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ISBN: 978-65-87289-23-6
MR52: Todos no mesmo barco? Saúde e migração no contexto da Covid-19

Coordenação: Angela Facundo Navia (UFRN)

Debatedor/a: Alexandre Branco-Pereira (UEMG)
Participantes: Fanny Longa Romero (UNILAB), Elaine Moreira (UnB), Mwewa Lumbwe (UFSC)

Resumo:
As crises sanitárias não são novidades históricas, tampouco se configuram como objeto estranho aos estudos migratórios e antropológicos. Seus impactos são notados na reconfiguração das políticas de controle de corpos migrantes, na multiplicidade de efeitos sobre a produção de subjetividades, nas percepções sobre saúde e doença e nas respostas governamentais e não governamentais à pandemia. São erigidas não apenas políticas de saúde, ou ações estruturadas destinadas a promover ou garantir saúde, mas também políticas de doença, orientadas à suposta convivência pacífica com agentes perturbadores da comunidade, seja por meio de sua segregação, seja por meio de sua eliminação pura e simples. Esses processos - fechamentos seletivos de fronteiras, falta de dados sobre contágios e mortes da população imigrante por Covid-19, não vacinação de imigrantes indocumentados, expressões de racismo e xenofobia e assassinatos de imigrantes africanos - produziram múltiplas pandemias dentro do mesmo processo pandêmico: se o vírus era o mesmo para todos, seus efeitos, não foram democráticos como se anunciava, impactando determinados grupos com maior força. Esta Mesa Redonda, uma iniciativa do Comitê Migrações e Deslocamentos, CAI e o Observatório Saúde e Migração, visa debater os impactos desiguais da pandemia sobre diferentes grupos de migrantes racializados no Brasil, com especial atenção aos indígenas Warao da Venezuela, aos imigrantes do Senegal e refugiados da República Democrática do Congo.

Palavras chave: Saúde; Migração; Pandemia
Resumos submetidos
Lamentos de morte, luto e sofrimento social: violência política e ações coletivas de migrantes congoleses e senegaleses no Brasil no contexto da pandemia de Covid-19
Autoria: Fanny Longa Romero
Autoria: O que significa falar de sofrimento social e letalidade nas experiências vividas de migrantes africanos, no contexto da pandemia de Covid-19 no Brasil? Como compreender, na concretude do dia a dia, o sofrimento social de coletivos congoleses e senegaleses diante de processos de morte, luto e violência política no país? Será que estamos diante de um "encontro mortal" de contágio sanitário planetário entre pessoas infectadas pelo vírus nas ruas, aeroportos ou zonas de fronteira na mobilidade migratória? ou a letalidade advém do acirramento das mazelas da desigualdade social, racial e criminalização da mobilidade migratória que a pandemia exprime com contornos nítidos e sensíveis de violência política? Este trabalho problematiza de que modo a normalização da morte e de eventos de barbárie em um cenário de crise sanitária e política no Brasil, instaura uma falência civilizacional no país que repercute nas vidas, ações coletivas e reivindicações de sujeitos imigrantes africanos, congoleses e senegaleses. A análise se concentra nos lamentos de luto, morte e violência política a partir de recentes eventos de morte matada de sujeitos imigrantes africanos e de suas reivindicações coletivas contra a violência política, nos modos perversos de como esses sujeitos têm vivenciado uma relação com a morte e com sua normalização. A metodologia da análise é qualitativa e tem como base um repertório de notícias atualizadas da mídia impressa e virtual sobre as mobilizações coletivas de sujeitos imigrantes africanos, em contexto situado.
Mobilidades em tempos pandêmicos: desafios para os Warao e o controle do "contágio"
Autoria: Elaine Moreira
Autoria: O anúncio da chegada da pandemia no Brasil, em março de 2020, coincidia com a presença inconteste dos Warao em muitas cidades e estados no Brasil. A presença de indígenas Warao, naquele momento, se estendia para muito além do circuito conhecido em 2018 e 2019, quando se concentrava entre os estados de Roraima, Amazonas e Pará. Eles parecem ter visto primeiro o fechamento da fronteira com a Venezuela, antes mesmo que oficialmente isso acontecesse de fato. Viveram várias políticas frente à pandemia, conversaram sobre ela, se contaminaram, e algumas de suas vítimas, em estados como Roraima e Amazonas, foram integrados à triste contagem dos mortos, feita a partir de uma metodologia comunitária organizada pelas associações indígenas brasileiras como garantia de que as mortes indígenas não cairiam no anonimato. O anonimato, entretanto, segue sendo um desafio, não só frente à pandemia. Neste trabalho, traremos uma análise de fatos concretos diante do desafio que este povo tem vivenciado frente às políticas classificatórias de venezuelanos, indígenas, refugiados, migrantes, vulneráveis, e a política de controle pelo "contágio".