Check
ISBN: 978-65-87289-23-6
GT29: Deficiência e Antropologias: perspectivas críticas e contemporâneas

Pedro Lopes, Anahi Guedes de Mello

O tema da deficiência oferece uma perspectiva crítica, disruptiva e densa ao trabalho antropológico, da teoria à técnica, da ética à metodologia. O objetivo deste GT é reunir pesquisas, em andamento ou concluídas, que se dedicam à complexidade e multiplicidade da deficiência enquanto experiência e categoria, a partir de variadas abordagens que têm emergido na investigação antropológica e etnográfica: articulações entre deficiência, raça, etnia, gênero, sexualidade, classe, religião, geração, idade e nacionalidade; deficiência nos ativismos e movimentos sociais, em suas interfaces e relações com o Estado e as políticas públicas, as cidades, territorialidades e redes sociais; produções culturais e artísticas contra-hegemônicas; narrativas biográficas, narrativas de si e autoetnografias; analíticas e teorias dos Estudos da Deficiência, da Teoria Crip e outras vertentes associadas, como os estudos feministas e os estudos decoloniais; práticas, políticas e redes sociotécnicas de cuidado que mobilizam e ampliam o alcance das reflexões sobre "autonomia" e "(inter)independência"; pessoas com deficiência no mercado de trabalho e no campo educacional; articulações e desarticulações entre deficiência e saúde, com especial atenção aos debates sobre epidemias e pandemias; disputas de fronteira no campo da deficiência, como no caso dos autismos, surdezes, cronicidades, dentre outros.

