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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT72: Retomadas e tessituras no fazer antropológico

Alexandra Alencar, Edilma Nascimento

Visamos reunir neste espaço, estudos que abordem propostas de pesquisadores(as) que se deslocam deste lugar do "outro" e constroem uma narrativa de subjetividade implicada com epistemologias êmicas na feitura da teoria antropológica e na construção das ciências humanas, a partir da perspectiva de sujeitos que existem em diferentes contextos que outrora foram locais centrais para a reflexão sobre alteridade. Hoje, estes contextos passam a ser lócus participativos num processo de transformação social ocorrido na última década (Munanga, 2016; Gomes; 2012; Benites, 2018). Partindo da ideia de que as/os intelectuais que agora constroem suas propostas teóricas são pessoas que experienciaram seus cotidianos de vida nos contextos historicamente conhecidos como locais de "trabalho de campo" da antropologia brasileira, visamos expandir o debate a partir das reflexões propostas por estes/as pesquisadores/as, partindo de suas produções, vivências, experiências e grafias em reflexões antropológicas. Objetivamos assim, construir espaços que fomentem o debate sobre esses processos de retomada no fazer antropológico por esses sujeitos, como forma de expansão de suas lutas na produção de conhecimentos e reivindicações por direitos, localizadas no campo acadêmico. A proposta é ampliar e aprofundar o debate sobre as produções e as/os intelectuais, traçando cruzos (Rufino, 2018) que emergem do reposicionamento desses saberes e fazeres dentro da antropologia brasileira.

Palavras chave: retomadas; teoria; antropologia
Resumos submetidos
Transe dos tambores: etnografia, antropologia e liminaridade na pesquisa de campo
Autoria: Felipe Nunes
Autoria: O reposicionamento do lugar do antropólogo é um fato irreversível. Aquela imagem construída do antropólogo que sai da cidade e percorre milhares de quilômetros até uma comunidade desconhecida funciona mais como alegoria fundacional do que a representação do atual estado da disciplina, sobretudo das Epistemologias do Sul. Nas últimas décadas, a antropologia passou por profundas transformações, as quais foram capazes de fissurar as estruturas das antigas ordens de representação, principalmente daquelas que arquitetaram cânones, até outrora, intocáveis, tais como a imprescindível "distância" como pré-requisito a objetividade científica no trabalho antropológico. A formação de antropólogos negros, indígenas, feministas, LGBTQIA+, possibilitaram o surgimento de distintas abordagens discursivas e metodológicas capazes de produzir novas camadas as tessituras antropológicas a partir de trabalhos realizados dentro das suas próprias comunidades. O presente artigo pretende promover uma reflexão a partir da minha experiência enquanto antropólogo negro realizando uma pesquisa intragrupo. Durante três anos, desenvolvi uma investigação de campo com a Nação de maracatu que faço parte, a Nação Zambêracatu. Divididos em dois momentos, construí as atividades de campo, primeiramente, enquanto participante da performance, ou seja, batuqueiro. Em outro momento, acompanhei de forma "externa", isto é, sem desempenhar funções no batuque durante a apresentação do grupo. A partir da experiência dessa pesquisa intragrupo, delineio conjecturas em torno dos limites e possibilidades imbricadas neste tipo de investigação, ademais, suscitarei outros apontamentos importantes envolvendo as discussões seminais em torno do projeto ético construído pela antropologia e a possibilidade de pensar reelaborações epistêmicas a partir desses lugares da produção do conhecimento, e assim, contribuir na construção de uma antropologia polifônica.
Famílias negras e a escola no Território Quilombo Urbano Liberdade
Autoria: Karine Cristine Costa, Carlos Benedito R da Silva
Autoria: Este artigo trata da pesquisa em curso no Mestrado em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão que investiga no Território Quilombo Urbano Liberdade, São Luís -Maranhão especificamente na Escola Centro de Ensino Professor Luiz Alves Ferreira as Implicações raciais e sociais de fazer parte de um território quilombola e estudar na escola do bairro para as relações das familias e seus filhos com a escolarização. A socialização não acontece apenas no contexto escolar, ou seja, além das escolas existem outros espaços de socialização, como a família e outras instâncias. Os intelectuais negros pensam que a escola também tem responsabilidade na perpetuação das desigualdades raciais. Tradicionalmente o sistema de ensino brasileiro ensinou, e ainda ensina, uma educação pautada no embranquecimento cultural em sentido amplo. A educação formal brasileira foi pensada em moldes eurocêntricos, onde desqualifica o continente africano e inferioriza os negros, quer sejam brasileiros, quer sejam africanos. A análise se insere na preocupação das trajetórias escolares e familiares de estudantes negros, uma vez que raça é uma categoria que mantêm o povo preto na situação de exclusão e vulnerabilidade quando se trata do processo de escolarização. A pesquisa tem como referencial teórico- metodológico a perspectiva de autores e autoras negros(as). A centralidade na educação e nos processos das desigualdades em nossa sociedade , nos faz perceber, a precariedade das trajetórias escolares de negros comparados a não negros.