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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT59: Patrimônio cultural imaterial para além da institucionalidade: apropriações, ressignificações, usos e efeitos

Lorena Avellar de Muniagurria, Caio Csermak

Reuniremos pesquisas que considerem o patrimônio imaterial (PI) e que permitam refletir sobre apropriações e ressignificações de processos de registro, pesquisa ou salvaguarda por sujeitos e coletivos reconhecidos como detentores. Interessa-nos tratar de sentidos, efeitos e resultados inesperados, secundários ou paradoxais que surgem quando olhamos para além dos limites institucionais mais visíveis das políticas de PI e quando consideramos a popularização dos debates e do vocabulário do "patrimônio". Após 20 anos de uma política federal de PI (Decreto 3.551/2001), contamos com um significativo arcabouço de experiências e análises que permitem avaliar como conceitos, vocabulário e práticas institucionais do PI foram apropriados, disputados e instrumentalizados por atores como grupos de culturas populares e tradicionais, povos indígenas, coletivos artísticos, produtores e agentes de cadeias produtivas da cultura, etc. Convidamos trabalhos sobre bens (potencial ou efetivamente) patrimonializados no Brasil (qualquer das três esferas da federação) ou alhures que contribuam para essa avaliação, tratando de casos como: (re)configurações de grupos e comunidades; espetacularização das culturas populares; desenvolvimento de novos modos de relação entre comunidades e Estado; criação de formas situadas de pensar e operacionalizar o patrimônio; disputas por status e recursos, e pela definição de legitimidades e narrativas; usos do PI em conflitos políticos e territoriais; entre outros.

Palavras chave: patrimônio cultural imaterial; patrimonialização; detentores de saber
Resumos submetidos
Modernização da tradição ou a tradição modernizada: imagem e representação do Carimbó
Autoria: Pierre de Aguiar Azevedo
Autoria: O Carimbó, manifestação cultural tradicional da região amazônica paraense, foi consagrado com o título de patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo IPHAN, no ano de 2014. De lá pra cá, diversas ações para a salvaguarda deste bem têm sido realizadas com o uso de recursos tecnológicos da imagem, como fotografias, vídeos e produções audiovisuais. Deste modo, as representações imagéticas constituídas sobre este patrimônio revelam uma série de embates e conflitos sociopolíticos em meio às relações comunitárias e institucionais, que levam em conta também um processo de (re)invenção de sua tradição diante da modernidade contemporânea. Este procedimento perpassa a constituição histórica desta manifestação, apresentando-se como um campo de permanente reflexão antropológica e patrimonial quando se pretende examinar as referências culturais assumidas e atribuídas a este bem patrimonial. Sendo assim, este trabalho analisa como o uso das imagens e suas representações influenciam e são influenciadas pela dinâmica existente entre tradição e modernidade do e no Carimbó, e como esta problemática pode repercutir nas ações de salvaguarda do bem cultural e nas políticas públicas voltadas ao patrimônio imaterial. Para isso, foram verificadas as narrativas e discursos dos detentores do bem e de instituições, públicas e privadas, reunidas em uma coleta episódica de casos vivenciados, diálogos informais e entrevistas abertas junto a pessoas, grupos e comunidades carimbozeiras. Portanto, foi possível compreender a complexidade da relação discursiva presente no campo das representações imagéticas de um patrimônio imaterial, que se propõe impermanente, em transformação constante. O que, por sua vez, evidencia a dinâmica de uma tradição cultural que se reelabora na modernidade e provoca importantes debates para o campo das políticas públicas orientadas a preservação e salvaguarda das culturas populares. Palavras-chave: Carimbó. Tradição e Modernidade. Imagem e Representação.
Patrimonio inmaterial y colectividad italiana: asociaciones de inmigrantes en Villa María, Córdoba, Argentina.