Palavras chave: Deficiência; Marcadores Sociais da Diferença; Antropologias
Resumos submetidos
Gêneses insurgentes: perspectivas antropológicas sobre deficiência física, vivacidades e volúpias nas noites curitibanas
Autoria: Deiler Raphael Souza de Lima, Cláudia Liliane Viana, José Ricardo Pacheco
Autoria: Este artigo decorre de uma etnografia realizada entre os meses de setembro de 2018 e março de 2019, delineada pelo acompanhamento de um rapaz com deficiência física em estabelecimentos de lazer noturnos, especificamente, três casas noturnas da cidade de Curitiba-PR. A priori, tendo como objetivo, compreender como se dá o usufruto de sua vida social, bem como, as relações de sociabilidades e entrelaçamentos que se estabelecem com e nesses ambientes. Em síntese, entende-se que esses estabelecimentos, denotam para uma circularidade assídua de seus frequentadores, de modo que, a permanência do interlocutor no local, reverbera uma intersecção entre o usufruto da vida social e as garantias e efetivações de Políticas Públicas que possibilitem a participação e contribuam para a inclusão de pessoas com deficiência em estabelecimentos de lazer públicos e privados, haja visto, que o Direito Social ao Lazer está salvaguardado sob a égide dos Direitos Humanos. Nesse sentido, o que se almeja, ainda que, de maneira sucinta, é a construção de uma política emancipatória e/ou uma "Cultura dos Direitos Humanos" efetiva, que para além do diálogo intercultural, seja entre sociedades distintas ou em sua própria, não avente para Universalismos a priori, mas que, garanta a existência da multiplicidade humana, o que inclui, as subjetividades e intersubjetividades de seus constituintes. Por sua vez, no que se refere as pessoas com deficiências corresponde as guisas para experenciação de suas corporeidades com os ambientes, isto é, a postulação do direito de ser diferente, o que corrobora para avultar as potencialidades humanas, em suas profusas formas de Ser/Estar e Habitar o mundo. Palavras-chave: Deficiência física; Lazer; Direitos Humanos.
A Relação das Mulheres com Deficiência Intelectual com o Centro Helena Holanda
Autoria: Iêda Maria Cordeiro Moura
Autoria: A proposta desse artigo é tecer algumas considerações das observações preliminares em relação a minha pesquisa do mestrado em Antropologia que se encontra em andamento. A pesquisa busca compreender como a sexualidade da mulher com deficiência intelectual é apreendida por elas, por seus pais e ou responsáveis e serão utilizadas as seguintes técnicas: observação participante, entrevistas e grupos focais. No momento tenho acompanhado o universo de seis mulheres adultas com deficiência intelectual; posteriormente pretendo entrevistar seus pais ou responsáveis. As minhas interlocutoras são mulheres adultas com deficiência intelectual, que freqüentam o Centro Helena Holanda, uma ONG que atende Pessoas com Deficiência (PcD) através da dança, música, atendimento clínico com equipe multiprofissional e oficinas, situada no Bairro Pedro Gondim na Cidade de João Pessoa - PB. Estas mulheres frequentam a instituição há alguns anos o que possibilita algumas informações já serem conhecidas. Neste trabalho pretendo tecer uma discussão que terá como fio condutor, o que as mulheres que frequentam a Instituição relatam para continuarem frequentando a instituição, também me interessa ouvir as motivações dos familiares. São questionamentos que me chegam através das observações do cotidiano da instituição e que me parecem de extrema relevância para conhecermos o significado e a importância da Instituição para estas mulheres e também para seus pais e ou responsáveis. Palavras chave: Deficiência, Mulher, Instituição.
A prática de escanteamento de corpos: dos interesses de mercado ao capacitismo estrutural
Autoria: Gabriel Lima Simões
Autoria: Este estudo é parte de um conjunto de reflexões sobre minha própria história enquanto uma pessoa que nasceu com uma deficiência física no sertão da Bahia e hoje vive no Rio de Janeiro trabalhando como profissional do SUS e com um título de doutorado. Esse olhar para o espelho me faz recordar os tantos desafios que me foram impostos pelas forças repressoras que formulam o conceito de normalidade e escanteiam todos os corpos que não se assemelham aos padrões estabelecidos. Os atravessamentos que moldaram aquele menino que já na adolescência se envolvia em debates sobre políticas públicas para a juventude foram fundamentais para constituir o adulto que hoje se dedica a trabalhar e pesquisar o modo como a vida dos moradores de favelas é também atravessada por produções subjetivas que se pautam em políticas racistas, violentas e segregadoras. Hoje compreendo que a minha indignação com as diversas formas de preconceito e subjetivação está associada à minha experiência de ter estado sempre em um lugar de estranhamento e de anormalidade, por possuir forma física diferente do padrão. Pouco se discute o modo como a lógica capitalista-produtivista determina quais corpos devem ser considerados saudáveis a partir do nível de eficiência que esses corpos apresentam no atendimento às demandas de mercado. Nesse universo, os corpos desejáveis passam a ser os corpos mecanicamente mais adaptáveis e com melhores resultados diante de certas funções que lhes são atribuídas. Corpos que destoam desse perfil estético, como o das pessoas com alguma deficiência, são automaticamente classificados como corpos limitados, ineficientes ou incapazes. Tal como no termo jurídico da "inversão do ônus da prova", cabe à pessoa com deficiência provar suas capacidades para ir conquistando um lugar de aceitação entre as pessoas padronizadas como "normais". A divisão da população entre normais e anormais sempre fez parte das políticas de governo, ou mesmo de Estado, e tem se intensificado com o avançar das práticas neoliberais. As próprias políticas de saúde, assistência social, previdência e educação tendem a instituir medidas de proteção que operam por mecânicas de segregação, como no caso do dilema entre manter alunos com deficiência na mesma turma dos alunos considerados normais ou apartá-los em escolas e turmas exclusivas. Trata-se de um conjunto de políticas pautadas na norma como parâmetro para definir o incapaz e, nessa perspectiva, aceitar a sua participação como uma concessão. O tema da inclusão não pode, contudo, se resumir à mera "permissão" para que estas pessoas frequentem o mesmo ambiente que as demais. É essa produção subjetiva de categorias de normalidade que torna estrutural a pratica do capacitismo e o consequente escanteamento de corpos ditos anormais.