameaça global (Diniz, 2016). Após a descoberta da ligação entre os casos de infecção por Zika Vírus (ZV) e o aumento no número de nascimentos de crianças com microcefalia por uma médica pernambucana, ficou claro que o estado de Pernambuco, e mais especificamente a Região Metropolitana de Recife (RMR), configuraram o epicentro da chamada Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV). As mães das crianças afetadas pela SCZV se tornaram agentes importantes para o que chamamos de ciência do Zika, se organizando em busca de atenção midiática, tratamento e diagnóstico médico, ou seja, cuidado para seus filhos. A mobilização também ocorreu por parte dos biocientistas, cientistas especializados nas áreas convocadas para responder à essa crise sanitária como fisioterapeutas, neurologistas, pediatras e terapeutas ocupacionais que se debruçaram na busca por informações sobre o vírus e seus desdobramentos, bem como por um atendimento e assistência efetivos para as famílias afetadas. Entre os anos de 2015 e 2018, havia mais de 90 projetos de pesquisa relacionados ao Zika apenas na Região Metropolitana de Recife (Aissa Simas, 2020). Em 2022, anos após o decreto do fim da emergência sanitária decorrente do Zika Vírus, ao entrevistar especialistas que atuaram nesses projetos, na assistência ou na pesquisa, notamos padrões do que seria uma ciência feita por mulheres. As quebras das barreiras das áreas de conhecimento, a coordenação horizontal de projetos e a interdisciplinaridade é algo narrado por essas especialistas. Como a neuropediatra pernambucana que relatou a emergência sanitária para as autoridades, as mulheres parecem protagonizar mudanças importantes, deixando um legado concreto para a resposta científica em meio a crises sanitárias. Durante as entrevistas foi possível notar também o engajamento — ou falta dele — entre biocientistas em relação ao Covid-19. As motivações, as preocupações e as reformulações no fazer científico são investigados e relatados nesse trabalho que procura destrinchar a ação dessas mulheres na construção das ciências da saúde e, em especial, a ciência do Zika.
Percepções das juventudes sobre o envelhecimento
Autoria: Daiany Cris Silva
Autoria: O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1983) defendeu que a fronteira entre a juventude e a velhice é razão de disputa em todas as sociedades e, portanto, definir que alguém é jovem ou é velho significa impor limites e criar ordens (COSTA, LIMA e SILVA, 2017), no entanto, considerando que esses limites já estão postos socialmente e eles organizam a nossa sociedade tal como a conhecemos, o movimento de perceber como os agentes de um determinando grupo, as juventudes, nesse caso, elabora e projeta o seu curso da vida, nos permite compreender os fluxos geracionais presentes na atualidade. Desse modo, em busca de possibilitar essa compreensão, a presente comunicação propõe uma investigação sobre as percepções das juventudes brasileiras sobre ao envelhecimento. Para tanto, coloca-se como principal questão a compreensão de como as juventudes elaboram suas perspectivas sobre o envelhecimento, ou seja, como elas pensam e se pensam nesta fase considerada a última do ciclo da vida, considerando as condições sociais que possibilitam a sua longevidade na sociedade brasileira. Amparada pelo campo de estudos geracionais e as contribuições do sociólogo Karl Mannheim (1982), a presente discussão apresenta como principal norteador teórico o conceito de geração, que é considerado pelo autor como uma formação estrutural dos grupos etários diante de um compartilhamento histórico, que é atravessado por diversos elementos como: raça, classe, gênero, orientação sexual, posicionamentos políticos, dentre outros.
