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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT17: Antropologia e Educação Popular

Spensy K. Pimentel, Ana Paula Morel

Este GT busca reunir trabalhos dedicados a explorar aproximações contemporâneas - bem como eventuais oposições ou contrastes - entre os campos da Antropologia e da Educação Popular, a partir de estudos etnográficos e análises antropológicas. A Educação Popular abarca uma multiplicidade de propostas educativas que partem desde (e estão em diálogo com) os saberes dos povos para a construção de um olhar crítico e transformador. Diante do centenário do pedagogo brasileiro Paulo Freire, faz-se necessário pensar sua contemporaneidade, considerando tanto suas contribuições para o campo antropológico como as transformações que a crítica anticolonial produz no campo da Educação Popular. Propomos reunir, então, trabalhos que pensem antropologicamente como coletivos e movimentos leem e se apropriam da proposta de Paulo Freire e dos "movimentos de educação popular"; trabalhos que transversalizem questões entre saberes dos povos e os saberes ocidentais; trabalhos que tenham como protagonistas sujeitos dissidentes e metodologias educativas e/ou antropológicas transformadoras, levando em consideração a crescente participação de estudantes negras/os, indígenas, quilombolas nos espaços educativos; trabalhos que partem da discussão sobre práticas educativas "autônomas", "emancipadoras", "críticas", "anticoloniais"; trabalhos sobre educação escolar indígena, quilombola, camponesa etc. que dialoguem com o campo da Educação Popular.

Palavras chave: Educação popular; descolonização epistêmica; encontro de saberes
Resumos submetidos
Antropologia e Educação: Experiências etnográficas com mulheres quilombolas em defesa de uma educação quilombola nos quilombos de Capoeiras e Sítio Grossos no Rio Grande do Norte.
Autoria: IVANILDO ANTONIO DE LIMA
Autoria: Este artigo tem a intenção de dialogar sobre a luta encabeçada por mulheres quilombolas em defesa da educação nas comunidades quilombolas de Capoeiras e Grossos localizadas no Rio Grande do Norte, tendo como fio condutor pensar os sentidos das práticas educativas voltadas para a diversidade e dando conta da aproximação entre as perspectivas históricas e as vivências cotidianas das comunidades quilombolas e a busca por uma educação de qualidade. O referido texto promove um diálogo entre antropologia e educação, tendo como base entrevistas com mulheres dessas comunidades remanescentes de quilombos do estado, pontuando alguns direcionamentos e demandas referentes ao debate sobre o acesso de políticas públicas que garantam uma educação diferenciada como reza as normas, leis e decretos para as comunidades quilombolas.
Um terreno de promessas: notas antropológicas sobre trajetos periféricos de educação popular
Autoria: Anita de Melo Leonel Ferreira
Autoria: Este artigo pretende levantar algumas questões sobre os papéis que a educação popular e o trabalho de base podem desempenhar em contextos periféricos. O texto é fruto de uma jornada de pesquisa de mestrado feita na Comunidade Portelinha, uma ocupação urbana de Curitiba que há 13 anos reivindica por serviços básicos e regularização fundiária. Os caminhos da pesquisa tiveram como ponto de partida algumas trilhas iniciadas na Comunidade em 2014, por um movimento comunitário e seu grupo de trabalho de educação popular - o Movimento de Organização de Base-PR (MOB-PR) e a "Ciranda". Considera-se aqui que educação popular e trabalho de base são expressões semelhantes de uma mesma proposta: a de uma pedagogia da luta popular. As interpretações feitas partiram de princípios fundamentais a certa tradição popular de luta e tiveram como base para análise aquilo que foi observado durante a observação participante em campo, além dos diálogos construídos com pessoas da Portelinha - doze crianças da "Ciranda" e duas militantes do MOB-PR. Desse modo, ao longo da análise buscou-se construir uma ecologia de saberes (SANTOS, 2009), proposta que se alinha a uma premissa epistemológica da educação popular, na qual se preconiza um conhecimento construído de maneira coletiva e diversa, onde se relacionam diferentes epistemologias, por exemplo, o saber popular, o conhecimento construído pelas lutas sociais e também aquele discutido no âmbito acadêmico. Na medida em que se percebe que os trabalhos de base e de educação popular carregam um potencial de construir não somente novos saberes mas também práticas de conhecimentos, defende-se que estes são como um terreno fértil para a educação do saber-fazer, que, por sua vez, pode ser uma educação para o saber-mudar. Ainda, ao notar que aspectos importantes da prática dos trabalhos do MOB-PR e da Ciranda se relacionam de maneira direta com seu contexto local, é possível percebê-los atravessados por questões de acesso à terra/moradia e sobre a construção de um território. Disso, urge a necessidade de pautar e qualificar estes debates nos trabalhos populares, tarefa com a qual o conhecimento antropológico pode, em muito, contribuir. Conclui-se que dentre os possíveis papéis que a educação popular e o trabalho de base podem assumir, está o de construir momentos que escapam da lógica da exploração e da alienação social, para adentrar um espaço-tempo ou, quem sabe, um território onde as transformações sociais sejam, de alguma maneira, mais realizáveis. Por fim, compreende-se que ao sistematizar e organizar sua prática, a educação popular e o trabalho de base desempenham um importante papel de "presentificar" trechos da história popular das lutas e, ao mesmo tempo, de construir uma educação para a memória política de seus grupos.
