Check
ISBN: 978-65-87289-23-6
MR03: A Descolonização do Conhecimento na Antropologia

Coordenação: Gustavo Lins Ribeiro (UAM-L, UnB)

Debatedor/a: Antonádia Monteiro Borges (UFRRJ)
Participantes: João Pacheco de Oliveira (MN/UFRJ), Cristiana Bastos (Universidade de Lisboa), Gustavo Lins Ribeiro (UAM-L, UnB)

Resumo: 
O aperfeiçoamento teórico, epistemológico, metodológico, profissional e político da antropologia, pressupõe um alerta permanente e cambiante quanto às diferentes formas de reproduzir a disciplina em todos estes planos. Após décadas de críticas pós-coloniais, decoloniais e do projeto das antropologias mundiais, a disciplina volta a enfrentar o problema dos colonialismos e como estes violentos processos de longa duração continuam afetando nossas práticas. O que significa descolonizar a antropologia no Brasil e fora dele? Ao tratar de responder essa pergunta ampla, nossa Mesa Redonda pretende contribuir para um debate central para o presente e futuro antropológicos.

Palavras chave: Descolonização;
Resumos submetidos
Descolonização do conhecimento e Pós-imperialismo
Autoria: Gustavo Lins Ribeiro
Autoria: Colonialismo e imperialismo são duas faces de antigos processos históricos de expansões demográficas, econômicas, políticas e culturais. Eles foram impulsionados pelo desenvolvimento do sistema mundial capitalista após seu início no século XVI. Em consequência, o que hoje é chamado de Américas tornou-se uma enorme colônia de povoamento, invadida por espanhóis, portugueses, ingleses e franceses. A resistência nativa e afro-diaspórica ao empreendimento colonial tem sido comum desde então e inclui conflitos armados, bem como formulações discursivas de intelectuais e líderes políticos. A descolonização deveria significar o fim do colonialismo com o advento da independência política. No entanto, poderosas estruturas coloniais continuam afetando a vida pós-colonial. Mencionarei alguns esforços latino-americanos para descolonizar o conhecimento e a política, como a colonialidade do poder, o Buen Vivir/Vivir Bien e o esforço teórico da comunalidad. Também mencionarei a necessidade de descolonizar ainda mais o pensamento das ciências sociais e em especial o antropológico, uma disciplina que surgiu da necessidade de pensar as zonas de contato conflitivas criadas pelo colonialismo/imperialismo moderno. Terminarei apresentando a noção de pós-imperialismo como um instrumento heurístico utópico destinado a desestabilizar o par colonialismo/imperialismo.
'Tão invisível quanto o ar que se respira': O enraizamento histórico e social do debate sobre a descolonização da antropologia
Autoria: João Pacheco de Oliveira
Autoria: O debate quanto a descolonização da antropologia pode ser enriquecido com o seu enraizamento histórico e social. Em um país como o Brasil, em que o poder desde a sua fundação se assentou sobre a escravidão, o exercício do trabalho compulsório e sobre o monopólio dos recursos naturais, os preconceitos étnico-raciais são tão invisíveis na produção científica e artística quanto o ar que se respira. Há poucas décadas a palavra descolonização pouco uso e significado tinha, à diferença por exemplo do contexto da Europa Ocidental, Índia e da África. Nos últimos anos tornou-se uma bandeira importante para os debates no interior da academia e nas pesquisas em andamento. Que fatores motivaram tal mudança de atitude? Trata-se somente de reflexo do giro decolonial nas antropologias hegemônicas? Que usos sociais e políticos contrastantes a temática da descolonização pode inspirar e quais são os seus reflexos na Antropologia praticada no Brasil e na América Latina? Essas são as questões que buscarei discutir nesta breve comunicação.
A vida e a política dos conceitos
Autoria: Cristiana Bastos, -
Autoria: Para esta Mesa-Redonda vou trazer algumas reflexões críticas sobre os usos, contestações e experimentações, por parte de pesquisadores, mídia, ativistas e públicos, de conceitos como raça, etnia, cultura, racializações, etnicidades, colonialismo, colonos, impérios, indígenas, nações, nativismos, etc. Para além de uma breve retrospectiva das flutuações destes conceitos na antropologia e disciplinas vizinhas, vou usar referências empíricas de largo espectro, incluindo Hawaii, Guiana, Suriname, Angola, estudados no contexto do projeto "The Colour of Labour - the racialized lives of migrants", e ainda, se o tempo o permitir, trazer referências de estudos anteriores na Europa, Estados Unidos e Brasil.