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ISBN: 978-65-87289-23-6
MR20: Direitos Humanos e educação sob ataque: neoliberalismo, conservadorismo e governo de subjetividades

Coordenação: Juliane Bazzo (UFGD)

Participantes: Ana Paula Morel (UFF), Cristiano das Neves Bodart (Ufal), Osmundo Pinho (UFRB)

Resumo:
Desde o golpe contra Dilma Rousseff vêm adentrando com fôlego o cotidiano de universos educacionais brasileiros iniciativas de natureza neoliberal e conservadora, capitaneadas por agentes públicos, privados, não governamentais e multilaterais, não raro articulados. Nesse contexto, propagam-se o movimento Escola sem Partido, a reforma do Ensino Médio no Governo Temer, bem como o programa de escolas cívico-militares e o apoio à educação domiciliar no atual governo. Essas iniciativas têm conjugado esforços para cercear a abordagem e a aplicação de direitos humanos fundamentais, os quais pressupõem considerar nas dinâmicas educativas as diversidades e desigualdades marcantes na sociedade brasileira, destacadamente incidentes sobre suas minorias políticas, em especial étnicas, raciais, religiosas, de gênero, sexuais e pessoas com deficiência. Esta mesa discutirá essa grave conjuntura, a fim de refletir taticamente sobre medidas na contramão desse fluxo. Acolhe-se como premissa ao debate o entendimento de que temáticas enquadradas no senso comum como “identitárias” ou de “costumes” não constituem “cortina de fumaça” em prejuízo do tratamento das questões político-econômicas de monta. Pelo contrário: justamente nessa arena e notadamente nos espaços de educação estão se cristalizando duros embates entre forças progressistas e reacionárias, com repercussões importantes no campo das subjetivações e do governo de sujeitos.

Palavras chave: Educação; Direitos Humanos; Neoliberalismo.
Resumos submetidos
Ascensão da extrema-direita e a Educação no Brasil
Autoria: Cristiano das Neves Bodart
Autoria: É inegável que nas últimas décadas o campo progressista alcançou avanços importantes na esfera educacional brasileira, mais notadamente nos currículos escolares (maior distanciamento da pedagogia tradicional, inclusão de novos temas e abordagens, reintrodução da Sociologia e da Filosofia, etc.), na produção de obras didáticas e na formação de professores(as) - ainda que insuficientes para garantir a manutenção. Essas conquistas tiveram desdobramentos importantes, inserindo novos agentes sociais na disputa pelo projeto educacional. Com a ascensão da extrema-direita, notadamente a partir do Golpe de 2016, o seu projeto político de combate ao que chamam de "marxismo cultural" passa a ter condições político-institucionais de ser posto em prática, sendo o currículo, a formação docente, os livros didáticos, as universidades e as escolas e os(as) professores(as) alvos desse plano. Tal projeto, capitaneado por agentes políticos e religiosos, se ancora em ideais neoliberais, conservadores e negacionistas que operaram nas dinâmicas maco e micropolítica, sendo sentidas pelos(as) professores(as) desde as salas de aula. A exposição nessa mesa visa traçar as condições que sustentam o atual contexto de ataques à educação, seus desdobramentos e caminhos para a resistência.
Etnografando a Antinegritude na Escola Pública: Pensamento Situado e "Counter-School Culture" no Recôncavo da Bahia
Autoria: Osmundo Pinho
Autoria: Nessa apresentação faremos um balanço crítico da experiência de pesquisa levada a cabo no âmbito do Projeto Brincadeira de Negão: Subjetividade e Identidade de Jovens Homens Negros no Recôncavo da Bahia. O projeto desenvolvido em seu formato original entre 2014 e 2019, abrigou o desenvolvimento de trabalhos de conclusão de graduação, mestrado e doutorado, além do trabalho de pesquisa do próprio coordenador. Abordaremos notadamente as contradições encontradas entre a objetivação antinegra materializada institucionalmente na escola e em seu entorno e os modos vernáculos através dos quais os jovens estudantes reelaboram a própria experiencia, por meio do que Paul Willis discutiu como "counter-school culture". A formação da subjetividade racializada e gendered, mediada por estruturas de sentimento, reage e se articula a própria materialidade da antinegritude no plano da violência cotidiana e da atuação do Estado em suas margens, como poderemos ver por meio da discussão de alguns resultados do projeto.
Para além do "positivismo estratégico": descolonização da educação em tempos de conservadorismo
Autoria: Ana Paula Morel
Autoria: Diante dos graves ataques negacionistas e conservadores às ciências e à educação pública, observamos que uma resposta comum tem sido o retorno a um "positivismo estratégico", baseado no status incontestável do universalismo científico. Nesta perspectiva, as ciências são vistas como separadas da política e superiores a todos os outros conhecimentos - relegados ao posto de crenças irracionais. Tal postura acaba, muitas vezes, por silenciar os movimentos de descolonização protagonizados por mulheres, negros, indígenas que têm produzido transformações potentes em diversos âmbitos da educação pública, ao se contraporem ao sujeito unitário nos moldes da branquitude e do patriarcado. Fica, então, a questão: como defender as ciências e a educação pública da ofensiva negacionista sem ameaçar a multiplicidade dos povos e movimentos de descolonização? A afirmação zapatista de "um mundo onde caibam muitos mundos" parece nos dar pistas interessantes pois permite pensar o caráter global da crise civilizacional que vivemos sem deixar de lado a defesa pela autonomia dos povos e a composição entre saberes científicos e indígenas.