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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT50: Jê no Sul: estudos, pesquisas e atuações com os Kaingang e Laklanõ/Xokleng

Rogério Reus Gonçalves da Rosa, Ricardo Cid Fernandes

Os estudos sobre os grupos Jê do Sul ou Jê Meridionais, notadamente, os Kaingang e os Xokleng/Laklaño, tiveram impulso nos anos 1990, com a realização de pesquisas nas principais universidades do Sul do Brasil. Essas pesquisas enfocaram temas clássicos da etnologia, tais como: ritual, diversidade religiosa e organização social. A renovação dos estudos acompanhou movimentos identitários desenvolvidos pelos próprios indígenas em reivindicações territoriais frente ao Estado brasileiro. A consolidação dos estudos Jê do Sul se deu através de dissertações, teses, monografias, artigos, audiovisual e dos encontros nos principais eventos científicos, como a RBA e a ABA, entre 1995 e 2007. Além dos resultados acadêmicos, destaca-se a formação de novos profissionais, indígenas e não indígenas, que renovam as pesquisas sobre as múltiplas dimensões da condição indígena no Sul do Brasil. Entre 2020 e 2021, através do Ciclo de Debates Virtuais Estudos Jê no Sul, promovido pela PPGAA/UFPR e PPGANT/UFPEL, estiveram reunidos pesquisadores de diferentes gerações, incluindo intelectuais indígenas além de profissionais de outras universidades e instituições (FUNAI, MPF, IPPOL e Associações Indígenas, dentre outras). A proposta do GT "Jê no Sul: estudos, pesquisas e atuações com os Kaingang e Laklanõ/Xokleng" consiste na apresentação de trabalhos acadêmicos que amplifiquem essas relações de pesquisa e intercâmbio estabelecidas.

Palavras chave: Jê no Sul; Kaingang; Laklaño/Xokleng
Resumos submetidos
Novos olhares interdisciplinares sobre a cerâmica Jê Meridional em Santa Catarina
Autoria:
Autoria: A presente exposição reúne dados da minha pesquisa de mestrado, cujo objetivo foi revisitar a tecnologia da cerâmica arqueológica associada aos povos Jê Meridionais em Santa Catarina. Essa pesquisa propôs um olhar interdisciplinar sobre esse tipo de vestígio a partir de: a) um levantamento bibliográfico e documental envolvendo dados etno-históricos, etnográficos e arqueológicos sobre as populações Jê Meridionais no sul do Brasil (atuais Kaingang e Laklãnõ/Xokleng) focalizando suas formas próprias de fazer, usar e significar a cerâmica.; b) uma análise tecnológica da coleção cerâmica do sítio arqueológico Rio Platê I (SC-VI-19), localizado no Alto Vale do Itajaí (SC); e c) uma experimentação arqueológica de reprodução dos tratamentos de superfície comuns à cerâmica Jê Meridional. Os resultados obtidos permitem situar a cerâmica do Alto Vale do Itajaí no contexto catarinense e repensar aspectos fundamentais de sua cadeia operatória.
A mata Kaingang da Terra Indígena Xapecó/SC: o uso e o manejo das plantas Kamē e Kanhru
Autoria:
Autoria: O presente estudo tem como finalidade, analisar o uso e manejo das plantas Kamē e Kanhru que se encontram na mata Kaingang da Terra Indígena Xapecó/SC. Pretende-se destacar o estudo sobre o surgimento das marcas Kamē e Kanhru, a partir da história oral com os Kófas, mais velhos e sábios Kaingang, o que envolve a cosmologia das marcas exogâmica em relação à história de origem do povo. Também destaco o uso e manejo destas plantas feitas pelos especialistas em curas Kaingang, como os Kujás, Benzedores (as), Remedieiros (as), que usam para fins medicinais, além de preservarem e manterem os espaços onde as plantas Kamē e Kanhru estão localizadas, ou seja, dentro da mata Kaingang, no espaço territorial que se encontra a Terra Indígena Xapecó, este território onde muitos de nós Kaingang também manejamos os espaços onde as plantas se encontram em meio à mata. Bem como, o manejo em lugares como as hortas, onde ficam no chamado "espaço limpo", que é na aldeia, perto das casas, ao redor delas, onde não há a mata fechada. Este universo das plantas que possuem marcas, desta relação de comunicação entre o mundo dos humanos e não - humanos envolvendo o Kujá e os especialistas que utilizam muitas plantas para fazerem os chás, os remédios do mato para a população indígena e também não indígena. A comunicação com este universo dos não-humanos antes de entrar na mata, é como um acordo entre as partes para poder encontrar a planta que deseja, retirando do seu espaço com todas as suas propriedades e poder que ela possui. Compreender algumas das plantas encontradas na Terra Indígena Xapecó, o uso delas de diferentes formas, seja como remédio, madeira, lenha, alimento, artesanato, purificação, armadilhas de caça, rituais, e festas da comunidade em geral, onde algumas plantas estão presentes. Além de possuírem marcas Kaingang, as plantas possuem vida, forma, cheiro, espessura e poderes que fazem sua existência ser única e especial no mundo cosmológico e espiritual, cultural do povo.