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ISBN: 978-65-87289-23-6
MR32: Interfaces entre História e Etnologia Indígena: abordagens contemporâneas

Coordenação: Spensy K. Pimentel (UFSB)

Participantes: Rafael Mendes Júnior (UFF), Elizabeth Pissolato (UFJF), Maria Rosário de Carvalho (UFBA), Cristina Pompa (UNIFESP)

Resumo:
A mesa redonda propõe-se a reunir antropólogos que, a partir de seus trabalhos mais recentes, apresentarão diversas perspectivas sobre as possibilidades de conexões entre esses dois campos. Pretende-se, então, criar um espaço de diálogo que colabore para que o público possa compor um panorama sobre convergências ou encruzilhadas surgidas a partir dessas pesquisas. Entendendo a história a partir de uma perspectiva benjaminiana, podemos perceber a importância da renovação constante desses diálogos, uma vez que as visões que construímos sobre o passado dos povos ameríndios e nossas análises sobre o presente influenciam-se mutuamente. Os convidados dedicam-se a contextos etnográficos diversos, mas que têm em comum intensos históricos de contatos entre os povos indígenas e as iniciativas de missionarização a partir de aldeamentos católicos. Em pauta, concretamente, teremos aqui pesquisadores que têm buscado, em fontes históricas, elementos para aprofundar a compreensão de cenários contemporâneos ao mesmo tempo em que utilizam dados etnográficos para buscar adensar as reflexões sobre a historiografia, utilizando diferentes instrumentos, como dados censitários, relatos ou documentos oficiais.

Palavras chave: história indígena; etnologia indígena; aldeamentos e reduções
Resumos submetidos
Antropologia histórica e missões: bases empíricas e questões metodológicas
Autoria: Cristina Pompa
Autoria: O espaço das missões é um lócus privilegiado para repensar, na longa duração, a história indígena, a política indigenista, os processos de mediação e de interculturalidade. A antropologia histórica aqui proposta consiste no esforço metodológico de historização tanto de seu objeto quanto de suas categorias de análise. No primeiro caso - o objeto - se trata de entender a "história indígena" como a maneira indígena de pensar e de fazer a história, o que implica a ideia de uma maneira diferencial de interpretar o devir e de se relacionar com a alteridade. Quanto às categorias de análise, uma investigação histórica permite reconstituir a dinâmica de certos conceitos que, criados e reelaborados em determinados ambientes histórico-sociais (no caso, o debate sobre a "natureza" dos homens americanos, sua "religião" e sua possibilidade de "civilização") atravessaram o Brasil colônia, o período pombalino e o Império, entrando na própria construção da identidade nacional. Entre recuos e avanços, essas noções chegaram até as modernas ciências sociais e são hoje apropriados pela linguagem de autodeterminação dos próprios povos indígenas, em sua luta política pelo reconhecimento, tornando-se também instrumentos de políticas públicas pautadas pela etnicidade. A base empírica das reflexões apresentadas é constituída pelos resultados de duas pesquisas documentais sobre os chamados "Tapuia" do Nordeste. O primeiro trabalho, já publicado, sobre as relações entre índios e missionários no Brasil colonial (séculos XVI e XVII), procurou mostrar que a conceptualização das diferenças e as relações sociais e políticas entre diferenças se deram em termos de negociação, mediação e transformação de práticas e símbolos, no interior do quadro político extremamente instável. A segunda pesquisa, relativa aos séculos XVIII e XIX, enfocou processos históricos concretos de fusão de grupos indígena na população rural do sertão semiárido, ou, ao contrário, de manutenção e construção de autonomia cultural, o que estaria na base dos fenômenos hodiernos de "etnogênese" no Nordeste.
Os Kariri-Sapuyá da Pedra Branca através das lentes da História e da Etnologia
Autoria: Maria Rosário de Carvalho
Autoria: Tenho transitado, muito frequentemente, entre a História Indígena e a Etnologia e, mais recentemente, apoiada em um conjunto expressivo de documentos -- predominantemente oriundos do Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB) e recobrindo o período 1759-1904 -- e em registros etnológicos produzidos ao longo de várias experiências de campo, elaborei o livro Trajetórias e Histórias Insurgentes Os Kariri-Sapuyá da Pedra Branca, recôncavo sul baiano, ao longo do qual eu tento percorrer o trajeto desses Índios através de uma etnografia histórico-antro(etno)pológica. A exposição na MR 32 da 33ª RBA versará sobre o percurso ali efetuado mediante a relação entre a história indígena e a etnologia, buscando problematizar certas questões de ordem teórico-metodológica.
Reconstruindo genealogias: notas para o estudo do parentesco guarani nos Padrones espanhóis
Autoria: Rafael Mendes Júnior
Autoria: A Província jesuítica do Paraguai foi efetivamente fundada em 1607, por determinação do General da Companhia de Jesus Claudius Aquaviva, separando-se definitivamente da Província do Peru. Em 1609, deu-se início ao processo de instalação das reduções jesuíticas, San Inácio Guazu, na Nossa Senhora de Loreto e San Ygnacio, próximo a alguns coletivos guarani, e, mais tarde, nas províncias do Itatim, Tape e Uruguay. Desde então, até a expulsão dos Inacianos em 1768, a história da colonização espanhola na região do cone sul da América do Sul esteve intrincada com o crescimento das missões jesuíticas em face da atração, redução e conversão de índios guarani. Neste período produziu-se um volume copioso de fontes documentais como cartas anuas, catecismos e diversos documentos contábeis, administrativos e jurídicos. O objetivo dessa apresentação é retornar a um conjunto desses documentos administrativos conhecidos como Padrones, em particular aqueles referentes aos anos de 1715 e 1772 para a redução de Loreto, e buscar extrair deles elementos para uma análise antropológica acerca da organização social dos Guarani missioneiros. À primeira vista, os Padrones são listas extensas dos índios que residiam em cada redução. Apresentam, portanto, dados demográficos referentes às famílias nucleares de cada cacicado e, sobretudo, o número de tributários. Neste trabalho, deixo de lado o aspecto demográfico e tributário dos Padrones para explorar os dados sobre as relações entre sobrenomes e idades relativas das pessoas e famílias, reconstruindo assim genealogias que nos permitirão compreender determinadas dinâmicas sociais daqueles coletivos.