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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT04: Antropologia da criança

Emilene Leite de Sousa, Flávia Pires

Este GT visa agregar pesquisadores que tenham se dedicado a pesquisar com e sobre crianças com o intuito de reunir as pesquisas da Antropologia da Criança e áreas afins. Esperamos poder contribuir para a compreensão da atuação das crianças, como sujeitos, na sociedade atual, especialmente através de perspectivas críticas e anti-coloniais, que apontem para uma saída viável para o capitalismo. A multiplicidade das infâncias, enquanto categoria estrutural dentro do ciclo geracional, através de suas vivências e contextos indígenas, quilombolas, ciganas, camponesas, em reservas extrativistas, ribeirinhas ou nas cidades estará presente. Selecionaremos propostas que tratem dos aspectos ético-metodológicos das pesquisas com crianças, contemplando o uso do método etnográfico e da observação direta, métodos experimentais, dentre outros. Temas como educação, mobilidade, produção dos corpos, ludicidade, aprendizagens, trabalhos, religiosidades, políticas públicas e usos dos espaços públicos estão entre os que esperamos receber. Infâncias institucionalizadas em casas de acolhimento ou abrigos também serão consideradas. As experiências com a infância de quaisquer minorias ou em condição de migrantes ou refugiadas também serão contempladas.

