Check
ISBN: 978-65-87289-23-6
MR51: Religião e conflitos político-morais: (re)pensando desigualdades a partir da América Latina

Coordenação: Eduardo Dullo (UFRGS)
Participantes: Rocío G. Bravo Salazar (UNSIS), Manoela Carpenedo (Universidade de Groningen), María Bargo (EIDAES/UNSAM)

Resumo:
Esta Mesa Redonda repensa a produção de universos político-morais em situações em que agentes religiosos envolvem-se em relações de desigualdade e diferença (sócio-econômica, de gênero, de etnicidade e raciais, entre outras). Ao enfatizar o encontro entre desigualdade e diferença, problematizamos como estas são produtoras de questionamentos e reafirmações político-morais para agentes religiosos, dando margem para novos conflitos e para a busca de soluções acerca do que é considerado “certo”, “justo” e “bom”.
Este conjunto de três apresentações é baseado em casos provenientes da Argentina, Brasil e México, que serão discutidos e comparados de forma a gerar de conhecimento sobre e a partir da América Latina — isto é, buscaremos repensar a religião e os conflitos político-morais em sua interface com perspectivas desde o sul, tensionando as propostas pós-coloniais e decoloniais já existentes na literatura.
Assim, seja a partir de ações sociais da Opus Dei na Argentina, no qual a produção de uma dimensão político-moral de gênero (feminino) é constituída na interface com a pobreza urbana, seja a partir de uma comparação entre as estratégias de governança religiosa provenientes da Europa com as do Brasil, seja a partir do conflito e da intolerância religiosa em relação ás comunidades indígenas em Oaxaca no México, repensaremos a importância da religião para além do universo fechado das igrejas e comunidades, observando os efeitos sociais das suas ações e conflitos político-morais.

Palavras chave: Religião; Moralidade; América Latina
Resumos submetidos
The End of the Community? Traditional Governance and Religious Conflicts in Oaxaca, Mexico
Autoria: Rocío G. Bravo Salazar
Autoria: This research addresses the intolerance and conflicts associated with religious divergence in indigenous communities of the Mexican south State of Oaxaca, ruled by his own traditional system (Usos y Costumbres), which emerged in a context of social, cultural, and religious homogeneity. In the last three decades, the rapid increase of parishioners from Evangelical and Pentecostal churches all over Mexico, but especially in these indigenous communities, has been associated with the raise of religious intolerance and conflicts between Catholics and non-Catholics (Montes, 1999; Marroquín, 2007).
Conflito, Governança e a Diversidade Religiosa: o caso Brasileiro em debate
Autoria: Manoela Carpenedo
Autoria: Inspirada pelo trabalho de Saba Mahmood (2016) sobre a governança da diferença religiosa no Egito, esta apresentação visa à problematizar a governança da diversidade religiosa no Brasil. Para tanto, examino a legislação brasileira acerca do tema, bem como as políticas públicas atuais promovidas pela ‘Coordenação de Liberdade de Religião ou Crença, Consciência, Expressão e Acadêmica' junto ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Tais políticas são analisadas á luz dos debates atuais acerca das potencialidades e limitações do secularismo político (Bader, 2007). O secularismo político é aqui entendido como o poder do Estado em reorganizar as características da vida religiosa, ao estipular o que a religião é ou deveria ser, disseminando subjetividades, marcos éticos e práticas cotidianas (Asad, 2006). Neste debate, a apresentação propõe uma comparação das estratégias brasileiras de governança da diversidade religiosa com outros casos ao redor do mundo, tais como o caso espanhol, onde ‘todas as religiões são iguais, mas algumas são mais iguais que outras' (Magazzini, 2021), o húngaro, onde a religião se tornou uma ferramenta política de governo (Vékony, 2021) e, por fim, o caso Indiano, com o desafio de ser extremamente ‘plural e multicultural' (Mahajan, 2021). A análise comparativa indica a necessidade de se problematizar as estratégias correntes que alinham secularismo politico, neutralidade e tolerância religiosa no Brasil. Ao definir e gerenciar algumas identidades religiosas como minorias, e proclamar igualdade entre as religiões; o secularismo politico, ao invés de reduzir tensões religiosas, pode manufaturar desigualdades, exacerbar conflitos e mobilizar violências no Brasil.