Desafio da Implantação da Educação Escolar Quilombola no Quilombo de Sibaúma Tibau do Sul/RN
Autoria: Francisco Cândido Júnior
Autoria: A pesquisa desenvolvida no Programa de pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tratam de primeiras incursões de minha pesquisa doutoral, tem como objetivo refletir sobre a construção de uma educação diferenciada étnica e a aplicabilidade da lei 10.639/2003 no território quilombola de Sibaúma, no litoral do Sul do Rio Grande do Norte. Entre os principais aspectos, buscaremos realizar um diagnóstico do ensino na escola de Sibaúma. Escola Municipal Padre Armando de Paiva que atua no ensino fundamental Anos iniciais e anos finais. Com finalidade de entender as narrativas envolvendo professores e gestores da escola , e as perspectivas para o futuro e os principais problemas atualmente Neste sentido, é importante compreender que Historicamente o processo educacional esteve caracterizado pelo distanciamento de grupos sociais mais fragilizados, como os grupos étnicos (quilombolas), em todas as instâncias educacionais do país. A ausência de políticas de educação voltadas para as especificidades dos grupos trouxe consequências nas vidas da população quilombola. A pesquisa visa: perceber a contribuição da educação para as questões étnicos-raciais, no que diz respeito à formação escolar e a construções identitárias; conhecer os modos de vida e fazeres quilombolas para que os estudantes despertem pelo sentimento de pertença; identificar se os elementos da cultura quilombola são vivenciados no âmbito das práticas pedagógicas e do cotidiano escolar da comunidade de Sibaúma.. Considerando contextualmente a luta pelo enfrentamento do racismo e ao analfabetismo pela dimensão identitária e pela garantia do território em diálogo com os governos municipais e estadual. Desta forma, nossa preocupação é compreender como são construídas as ferramentas de conscientização e valorização da população quilombola, assim como o combate ao racismo dentro da escola. Palavras-Chave: Sibaúma, Educação Escolar Quilombola, grupos étnicos e Território.
TORNAR-SE TRABALHADORA DOMÉSTICA: como a educação media este processo?
Autoria: Adara Pereira da Silva
Autoria: A educação, para além do sistema escolar, engloba diversas instâncias da vida cotidiana, como gênero, classe, raça, trabalho, família, entre outras. A educação também atravessa a vida de mulheres que exercem a função de trabalhadora doméstica. Este trabalho tem por objetivo investigar, etnograficamente, os processos educacionais a partir da trajetória de três mulheres, que desempenham a função de trabalhadora doméstica, em Natal, no Rio Grande do Norte. Inicialmente, ao pensar este trabalho, minha intenção seria averiguar como a escolaridade pode ser um dos fatores que estão relacionados à desvalorização do trabalho doméstico no Brasil, considerando todos os fatores que interferem nessa relação, como desigualdade de gênero e racismo estrutural. Mas, quando iniciei a pesquisa de campo percebi que, antes de responder uma questão tão ampla, seria imprescindível entender como as mulheres, que exercem tal profissão, lidam com questões educacionais, em um sentido mais geral. Isto é, seria preciso compreender como estas mulheres entendem e se relacionam com a educação e o sistema escolar e de que forma estes estiveram presentes em suas trajetórias. Para isso, será apresentada uma breve reflexão etnográfica, que foi realizada a partir de entrevistas semiestruturadas realizadas com três trabalhadoras domésticas. Ao ouvir as entrevistadas percebi que existiam informações mais densas e, simultaneamente, sutis a serem compreendidas do que: qual o seu nível de escolaridade? Suas relações com a educação se apresentavam entrelaçadas com sua perspectiva de gênero, naturalidade, classe, raça. Além disto sua relação com a educação ocorria de maneira mais ampla do que sua passagem pelo ensino escolar, isto é, caberia analisar seu olhar para a educação, e este olhar não deveria reduzido à quantidade de anos que haviam frequentado o ambiente escolar. Justamente, como apresentou Vera Maria Candau (2012), a educação estaria situada num contexto mais amplo. Neste caso, nos é permitido pensar como as questões de gênero e o trabalho doméstico estariam ligados a este processo educacional e como ainda estariam entrecortadas por outras questões. Para pensá-las seria interessante partir do que propôs Claudia Fonseca (1999) sobre etnografia: realizar um movimento interpretativo que vai do particular em direção ao geral. Ou seja, antes de entender porque a baixa escolaridade poderia estar ligada à desvalorização do trabalho doméstico no Brasil, seria preciso entender de que forma a educação fez parte da trajetória das minhas interlocutoras, em diversas instâncias como trabalho, família, valores. Assim, seria possível, a partir do método etnográfico, realizar um estudo que busque compreender a subjetividade das entrevistadas.