A experiência corporal do câncer de mama: narrativas a partir das perspectivas de gênero, geração e sexualidade na percepção da doença
Autoria: Nathália Caroline Dias
Autoria: No Brasil, o câncer de mama destaca-se como o tipo de maior incidência e mortalidade entre as mulheres. Sendo um tipo de câncer raramente encontrado em homens cisgêneros - representando somente 1% dos casos no país -, de acordo com a perspectiva biomédica, o câncer de mama não possui uma única causa, mas sim fatores de risco. Apesar de fatores ambientais, comportamentais, hormonais, genéticos e hereditários estarem relacionados ao surgimento da doença, a idade apresenta-se como um dos mais importantes, com cerca de 80% dos casos ocorrendo com mulheres acima dos 50 anos. Nesse sentido, uma das estratégias do Ministério da Saúde, através do Sistema Único de Saúde, é seguir a recomendação internacional de realizar a mamografia de rastreamento a cada dois anos em mulheres com idade entre 50 e 69 anos, a fim de identificar o câncer antes da existência de sinais e sintomas. Para as mulheres fora desta faixa etária, por sua vez, é necessário haver indicação médica a partir de alguma alteração suspeita na mama. Conforme este exemplo, é possível perceber como o processo de saúde-doença do câncer de mama no país encontra-se permeado pelas dimensões de gênero e geração no que se refere, particularmente, às políticas públicas de prevenção e tratamento. Entretanto, em estudos anteriores dedicados a um olhar próprio às humanidades acerca do câncer em geral e do câncer de mama em particular, fortuitos são os aprofundamentos analíticos sobre as implicações de gênero, geração e, sobretudo, sexualidade na percepção de pessoa e subjetividade daquelas que vivenciam a doença. Sendo assim, nesta pesquisa, a proposta é analisar a experiência de saúde-doença do câncer de mama a partir de uma abordagem feminista localizada, buscando apreender e interpretar como o lugar ocupado na sociedade pelas mulheres que vivenciam a doença em/através de seus corpos - sejam estes corpos cis, trans, de sexualidades diversas, de diferentes raças e etnias - atua na sua construção enquanto sujeitos no mundo. Para tanto, esta pesquisa explora algumas etnografias que realizaram trabalho com mulheres com câncer de mama, lendo-as à luz de debates teóricos acerca das noções de pessoa/indivíduo nas sociedades ocidentais modernas, evidenciando-se, especialmente, a valoração da interioridade e as relações entre subjetividade, gênero, geração e sexualidade no processo de percepção da doença.
A experiência corporal do câncer de mama: narrativas a partir das perspectivas de gênero, geração e sexualidade na percepção da doença
Autoria: Nathália Caroline Dias
Autoria: No Brasil, o câncer de mama destaca-se como o tipo de maior incidência e mortalidade entre as mulheres. Sendo um tipo de câncer raramente encontrado em homens cisgêneros - representando somente 1% dos casos no país -, de acordo com a perspectiva biomédica, o câncer de mama não possui uma única causa, mas sim fatores de risco. Apesar de fatores ambientais, comportamentais, hormonais, genéticos e hereditários estarem relacionados ao surgimento da doença, a idade apresenta-se como um dos mais importantes, com cerca de 80% dos casos ocorrendo com mulheres acima dos 50 anos. Nesse sentido, uma das estratégias do Ministério da Saúde, através do Sistema Único de Saúde, é seguir a recomendação internacional de realizar a mamografia de rastreamento a cada dois anos em mulheres com idade entre 50 e 69 anos, a fim de identificar o câncer antes da existência de sinais e sintomas. Para as mulheres fora desta faixa etária, por sua vez, é necessário haver indicação médica a partir de alguma alteração suspeita na mama. Conforme este exemplo, é possível perceber como o processo de saúde-doença do câncer de mama no país encontra-se permeado pelas dimensões de gênero e geração no que se refere, particularmente, às políticas públicas de prevenção e tratamento. Entretanto, em estudos anteriores dedicados a um olhar próprio às humanidades acerca do câncer em geral e do câncer de mama em particular, fortuitos são os aprofundamentos analíticos sobre as implicações de gênero, geração e, sobretudo, sexualidade na percepção de pessoa e subjetividade daquelas que vivenciam a doença. Sendo assim, nesta pesquisa, a proposta é analisar a experiência de saúde-doença do câncer de mama a partir de uma abordagem feminista localizada, buscando apreender e interpretar como o lugar ocupado na sociedade pelas mulheres que vivenciam a doença em/através de seus corpos - sejam estes corpos cis, trans, de sexualidades diversas, de diferentes raças e etnias - atua na sua construção enquanto sujeitos no mundo. Para tanto, esta pesquisa explora algumas etnografias que realizaram trabalho com mulheres com câncer de mama, lendo-as à luz de debates teóricos acerca das noções de pessoa/indivíduo nas sociedades ocidentais modernas, evidenciando-se, especialmente, a valoração da interioridade e as relações entre subjetividade, gênero, geração e sexualidade no processo de percepção da doença.