Palavras chave: Crianças. Experiências. Multiplicidade. Métodos de pesquisa.
Resumos submetidos
No campo com (das) crianças: o tecer de uma horizontalidade etnográfica
Autoria: Gabriela Najara Zonin Frantz
Autoria: Esta proposta de comunicação trata-se de um recorte da dissertação de mestrado na qual descrevo os passos da pesquisa com crianças pequenas realizada na Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo (UEIIA), escola-pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), composta por turmas multietárias. Discorro sobre o primeiro contato com as crianças, a entrada no campo, a aceitação, os ajustes do olhar e da conduta do pesquisador adulto no campo com (e das) crianças. Com base na abordagem antropológica delineada por Clarice Cohn (2005; 2013) que se movimenta no afastamento do referencial adultocêntrico junto ao modo de pesquisa "com" e não "sobre" crianças indicado por William Corsaro (2005; 2011), busca-se a construção de uma horizontalidade etnográfica na qual o pesquisador adota a conduta da equiparação e envolvimento com as crianças. A partir dos registros do diário de campo foi possível compreender que a horizontalidade etnográfica proporciona um contexto de correspondência e estabelece a primazia da perspectiva das crianças. Este estudo visa fomentar os debates acerca da conduta investigativa na pesquisa com crianças e de um fazer antropológico, nos passos de Tim Ingold (2019), mobilizado em tornar as crianças visíveis.
Na beira da beira: condições de vida das crianças que vivem às margens da BR-101 em Teixeira de Freitas-BA/Brasil.
Autoria: Ananda da Luz Ferreira, Herbert Toledo Martins
Autoria: Nesse trabalho apresentamos uma investigação sobre crianças que vivem nas margens da BR-101, no trecho que corta a cidade de Teixeira de Freitas, no Extremo Sul da Bahia - Brasil. As crianças vivem na beira da estrada com suas famílias que ocupam as faixas laterais de terra de domínio da União. As condições que as crianças e suas famílias vivem são desfavoráveis no que diz respeito aos seus direitos, pois vivem sem água potável, energia elétrica e banheiro dentro de casa. Trata-se, portanto, de uma população em situação de risco e extrema vulnerabilidade social. A partir de um olhar interdisciplinar com aportes teóricos da Antropologia e Sociologia da Educação pretende-se investigar como as crianças se percebem e criam saberes sobre seus modos de vida, a partir das suas próprias narrativas e da compreensão do contexto socioeconômico que estão inseridas. A estratégia metodológica recai sobre o método qualitativo com a realização de encontros em formato de oficinas para que as crianças tenham a possibilidade de narrar, de diferentes formas, suas percepções e visões sobre o que é morar na beira da BR-101. Com os resultados alcançados buscaremos evidenciar, a partir das narrativas das crianças, a ausência de Políticas Públicas que assista e proteja essa população. Palavras-Chaves: Infâncias; Crianças; BR-101; Narrativas; Teixeira de Freitas-BA.
Desafios de crianças e adolescentes com doença falciforme no brincar
Autoria: Bruna Tavares Pimentel
Autoria: Algumas das importantes contribuições dos estudos antropológicos e sociológicos da criança e das infâncias, é considerar a agência das crianças (CORSARO, 2011; PIRES, 2008) e reconhecer a infância na sua pluralidade (PINTO, 1997). Com base nessa abordagem teórica o texto busca compreender o brincar na infância e adolescência de crianças e adolescentes com doença falciforme, considerando a subjetividade, a realidade de cada uma (um) e os marcadores sociais de raça e classe. A doença falciforme é uma doença genética que para evitar o agravamento dos sintomas são necessárias algumas restrições, que são mais evidentes e questionadas na infância. A pesquisa é resultado de um trabalho de campo, e recorte da pesquisa de mestrado, realizada com crianças e adolescentes no estado da Paraíba em 2019. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, e para a coleta de dados, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas durante a produção de desenhos. O resultado do estudo aponta que as formas de lazer e o brincar são as maiores queixas das crianças e adolescentes, no que tange às restrições, algumas delas são: não poder brincar tomando banho de chuva, não participar de brincadeiras que exigem esforço físico, não brincar na rua, entre outros. Além disso, a pesquisa mostra a perspectiva/ótica das crianças e adolescentes sobre o que é brincar.
"Porque criança cresce, né?": reflexões antropológicas sobre a Síndrome Congênita do Vírus da Zika a partir da ciência feita com a população pediátrica
Autoria: Thais Maria Moreira Valim
Autoria: O ano de 2015 foi palco de um evento que marcou o Brasil, sobretudo as mulheres brasileiras e seus filhos e filhas, de inúmeras formas: a epidemia do vírus da Zika. Esse patógeno, originalmente identificado em Uganda no ano de 1947, chegou aos trópicos trazendo consigo uma novidade nunca antes registrada na literatura médica: o nascimento de crianças com alterações no desenvolvimento fetal, quadro que se estabilizou na literatura científica como a Síndrome Congênita do Vírus da Zika (SCVZ). Esses recém-nascidos apresentavam um quadro de múltiplas deficiências que envolviam desde alterações neurológicas até manifestações oftalmológicas, cardíacas, ortopédicas, entre outras. Essa consequência reprodutiva levou a OMS a classificar a situação como uma emergência em saúde a nível global, movimentando inúmeros investimentos para responder à situação (Diniz, 2016). A ciência, sobretudo nas especialidades clínicas, foi diretamente convocada na resposta a essa epidemia (Simas, 2020) , levando inúmeros pesquisadores e pesquisadoras até essas crianças e suas mães, em uma tentativa de compreender como estava ocorrendo o desenvolvimento desses bebês recém-nascidos. Como a síndrome demandava uma atenção de múltiplas especialidades para um grande volume de crianças, nem sempre as cientistas envolvidas na resposta ao Zika vírus e a síndrome a ele associada tinham experiência prévia com a população pediátrica. A partir de um conjunto de entrevistas realizadas com cientistas diretamente envolvidos na resposta à epidemia do Zika na região metropolitana de Recife em 2018 e em 2022, procuro, neste trabalho, analisar de que forma a infância, enquanto categoria estrutural (Qvortrup, 2010), atravessou o fazer científico desse amplo conjunto de pesquisadoras e pesquisas. O objetivo principal do paper é, por um lado, refletir sobre as particularidades e especificidades do corpo infantil para diferentes especialidades da ciência, e, por outro, pensar em como a situação de epidemia modificou, aperfeiçoou, atualizou ou inovou tais especialidades. Um segundo objetivo é pensar sobre como as contribuições da Antropologia da Criança podem adensar a reflexão acerca de metodologias e ética em pesquisas feitas com essa população.