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ISBN: 978-65-87289-23-6
MR40: Movimentos sociais na Amazônia: cenários de conflito, resistência e mudança social.

Coordenação: Sidnei Peres (UFF)

Debatedor/a: Bruno Rodrigues (UFAM)
Participantes: Edna Castro (UFPA), Marilene Freitas (UFAM), Sidnei Peres (UFF)

Resumo:
A proposta desta mesa redonda é refletir sobre os cenários de conflito e mudança social, na Amazônia, que implicam mobilizações coletivas, dinâmicas territoriais e demandas de reconhecimento que confrontam grupos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais com agencias estatais, atores econômicos e empreendimentos capitalistas. O enfoque incidirá sobre contextos de antagonismo entre modalidades distintas de uso dos recursos naturais, estratégias de reprodução social e processos de reorganização econômica e política. Os regimes de dominação social, expropriação/controle fundiários e (i)mobilização da força de trabalho são diversos, constituindo uma área de estudos antropológicos que produziram etnografias e um rico arsenal conceitual e analítico que permitem uma base sólida para formulação de reflexões em nível comparativo sobre as situações diversas de reorganização social, econômica e política em que povos e comunidades tradicionais lutam pela manutenção de suas identidades e modos de vida.

Palavras chave: Amazônia; Conflito Socioambiental; Povos Tradicionais
Resumos submetidos
A floresta tem sujeito, tem história: etnicidade, território e conflito na Amazônia.
Autoria: Sidnei Peres
Autoria: A Amazônia, essa imensa área (transnacional) de floresta tropical delimitada pela bacia hidrográfica do Rio Amazonas, remete a uma realidade complexa, caracterizada por uma enorme diversidade ecológica, política, econômica, linguística e étnica. Esta região, no século XX, foi o terreno de políticas, processos e dinâmicas territoriais que articularam os campos do desenvolvimento, do ambientalismo e do indigenismo, inscritos em processos de formação do Estado e desenvolvimento capitalista no Brasil. Neste contexto, as múltiplas modalidades de organização social e formas de existência coletiva (sejam indígenas, camponesas, urbanas) só podem ser compreendidas em referência aos modos de dominação e resistência que resultam das contradições e antagonismos entre modalidades contemporâneas de ocupação da terra e uso dos recursos naturais. A vida do ribeirinho amazônico (às vezes designado como caboclo) sempre foi palco de conflitos, resistência e mudança. Cabe assinalar que as categorias de indígena, camponês e citadino, enquanto formas de existência e identidade coletivas, não se excluem necessariamente, constituindo-se em referência de pertencimento em situações específicas de interação com outros agentes sociais. O temo ribeirinho abarca diferentes dinâmicas territoriais e configurações socioespaciais, também podendo se constituir em certas circunstâncias como emblema identitário. Pretendo abordar aqui a manufatura de direitos territoriais no Médio Rio Negro, envolvendo os "caboclos de Barcelos e Santa Isabel" e os fenômenos de etnogênese objetivados politicamente em associações indígenas. A região das bacias dos rios Preto-Padauiri e Aracá-Demeni são ricas em piaçabais. O "fazer a comunidade" e o "fechar o rio", duas expressões que indicam os cálculos e estratégias econômicas inerentes a reprodução social das famílias indígenas, sintetizam duas modalidades antagônicas e complementares de experiência e de organização social que tem um peso relevante na configuração dos conflitos sociais e das ações de afirmação étnica. Os processos sociais e políticos aqui descritos e analisados, resumidamente, originam-se de experiência de pesquisa e de perícia, realizadas em duas décadas, na região do Rio Negro. Aproveito para propor algumas discussões teórico-metodológicas mais gerais: a) sobre modalidades de ocupação e uso dos recursos naturais e formas compulsórias de exploração do trabalho na Amazônia; b) sobre o diálogo entre antropologia e história; c) sobre a ruptura epistemológica com a dicotomia (nem sempre admitida explicitamente) entre condição camponesa e indígena.