A ética do cuidado entre gerações nos Círculos de Mulheres: aproximações empíricas em Salvador e região metropolitana
Autoria: Thainá Soares Ribeiro
Autoria: Pesquiso no Doutorado o movimento denominado como Círculos de Mulheres. Estes Círculos são difíceis de ser definidos, devido seu possível enquadramento em diversos movimentos como Nova Era, Ecofeminismo e Espiritualidades Femininas. Mas, ainda que sem uma definição estanque, podem ser compreendidos como grupos organizados por mulheres e para mulheres, na grande maioria cisgênero, que se encontram em espaços não-institucionais, articulando-se a partir de referências que emergiram na contracultura, bem como as que emergem vinculadas a região do encontro, com bricolagem de religiões e saberes sobre o corpo. Na contramão das perspectivas dominantes em relação aos corpos das mulheres, bem como sobre o sagrado na perspectiva das mulheres, os Círculos buscam uma nova relação com o corpo e com a saúde. Neste trabalho, trago algumas reflexões sobre as minhas percepções inicias no campo - num círculo na cidade de Salvador, outro na região metropolitana, refletindo sobre os agenciamentos do corpo e do cuidado nesses círculos - entre gerações de mulheres, por meio de uma ginecologia denominada autônoma. As participantes dos Círculos de Mulheres apropriam-se de vários "conhecimentos tradicionais" (em tópicos como o uso de ervas para a saúde das mulheres, ciclo menstrual, menopausa etc.) e munem-se da experiência de compartilhar "corpos semelhantes", ou seja, de viver empiricamente todos esses processos. A ideia do que é "ser mulher" é uma questão central - as participantes reivindicam um cuidado com a saúde sexual a partir da perspectiva das mulheres, ou seja, uma busca por autonomia em relação ao conhecimento do próprio corpo. Além disso, a diversidade de concepções sobre o corpo pode não estar ancorada na normatividade do corpo biológico, como algumas percepções do campo me indicaram. A ética do cuidado nesses Círculos se estabelece a partir de performações sobre o feminino, a ideia de útero não apenas como órgão biológico, mas como um espaço de energia feminina que existe no corpo de todos os seres.
O cuidado ao longo de muitas vidas: gênero, geração e tecnologias na experiencia com doenças raras hereditárias
Autoria: Waleska Aureliano
Autoria: Essa comunicação analisa como cuidado, gênero e geração se articulam na experiência de famílias afetadas por doenças raras hereditárias, considerando ainda como o uso (ou não uso) de tecnologias interferem nessa relação. Por tecnologias estou considerando desde testes genéticos a tratamentos medicamentosos, mas também as tecnologias usadas no cotidiano que interferem nas dinâmicas de cuidado dentro da família, como as relacionadas à disposição física da casa, à alimentação ou ao trabalho. A análise baseia-se em pesquisa etnográfica que vem sendo realizada ao longo dos últimos 10 anos com pessoas e famílias afetadas por doenças raras de forma geral, e com recorte especial para aquelas que são hereditárias. Na atual definição utilizada no Brasil, são consideradas raras doenças que afetam 65 pessoas a cada 100 mil. Estima-se que 8% da população mundial tem alguma doença rara, o que no caso brasileiro significa cerca de 13 milhões de pessoas. 80% das doenças raras tem origem genética, sendo parte delas hereditárias. Esse dado traz implicações importantes para se pensar aspectos ligados à reprodução e parentesco, as percepções que emergem ligadas às ideias de risco e responsabilidade e, principalmente, as dinâmicas de cuidado relacionada a doenças de longa duração que podem atravessar gerações de uma mesma família. Embora nem toda doença rara hereditária seja incapacitante, a maioria delas é em algum grau, sendo muitas degenerativas, com comprometimento das funções motoras e/ou cognitivas sendo agravadas com o passar dos anos. Tendo em consideração que apenas 3-5% das doenças raras possuem algum tipo de tratamento específico que pode alterar seu curso, a maioria das famílias afetadas por uma doença rara hereditária precisa lidar com condições que terão quando muito tratamentos paliativos para os sintomas. Em qualquer dos casos, estes tratamentos costumam ser de alto custo, o que no Brasil tem se traduzido na crescente judicialização da saúde, inserindo no itinerário terapêutico dessas familias o sistema judiciário. Nesse cenário, percebe-se por um lado a presença significativa de mulheres, tanto como agentes políticos na esfera pública na demanda por direitos relacionados à saúde, assim como cuidadoras de filhos, maridos e pais adoentados. Por outro lado, nota-se a falta de uma agenda política que pense o acesso à saúde atrelado ao direito ao cuidado, e menos ainda uma discussão sobre a distribuição do cuidado que envolva a sociedade e o Estado, o que continua a circunscrever as práticas de cuidado à família e, dentro delas, às mulheres que, a despeito de suas próprias condições de saúde e do envelhecimento, seguem sendo as principais cuidadoras.
