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ISBN: 978-65-87289-23-6
MR54: Violência de gênero na academia e na pesquisa antropológica

Coordenação: Heloisa Buarque de Almeida (USP)

Debatedor/a: Tânia Mara Campos de Almeida (UnB)
Participantes: Fabiene Gama (UFRGS), Vivian Andrea Martínez Díaz (Universidad de Los Andes), Carolina Bezerra (UFJF), Heloisa Buarque de Almeida (USP)

Resumo:

Esta mesa redonda visa apresentar reflexões e debates recentes na antropologia sobre a temática da violência de gênero na academia, incluindo reflexões sobre a pesquisa de campo. O foco recai sobre a compreensão dos fenômenos agora nomeados como “assédio sexual”, categoria de violência sexual que tem tido muita repercussão a partir de meados da década passada, em especial através de campanhas feministas no Brasil como #MeuPrimeiroAssédio e #MeuProfessorAbusador, que ganharam ampla repercussão nas universidades públicas em escrachos, páginas do Facebook, ou posts no Twitter, e mesmo denúncias formais nas instâncias universitárias ou judiciárias. O tema tem tido também forte repercussão pela força dos movimentos feministas na América Latina, com muitos grupos e redes associadas a ambientes acadêmicos. Os trabalhos desta mesa visam compreender que tipo de agressões de gênero estão em jogo no ambiente acadêmico, nas universidades e também nos trabalhos de campo. Interessa-nos particularmente aquelas nomeadas como assédio. Aqui, refletiremos sobre como os casos foram denunciados, ganharam visibilidade e demandaram a criação de novas instâncias acadêmicas para acolhimentos de vítimas, apuração de denúncias, e propostas educativas como prevenção de agressões. Em muitos dos casos conhecidos, denunciar significa também um risco à carreira acadêmica de pessoas que foram assediadas e a permanência dessas pessoas na academia.

Palavras chave: gênero; violência; universidade
Resumos submetidos
Precisamos falar sobre assédio na universidade?
Autoria: Heloisa Buarque de Almeida
Autoria: Nesta fala, busco refletir sobre a construção pública da categoria "assédio sexual" a partir de eventos que se deram em torno de algumas universidades públicas e a repercussão de casos nas mídias sociais e na imprensa. Tomando como ponto de partida a CPI na Assmbleia Leguslativa do Estado de São Paulo em 2015 e minha atuação junto ao movimento social feminista de docentes, denominado "Rede Não Cala USP", busco analisar aqui alguns casos de assédio sexual que pude acompanhar e os mecanismos formais e informais de apuração e negociação de conflitos no ambiente acadêmico. Nesta fala, exploro especialmente a questão dos marcadores sociais da diferença e como as hierarquias acadêmicas e institucionais afetam a repercussão, visibilidade e desdobramento dos casos.
Raça, Classe e Sexualidade: Consentimento e Violência de Gênero na Universidade
Autoria: Carolina Bezerra
Autoria: Na minha fala desejo apresentar a relevância do tema da violência de gênero no ambiente universitário, pontuando as possibilidades de análise a partir da interseccionalidade e dos marcadores sociais da diferença, para a compreensão das disputas presentes nas relações sociais, intelectuais, de poder e hierárquicas nas universidades. Pontuar sobre os padrões existentes, partindo do trabalho de campo, de escuta e acolhimento empreendido pelo Coletivo Marielle Franco/UFJF, articulados com as entrevistas em profundidade realizadas com as vítimas/denunciantes/sobreviventes de várias universidades brasileiras, me possibilitou evidenciar as disputas existentes entre os termos e conceitos utilizados para nominação dos atos praticados, mostrando que além da violência, do assédio e do consentimento não serem categorias auto evidentes, incidem de maneira diversa nos diferentes corpos que circulam, habitam e se formam nesse espaço, a partir dos seus pertencimentos. A discussão sobre consentimento deve considerar as desigualdades estruturais que perpassam as dimensões de raça, gênero, classe social, orientação sexual, geração, território e deficiências, dimensões situacionais relevantes para serem compreendidas em seus diferentes "lugares de fala" (SPIVAK, 2010) e de construção, perpetuação e articulação de subalternidades. Combinada com a reprodução das moralidades, normatividades e performatividades de gênero (BUTLER, 2019, 2014), desejamos problematizar como os marcadores sociais da diferença produzem interseções que, para além de ser uma somatória de opressões, produzem corpos puníveis nesse ambiente, passíveis de violências diversas.
Experiências de assédios e violências de gênero em universidades: reflexões sobre denúncias, mediações e encaminhamentos
Autoria: Fabiene Gama
Autoria: Nesta fala apresentarei algumas reflexões sobre experiências de assédios e violências de gênero em universidades brasileiras. Através de alguns casos e ações que ocorreram a partir de 2013, examinarei algumas dinâmicas das violências de gênero e sexuais neste contexto, seus desdobramentos e como elas se relacionam com o adoecimento mental e a evasão de estudantes no ensino superior. O objetivo é apontar para os desafios que encontramos ao nos dirigir ao problema, considerando algumas possibilidades para seu enfrentamento na universidade a partir do que tem sido proposto por diferentes professoras e pesquisadoras brasileiras. Ao comparar casos e encaminhamentos de diferentes universidades, buscarei apontar para o papel das universidades não apenas no debate, mas também no combate a essas violências.