Autoria: Manuel Blanda
Autoria: Resumen del trabajo a presentar en el 33º encuentro brasileño de antropología (28 de agosto al 3 de septiembre de 2022) "Patrimonio inmaterial y colectividad italiana: asociaciones de inmigrantes en Villa María, Córdoba, Argentina." Palabras claves: asociaciones, colectividad, patrimonio inmaterial. Keywords: assiciation, community, intangible heritage. Manuel Blanda- Universidad Nacional de Villa María El fenómeno social de la patrimonialización es conceptual, empírico e interdisciplinario. Metodológicamente, un patrimonio es material o inmaterial. Haciendo foco en este último, Gili (2019) plantea que "identidad, memoria y patrimonio cultural son conceptos entrelazados" (3). Dicha afirmación surge de entender que el patrimonio cultural se manifiesta cuando un grupo de personas le otorga significado, se apropia de él dándole valor cultural y social a determinados elementos culturales de sus sociedades. Esto sucede con los recuerdos de un pasado colectivo, vivido o imaginado, propio o generacional. Este acervo de múltiples historicidades, se reconstruye socialmente y es la memoria histórica de los grupos que constituye en sí misma un patrimonio inmaterial. En cuanto a esa reconstrucción social, la premisa es comprender a los marcos espaciales de estudio desde su dinamismo propio, sujeto a cambios constantes. La llegada de oleadas inmigratorias al país en diferentes períodos de los siglos XIX y XX materializan un ejemplo de ello. Devoto (2007) pregunta cuáles fueron los cambios fehacientes en la sociedad argentina desde entonces. Los interrogantes se resuelven empíricamente mediante la investigación. Mi análisis se acota a la ciudad de Villa María, que tiene características propias y cuatro asociaciones que representan la colectividad italiana local. Referencias bibliográficas - Blanda, M. (2020). "La colectividad italiana de Villa María (Córdoba, Argentina). Abordaje sociológico de sus experiencias asociativas actuales". Trabajo Final de Grado. Licenciatura en Sociología. Instituto Académico Pedagógico de Ciencias Sociales, Universidad Nacional de Villa María. - Cottom, B. (2007). El patrimonio cultural como problema interdisciplinario. En Red Patrimonio. Revista Digital de Estudios en Patrimonio Cultural. Disponible en: www.colmich.edu.mx/publicaciones/electronicas/redpatrimonio -DEvoto, F. (2007). La integración de los inmigrantes europeos. En Torrado, S. (comp): "Población y bienestar en la Argentina del primero al segundo Centenario". Tomo I. Buenos Aires: Edhasa. 549-569. - Gili, M.L. (2019). Expresiones culturales, herencia social y registro patrimonial. En Pérez Zavala, G. y Gili, M.L. (Comps.). (2019). Historias en voz alta. Narraciones de inmigrantes italianos en Villa María (Provincia de Córdoba, Argentina). Villa María: El Menso
Santa Messa in Talian e Filò: iniciativas de associações étnicas para valorização do patrimônio cultural imaterial em Colombo/PR
Autoria: Diego Gabardo
Autoria: Este artigo visa analisar duas iniciativas de associações étnicas italianas em Colombo, Região Metropolitana de Curitiba - Paraná, voltadas ao Talian, língua de imigração. Essa cidade teve sua formação a partir da emancipação de antigas colônias italianas, nos arredores da capital paranaense, no final do século XIX. Na década de 1940, a sua população, como a de várias cidades que acolheram imigrantes dessa etnia, também foi alvo da Campanha de Nacionalização do Governo Vargas, que vetou o uso da língua italiana, assim como o alemão e o japonês. As marcas dessa repressão se refletiram no silenciamento dos falantes, que limitaram a transmissão da língua para as novas gerações. (CUNHA & GABARDO, 2020). Os movimentos de valorização da cultura imaterial, a partir dos anos 2000, possibilitaram o início de uma mudança neste cenário, que em 2014 repercutiu no reconhecimento do Talian como Referência Cultural Brasileira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em novembro de 2021, Colombo recebeu da Assembleia Legislativa do Paraná, o título de Capital do Talian. Nesse município, duas entidades se destacam na promoção de ações voltadas a esta língua: a Associação Italiana Padre Alberto Casavecchia e a Associazione Veneti nel Mondo-Colombo. Para além da institucionalidade formalizada por esse título, o artigo busca analisar dois eventos promovidos por essas associações: a Santa Messa in Talian e o Filò, realizados desde 2006, principalmente durante a Settimana Italiana di Colombo. O objetivo deles é o de sensibilizar a comunidade local sobre a importância da manutenção do Talian, cujas raízes remontam à formação do município. Ao esmiuçar essas práticas, percebe-se que essas associações se utilizaram da Santa Messa in Talian, enquanto tática e estratégia (CERTEAU, 2014), para chancelar a valorização desse patrimônio cultural imaterial perante a comunidade, tendo em vista o capital simbólico (BOURDIEU, 1987) que a prática religiosa católica para ela representa. Assim como a missa em Talian, a promoção do Filò pode ser também entendida como uma invenção das tradições (HOBSBAWN, 2020), na qual uma prática comum de imigrantes se visitarem é reinterpretada como um encontro de descendentes e interessados pela cultura para falar a sua língua de herança (ORTALE, 2016) e fazer memória de seus antepassados. Por fim, constata-se que essas apropriações e ressignificações de eventos públicos reforçaram a importância do Talian em Colombo e contribuíram, de certa forma, para galgar o reconhecimento pelo Governo Estadual.
