Participantes: Fiona Ross (UCT), Patrícia Godinho Gomes (UFBA), Cynthia Sarti (UNIFESP)

Resumo: 
São conhecidos os esforços empreendidos por democracias recentes em países devastados por ditaduras ou regimes totalitários, para, por meio de tecnologias sociais e políticas (comissões de verdade e outros instrumentos transicionais), reparar os danos e sofrimentos causados pela violência. Sabe-se igualmente dos limites das ações estatais de reparação, diante de violações que transcendem momentos de exceção e, oscilando entre modos "racionais e mágicos", impregnam o tecido social, produzindo e reproduzindo incessantemente redes desiguais de relações. Interconectadas por vários eixos de diferenciação social, são relações marcadas por uma economia moral que coloca gênero e raça/etnia como operadores fundamentais na produção da desigualdade, evidenciando seus efeitos no contexto atual da pandemia de Covid 19. Esta mesa tem por objetivo discutir essas formas de produção de desigualdade e sofrimento, buscando compreender como os sujeitos atingidos e suas famílias vêm reocupando esses signos de violação. Não se trata de analisar os eventos, mas as formas como se inscreve a violência na vida de quem as experiencia. Como a desigualdade afeta o valor da vida? Como se vive quando a vida é afetada por intenso colapso de sentido? Buscamos explorar os sentidos da "vida precária" em diferentes contextos, Brasil, Guiné, África do Sul, ali onde eles podem ser percebidos, na vida cotidiana, em suas formas variadas de expressão, nos interstícios burocráticos, morais, sociais e econômicos.