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ISBN: 978-65-87289-23-6
MR43: Paisagem, dinâmicas territoriais, processos identitários e conflitos socioambientais

Coordenação: Margarete F Nunes (UFRGS)

Debatedor/a: Pedro P. M. A. Soares (UFAM)
Participantes: Flávio Silveira (UFPA), Olavo Marques (UFRGS), Francine Ávila (IDEAU)

Resumo:
A partir das intersecções das categorias de classe, gênero, raça/etnia e trabalho, a Mesa Redonda em questão visa propor um debate sobre os imbricamentos de tais categorias nas formas de lutas/resistências/enfrentamentos coletivos que buscam tanto a defesa quanto os reconhecimentos das territorialidades/lugares de pertença e, muito especialmente, na articulação entre as lutas sociais e ambientais no Brasil contemporâneo. Neste sentido, a Mesa Redonda visa estabelecer reflexões sobre as complexas relações presentes nas dinâmicas territoriais, conforme os diferentes contextos onde emergem, tensionalmente, os processos identitários, os conflitos socioambientais e as transformações das paisagens no contemporâneo.

Palavras chave: Processos identitários, paisagem, conflitos socioambientais.
Resumos submetidos
O Morro da Borússia: Paisagens do Litoral Norte Gaúcho;
Autoria: Olavo Marques
Autoria: A apresentação aborda a área do Morro da Borússia, em Osório/RS, como lócus de identidade e conflito no Litoral Norte Gaúcho, pensando-a a partir da categoria paisagem - que permite abordar processos construção humana no espaço e no tempo a partir das confluências e tensões entre naturezas e culturas -, desvelando a urbanização da cidade de Osório, crescendo ao "pé da serra" e ligando estradas e caminhos que conduzem ao mar, ao sul e ao resto do Brasil, ao norte, e a uma porção de recuperações da Mata Atlântica. As paisagens do morro, situado na escarpa do Planalto Meridional, zona de transição entre a planície litorânea e o planalto, simbolicamente dividem este território em alto e baixo. Entre a vastidão da planície litorânea e seu "Rosário de Lagoas", a franja da orla e seu núcleos urbanos enredados e outra porção do território no alto do planalto, também esta extremamente diversa, dividida em unidades mais diminutas que passam por territorialidades locais, demarcadas por um comunitarismo que tem por base os vínculos com o lugar e as relações de vizinhança. Estas paisagens remontam também ao assentamento de diversos grupos étnicos que as compõem em sua diversidade - desde a imemorial presença indígena, passando pela presença açoriana, negra, italiana, alemã e, mais recentemente, por uma diversidade de grupos que buscam a região pela natureza e qualidade de vida que oferece. A Área de Proteção Ambiental do Morro da Borússia (instituída em 1994 pela Prefeitura Municipal) tem, atualmente, seu Plano de Manejo em processo de revisão, escancarando inúmeros conflitos, perspectivas e projeções de futuro quanto a este território. Conflitos que também se evidenciam quanto à a passagem de mais uma linha de Alta Tensão para escoamento da energia elétrica pelo território da APA. Em termos de uma memória ambiental, como propõem Devos e Ecertk & Rocha, o morro dá pistas de assentamentos populacionais, usos e processos, dinâmicas de transformação urbana e rural, bem como de investimento em perspectivas de desenvolvimento local e regional, na produção variedades agrícolas como cana-de-açúcar, banana, eucalipto e outras variedades. A encosta, profundamente alterada ao longo do tempo, hoje exuberante enquanto um conjunto complexo de paisagens, patrimônio natural-cultural-ambiental, revela-se como território plural de transformações, permanências e conflitos - de ocupação descontrolada, parcelamento irregular do solo, turistificação por vezes predatória, bem como de políticas preservacionistas, criação de redes de solidariedade, experiências de produção agroflorestal, entre outras formas de manejo sensíveis à etnobiodiversidade local.
Belém, a "cidade morena": fronteiras culturais e conflitos socioambientais na metrópole amazônica contemporânea
Autoria: Flávio Silveira
Autoria: A proposta desta apresentação é a de contribuir com, e para, o debate sobre as problemáticas socioambientais urbanas na cidade de Belém (PA), a partir das reflexões que tenho realizado nos últimos anos1, mais diretamente ao que se refere às complexidades entre humanos e não-humanos nos ecossistemas urbanos-mais-que-humanos2 na/da capital paraense, mediante um esforço teórico-metodológico relacionado com o que tenho chamado de Ecoantropologia Urbana (Silveira, 2020; 2021), que se apóia na etnografia de rua (Eckert; Rocha, 2013). Neste sentido, a cidade de Belém - "a cidade morena"/"a metrópole amazônica" - revela-se um complexo de (des)arranjos socioambientais atravessados por assimetrias de diversas ordens (sociais, econômicas, ambientais, ontológicas, paisageiras, entre outras), que atingem as paisagens citadinas de determinados bairros e suas ambiências, principalmente aqueles considerados pauperizados em relação a certas zonas/áreas enobrecidas. Na cidade de Belém, o tradicional se confunde com o ciborgue (Swyngedouw, 2001) na e para a conformação de paisagens urbanas tensionadas pelas diversas formas de habitá-las - vinculadas, como disse, as enormes assimetrias socioeconômicas; as naturezasculturas se imbricam contraditorialmente (no sentido de Maffesoli, 1980), gerando laços complexos/(des)ordenados, para o bem e para o mal, mediante formas de ocupação dos espaços que se desdobram na reconfiguração dos lugares de pertença - segregando, excluindo, disciplinando, mas também produzindo formas de sociabilidades intensas (geralmente, festivas).
Diálogos sobre Demarcação de Território Quilombola: Palmas - Uma análise do conflito na Região da Fronteira
Autoria: Francine Ávila
Autoria: Debater as questões quilombolas é, diretamente, contribuir com o diálogo entre as categorias e imbricamentos propostos na Mesa Redonda apresentada, sobretudo no que diz respeito às lutas e resistências em defesa das territorialidades e existências. Por isso, a proposta desta apresentação é apresentar os fatores que sustentam o tensionamento e o conflito existentes na comunidade rural de Palmas, na cidade de Bagé/RS, comunidade em que os quilombolas se polarizaram e agiram para tentar anular judicialmente o processo demarcatório do território, buscando expor de forma geral os fatores que provocaram a cisão da comunidade quilombola e a manutenção do conflito, levantando também os temas relacionados aos processos demarcatórios das Comunidades Quilombolas e as suas peculiaridades históricas, geográficas e culturais, além da atuação dos proprietários rurais da região, dos sindicatos e das associações rurais e o reflexo disso para a situação de tensão e conflito.