Percepções das juventudes sobre o envelhecimento
Autoria: Daiany Cris Silva
Autoria: O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1983) defendeu que a fronteira entre a juventude e a velhice é razão de disputa em todas as sociedades e, portanto, definir que alguém é jovem ou é velho significa impor limites e criar ordens (COSTA, LIMA e SILVA, 2017), no entanto, considerando que esses limites já estão postos socialmente e eles organizam a nossa sociedade tal como a conhecemos, o movimento de perceber como os agentes de um determinando grupo, as juventudes, nesse caso, elabora e projeta o seu curso da vida, nos permite compreender os fluxos geracionais presentes na atualidade. Desse modo, em busca de possibilitar essa compreensão, a presente comunicação propõe uma investigação sobre as percepções das juventudes brasileiras sobre ao envelhecimento. Para tanto, coloca-se como principal questão a compreensão de como as juventudes elaboram suas perspectivas sobre o envelhecimento, ou seja, como elas pensam e se pensam nesta fase considerada a última do ciclo da vida, considerando as condições sociais que possibilitam a sua longevidade na sociedade brasileira. Amparada pelo campo de estudos geracionais e as contribuições do sociólogo Karl Mannheim (1982), a presente discussão apresenta como principal norteador teórico o conceito de geração, que é considerado pelo autor como uma formação estrutural dos grupos etários diante de um compartilhamento histórico, que é atravessado por diversos elementos como: raça, classe, gênero, orientação sexual, posicionamentos políticos, dentre outros.
Iniquidades na saúde: uma análise da literatura acerca do acesso e acessibilidade de mulheres quilombolas à serviços de saúde no Brasil
Autoria: Karoline Beatriz Oliveira Barroso
Autoria: A Organização Mundial da Saúde compreende a saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença. Sob este prisma, a partir da articulação desta categoria com marcadores sociais da diferença como racismo, gênero e campo/rural mostra-se pertinente um estudo acerca da saúde da mulher quilombola que, além de contar com a segregação espacial e estigmatização territorial presentes no espaço rural, somam-se o racismo no acesso ao tratamento de saúde e opressão de gênero como mecanismos de exclusão social. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é analisar criticamente a produção científica sobre o acesso à saúde por mulheres em comunidades quilombolas em literatura. A pesquisa tem caráter pesquisa qualitativa, com revisão integrativa da literatura. Buscou-se nos artigos publicados nos últimos 10 anos em português, as bases utilizadas foram SciELO, LILACS e portal da Biblioteca Virtual em Saúde Brasil com auxílio de operadores booleanos, palavras-chave e termos livres: Grupos com ancestrais Afrodescendentes, saúde, mulher e seus sinônimos. A seleção foi realizada a partir de título, resumo e leitura completa de artigos que abordassem a temática e estejam disponíveis integralmente nas plataformas online. A partir dos critérios de exclusão e inclusão, identificaram-se 31 artigos, todos publicados em periódicos nacionais, sendo a maioria publicado na área de saúde (80%), especialmente por enfermeiros; os artigos apresentam dados acerca da atenção à saúde materna, acesso a exames preventivos- em especial de contracepção e prevenção ao câncer de colo uterino. Os resultados foram agrupados em três categorias temáticas de atenção à saúde materna e primária; Acesso e acessibilidade aos serviços de saúde e Doenças das mulheres quilombolas. Dessa forma, constatou-se a predominância de pesquisas voltadas para o processo de doença e não de promoção à saúde integral, bem como a escassez de propostas de análise intercultural, limitando-se a estudos de cunho clínico e biológico. À vista disso, observa-se uma insuficiência de medidas voltadas para a promoção da saúde deste grupo, possuindo o racismo na saúde como mecanismo de exclusão e a opressão de gênero como elementos que invisibilizam e inviabilizam o acesso à saúde, mostrando-se urgente a elaboração de políticas públicas efetivas embasadas na interseccionalidade presente nas iniquidades na saúde e a partir de sua base multidimensional com racismo, sexismo e estigmatização territorial como categorias de opressão interagindo de forma múltipla e simultaneamente.
