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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT67: Reduções, missões e aldeamentos indígenas nas américas: um percurso entre a antropologia e a história

Rafael Mendes Júnior, Vicente Cretton Pereira

A proposta deste grupo de trabalho é reunir pesquisadores cujos trabalhos girem em torno ou tenham como foco o contexto ameríndio reducional e missioneiro (América espanhola) e de aldeamentos (no caso da América portuguesa). Os paradigmas analíticos em torno dos quais pretendemos debater envolvem de um lado a antropologia histórica concebida como uma proposta de compreender o sentido dos discursos e das ações dos atores do passado no próprio contexto em que foram produzidas, i.e., tratar-se-á, acima de tudo, de indagar sobre os sentidos que esses atores deram ao seu próprio presente. De outro lado, empregaremos o que se se tornou conhecido como "crítica etnográfica": uma releitura das fontes documentais com base na experiência etnográfica do pesquisador, sem, no entanto, realizar uma simples projeção. Esperamos contribuições cujas análises estimulem reflexões sobre as transformações e ressignificações enfrentadas pelos diversos coletivos indígenas em contexto de aldeamento ou missionário entre os séculos XVI e XIX, principalmente no que diz respeito às dinâmicas destes coletivos, sua autonomia, identidade, resistência, alianças, padrões de residência, epidemias, guerras interétnicas e intertribais, a poligamia, o canibalismo, a noção de pessoa, variações demográficas e o xamanismo.

Resumos submetidos
O nome e os rastros: uma análise do uso das classificações sociais no apagamento da presença dos indígenas do antigo aldeamento da Jacoca, na Paraíba.
Autoria: Amandda Figueiredo
Autoria: A Sesmaria da Jacoca foi concedida como recompensa aos indígenas identificados como da nação tabajara, por auxiliarem os portugueses nas Guerras de Conquista da Paraíba, sendo o grupo lá aldeado no início do século XVII (MURA et al., 2010;TAVARES, 1910). Após as Legislações Pombalinas (século XVIII), o aldeamento da Jacoca foi elevado à Vila do Conde, uma vila de índios que recebeu intenso fluxo de colonos que se instalaram nas terras do patrimônio indígena (CARVALHO, 2008). Na segunda metade do século XIX, sob a justificativa de que os indígenas estavam miscigenados à população regional, as terras do aldeamento foram loteadas e vendidas à elite agrária que ali se consolidava. Foram concedidos a alguns dos índios que viviam aldeados 58 lotes individuais de aproximadamente 30 hectares cada (MURA et al., 2010; MARQUES, 2015). Tomando a relação nominal desses indígenas como bússola no labirinto documental (GINZBURG e PONI, 1991) das paróquias e cartórios da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Jacoca e da Cidade da Parahyba, atual João Pessoa, para onde alguns migraram em fins do século XIX, analiso o desaparecimento da categoria de índio após 1860 dos registros de algumas famílias que viviam aldeadas, cujos membros passam a ser classificados como pardos ou morenos. Desde 2006 descendentes de um dos proprietários dos lotes iniciaram uma mobilização étnica que objetiva o reconhecimento identitário e a demarcação territorial de parte das terras do antigo aldeamento. Assim, o método onomástico (GINZBURG e PONI, 1991; SILVA, 2016) permitiu a reescrita de fragmentos da história desse povo sem história (GINZBURG e PONI, 1991; WOLF, 2005), de modo a refazer alguns dos caminhos de seu desaparecimento. O trabalho divide-se em três partes: na primeira discuto o método da micro-história, a construção do social e a pesquisa onomástica (GINZBURG e PONI, 1991; REVEL, 1998); na segunda apresento o contexto histórico do período no qual a documentação foi produzida; por fim, na terceira parte analiso o uso das classificações sociais (BOURDIEU, 1989; PACHECO DE OLIVEIRA, 1997) que possibilitaram o ocultamento da presença desses indígenas nos registros e, consequentemente, no imaginário social paraibano.
Notas comparativas sobre as terminologias de parentesco guarani nos séculos XVII, XVIII e contemporâneas.
Autoria: Rafael Fernandes Mendes Júnior
Autoria: O presente trabalho tem o propósito de retornar a dois catecismos dos séculos XVII e XVIII para realizar uma análise comparativa da terminologia de parentesco guarani aí presentes e a terminologia contemporânea. O primeiro catecismo foi escrito pelo padre Antônio Ruiz Montoya, em 1639, intitulado Aba retã; o segundo, por Nicolas Yapuguai, catecúmeno guarani, sob a supervisão do padre Pablo Restivo, em 1724, intitulado Explicacion de el Catechismo en lengua guarani. Para o contexto atual, utilizarei a terminologia compilada em minha experiência de campo. Espera-se, neste exercício, sinalizar as permanências e as transformações tanto em face dos termos empregados quanto em relação às categorias que estes termos mobilizam.
A sesmaria dos índios de São Pedro (RJ): de aldeia à cidade
Autoria: Vicente Cretton Pereira
Autoria: A proposta deste grupo de trabalho é reunir pesquisadores cujos trabalhos girem em torno ou tenham como foco o contexto ameríndio reducional e missioneiro (América espanhola) e de aldeamentos (no caso da América portuguesa). Os paradigmas analíticos em torno dos quais pretendemos debater envolvem de um lado a antropologia histórica concebida como uma proposta de compreender o sentido dos discursos e das ações dos atores do passado no próprio contexto em que foram produzidas, i.e., tratar-se-á, acima de tudo, de indagar sobre os sentidos que esses atores deram ao seu próprio presente. De outro lado, empregaremos o que se se tornou conhecido como “crítica etnográfica”: uma releitura das fontes documentais com base na experiência etnográfica do pesquisador, sem, no entanto, realizar uma simples projeção. Esperamos contribuições cujas análises estimulem reflexões sobre as transformações e ressignificações enfrentadas pelos diversos coletivos indígenas em contexto de aldeamento ou missionário entre os séculos XVI e XIX, principalmente no que diz respeito às dinâmicas destes coletivos, sua autonomia, identidade, resistência, alianças, padrões de residência, epidemias, guerras interétnicas e intertribais, a poligamia, o canibalismo, a noção de pessoa, variações demográficas e o xamanismo.