Quando o campo é patrimônio cultural imaterial: produção de relatório técnico e algumas questões teórico-metodológicas e práticas do fazer antropológico institucionalizado
Autoria: Gilda Conceição Silva
Autoria: O campo de patrimônio cultural está em constante formação e mudança, entre outros motivos, devido a resultados de experiências práticas da produção técnica cotidiana, resultante, quase sempre, do saber teórico e metodológico da antropologia e/ ou de áreas afins, bem como do debate decorrente desta produção. Neste artigo, apresento como ocorreu, na Bahia, no âmbito da esfera pública estadual, a instrução dos três primeiros processos de revalidação dos patrimônios culturais Festa de Santa Bárbara (Salvador), Festa da Boa Morte (Cachoeira) e Carnaval de Maragogipe (Maragogipe). Estes patrimônios estão salvaguardados pelo instrumento protetivo jurídico Registro Especial de Patrimônio Imaterial, título dado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC-BA). Assim, entre outras discussões, abordo a metodologia, contexto e resultados que envolveram os processos de preservação destes patrimônios e a emissão de seus primeiros relatórios técnicos de revalidação. As instruções destes processos constituem-se em marco relevante e pioneiro, não apenas para os patrimônios salvaguardados e seus detentores/ produtores, mas, também, para o campo do patrimônio cultural imaterial, sendo norteador para futuros trabalhos de revalidação de patrimônios culturais imateriais produzidos por profissionais de antropologia e áreas afins.
Politicas culturais e as casas sagradas de Timor-Leste: a construção de um patrimônio
Autoria: Renata N. Silva
Autoria: Baseado numa pesquisa etnográfica realizada entre setembro de 2016 e novembro de 2017, em diferentes comunidades leste-timorenses, este trabalho busca, de um lado, discutir os dispositivos legais que estão sendo elaborados em Timor-Leste para a identificação e proteção de bens culturais (em especial, aqueles relativos às casas sagradas), e, do outro, compreender os modos pelos quais vem ocorrendo a transposição de elementos do complexo de governança local, chamado de cerimônia kultura (Silva, 2014) para contextos de ação do Timor-Leste pós-colonial. Em termos historiográficos, estou entendendo Timor-Leste pós-colonial aqui como coincidindo com o período pós-ocupação indonésia e restauração da independência (pós-1999) - definição importante, dada a complexidade dos encontros e desencontros coloniais. O trabalho se desenvolve a partir de uma antropologia dos processos de apropriação, espetacularização, ampliação/redução da vida social, de elementos dos complexos locais de governança, organizados muitas vezes nas/pelas Casas, analisando ainda as suas implicações na elaboração de políticas de preservação de bens culturais. Tomo por base a análise do campo das políticas culturais leste-timorenses e dois eventos organizados para eficácia de projetos de governo: festival de comemoração do dia da cultura em Maubisse, no ano de 2016, e a celebração do lançamento da pedra fundamental da Biblioteca Nacional, em 2017. Argumento que a patrimonialização é uma construção social e política e, no caso de Timor-Leste, elementos extraídos do complexo local de governança, relacionados à Casa, nomeados kultura, vêm sendo apropriados e ressignificados em diferentes contextos e com finalidades variadas. Minha análise (tanto do campo das políticas culturais, quanto dos eventos acionados como exemplos de objetificação da cultura) é pautada em artigos que venho produzindo ao longo de dez anos e na minha tese de doutorado (Silva, 2019). Os processos de seleção e apropriação de elementos dos complexos locais de governança (kultura), vêm sendo transpostos dos seus espaços originários de produção para outros contextos, em especial para a cidade de Díli, para atender demandas relacionadas ao desenvolvimento do Estado. Os fenômenos mobilizados neste trabalho indicam transformações do sentido da vida social das casas sagradas e de outros elementos dos complexos locais de governança, que estão sendo capturados pelo Estado a fim de figurarem como símbolos, representações de uma cultura nacional.
"Entra na roda menino não se acanhe": Coco das Goiabeiras da Rainha do Mar.
Autoria: Joel Oliveira de Araújo
Autoria: O presente trabalho, tem como proposta estudar os cocos a partir do grupo "Coco das Goiabeiras da Rainha do Mar", localizado no bairro da Barra do Ceará em Fortaleza (CE). Os cocos é uma manifestação cultural do nordeste brasileiro, podendo ser encontrada em todos os estados do nordeste. No Ceará, os cocos estão presentes no Cariri cearense e em grande parte do litoral do estado. A brincadeira surge de uma tradição afro-indígena e tem como pilar o canto, o batuque e a dança. O grupo "Coco das Goiabeiras da Rainha do Mar", nos últimos anos vem fomentando a cena cultural dos cocos na cidade Fortaleza (CE), mesclando tradição, espiritualidade e militância política. A partir de uma pesquisa etnográfica, o trabalho vem refletir como determinado grupo executa, experimenta e ressignifica a tradição da brincadeira dos cocos.