Iniquidades na saúde: uma análise da literatura acerca do acesso e acessibilidade de mulheres quilombolas à serviços de saúde no Brasil
Autoria: Karoline Beatriz Oliveira Barroso
Autoria: A Organização Mundial da Saúde compreende a saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença. Sob este prisma, a partir da articulação desta categoria com marcadores sociais da diferença como racismo, gênero e campo/rural mostra-se pertinente um estudo acerca da saúde da mulher quilombola que, além de contar com a segregação espacial e estigmatização territorial presentes no espaço rural, somam-se o racismo no acesso ao tratamento de saúde e opressão de gênero como mecanismos de exclusão social. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é analisar criticamente a produção científica sobre o acesso à saúde por mulheres em comunidades quilombolas em literatura. A pesquisa tem caráter pesquisa qualitativa, com revisão integrativa da literatura. Buscou-se nos artigos publicados nos últimos 10 anos em português, as bases utilizadas foram SciELO, LILACS e portal da Biblioteca Virtual em Saúde Brasil com auxílio de operadores booleanos, palavras-chave e termos livres: Grupos com ancestrais Afrodescendentes, saúde, mulher e seus sinônimos. A seleção foi realizada a partir de título, resumo e leitura completa de artigos que abordassem a temática e estejam disponíveis integralmente nas plataformas online. A partir dos critérios de exclusão e inclusão, identificaram-se 31 artigos, todos publicados em periódicos nacionais, sendo a maioria publicado na área de saúde (80%), especialmente por enfermeiros; os artigos apresentam dados acerca da atenção à saúde materna, acesso a exames preventivos- em especial de contracepção e prevenção ao câncer de colo uterino. Os resultados foram agrupados em três categorias temáticas de atenção à saúde materna e primária; Acesso e acessibilidade aos serviços de saúde e Doenças das mulheres quilombolas. Dessa forma, constatou-se a predominância de pesquisas voltadas para o processo de doença e não de promoção à saúde integral, bem como a escassez de propostas de análise intercultural, limitando-se a estudos de cunho clínico e biológico. À vista disso, observa-se uma insuficiência de medidas voltadas para a promoção da saúde deste grupo, possuindo o racismo na saúde como mecanismo de exclusão e a opressão de gênero como elementos que invisibilizam e inviabilizam o acesso à saúde, mostrando-se urgente a elaboração de políticas públicas efetivas embasadas na interseccionalidade presente nas iniquidades na saúde e a partir de sua base multidimensional com racismo, sexismo e estigmatização territorial como categorias de opressão interagindo de forma múltipla e simultaneamente.
Mulher-máquina, Máquina-mulher: reflexões etnográficas sobre os modos de uso dos "corpos" pelas mulheres costureiras em Boa Vista, Roraima.
Autoria: Arancha Micaelle dos Santos Pereira, Madiana Rodrigues
Autoria: Essa reflexão faz parte de pesquisa de mestrado ainda em andamento, cujo objetivo é analisar, a partir da teoria e metodologia da antropologia, como o trabalho e o ofício da costura se interseccionam na vida de mulheres que trabalham em grupos femininos na cidade de Boa Vista, capital de Roraima. O foco empírico são mulheres que são ou já foram pertencentes aos Centros de Produção Comunitária (CPC). Esses espaços estão ligados às políticas governamentais, sobretudo aos setores que englobam o Bem-Estar Social e do Trabalho, nos quais foram cristalizadas em meados dos anos de 1990, no Extremo-Norte do Brasil. Tal demanda se centralizou em dois momentos: pela consolidação de investimentos para indústrias se instalarem no solo regional (OLIVEIRA, 2013) e apenas, em segundo plano, para formar mulheres no mercado de trabalho com atividades que pudessem ser apreendidas no espaço doméstico. Para isso, o investimento nos trabalhos de costurar dessas mulheres estariam nos maquinários - máquina de costura de todos os tipos e usos, mesas e cadeiras, ferros de passar a vapor, armarinhos, entre outros. Em decorrência de mudanças de governos, a falta dos investimentos e ações estatais, os grupos femininos foram se desfazendo ao longo dos anos, e nesse contexto, as máquinas de costura como estratégia para o suprimento de necessidades mais básicas foram vendidas. Mediante o trabalho de campo etnográfico realizado em 2021 nos Centros de Produções Comunitárias ainda existentes, observamos que as máquinas de costura fazem parte da extensão dos usos dos corpos das interlocutoras-costureiras no cotidiano. Assim, nos termos de Donna Haraway (1985) o Ciborgue pode ser uma simbiose entre mulher e máquina. O domínio de conhecimento das mulheres acerca dos artefatos é percebido nos ditos e feitos: é preciso que haja harmonia de ambas as partes para o bom funcionamento, e ainda mais, para um bom trabalho. Nesse cenário laboral, os movimentos repetitivos que fazem com as mãos e os pés em postura sentada e ereta por longas horas, além do esforço da visão são motivos de adoecimento do corpo das mulheres na faixa etária dos sessenta anos, embora as mulheres mais jovens também sofram com dores em diversas partes do corpo. Desta forma, nesta apresentação temos como proposta discutir, a partir do trabalho etnográfico, a simbiose corpo-mulher e corpo-máquina. As perguntas que pretendemos responder giram em torno de: a) quais são os encontros e os limites entre elas e as máquinas; b) como individualizam e coletivizam os usos do corpo-máquina; c) quais são as estratégias que fazem para cuidar dos seus "corpos" no trabalho.