Potencialidades da educação popular na pesquisa "Boas Práticas de Enfrentamento à Covid-19 em Comunidades e Territórios do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará" (2020-2022)
Autoria: Breno da Silva Carvalho, Ana Gretel Echazú Böschemeier
Autoria: Derivado da pesquisa "Boas Práticas de Enfrentamento à Covid-19 em Comunidades e Territórios do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará" (CNPq; período: agosto/2020 a julho/2022), o presente artigo recorre à metodologia da educação popular em saúde e busca o fortalecimento do bem viver em sete comunidades tradicionais e movimentos sociais do Nordeste integrantes do projeto: Comunidade Indígena do Amarelão/RN; Comunidades Indígenas de Amarelão (RN), Quiterianópolis e Mundo Novo (CE); Movimento da População em Situação de Rua/RN; Catadoras da Associação ACREVI - Reciclando para a Vida (Mossoró/RN); Pescadores da Vila de Ponta Negra (Natal/RN); Maricultoras de Pitangui/RN e Comunidade Cigana Calon (Sousa/PB). Em 2021, o CNPq, por meio da categoria ADC-2, permitiu o estabelecimento de vínculos formais das lideranças dos grupos com a pesquisa, tornando-as "lideranças pesquisadoras", também percebidas por suas comunidades como autênticos/as pesquisadores/as. Devido à pandemia, a prática etnográfica demandou a realização de encontros remotos com perspectiva educativa - alguns deles de natureza formativa e outros, voltados à articulação. Esta operacionalização foi possível com o uso de aplicativos de vídeos (Google Meet e Stream Yard), combinados a recursos de geolocalização digital (ex.: mapas webs) e à estruturação de redes sociais com informações e orientações sobre a Pesquisa. Tal dinâmica permitiu reconhecer, a partir do diálogo conjunto com as comunidades tradicionais e movimentos sociais, as estratégias coletivas mobilizadas diante do contexto pandêmico, interessadas em articular os "saberes tradicionais" e os "saberes vindos da experiência" com a "narrativa científica" como expressões do direito dos povos à cultura e à ciência. Nesse sentido, a educação popular assume o papel de mediadora dos esforços metodológicos, capaz de aproximar a vivência de populações vulnerabilizadas com o efetivo propósito da descolonização dos saberes e da produção de uma ciência cidadã.
UMA EDUCAÇÃO DUPLAMENTE DIFERENCIADA: o exemplo do Colégio Estadual Indígena Tupinambá Serra do Padeiro (CEITP)
Autoria: Nathalie Genevieve Anna Le Bouler Santos
Autoria: Além de ser diferenciado em decorrência da sua proposta pedagógica étnica voltada para os interesses indígenas e, especialmente, para os interesses Tupinambá, o Colégio Estadual Indígena Tupinambá Serra do Padeiro (CEITSP) tem a particularidade de acolher também os "Outros", ou seja, estudantes não indígenas provenientes de acampamentos e assentamentos de sem-terra, bem como famílias de trabalhadores rurais que vendem sua força de trabalho por "empreita" em fazendas da região. Nesse sentido, estaríamos diante de uma proposta de educação escolar interétnica que se propõe a incluir não índios em situação social estruturalmente próxima à dos índios, um Outro próximo (AGIER; CARVALHO, 1994: 111). Trata-se de uma proposta que parece contemplar, complementar e relacionar, questões afetas aos conceitos de etnicidade e de classe social, e que podem, de forma inovadora, apontar para alternativas de convívio étnico-social pouco mais abrangentes e generosas. Outras experiências similares, nacionais e internacionais, são conhecidas. A educação escolar, entre os Tupinambá, similarmente a outros povos indígenas, é considerada como um ato político. Nesta apresentação, veremos de que forma esses estudantes são formados e capacitados à luz da chamada luta indígena uma vez que estão recebendo uma educação escolar indígena.
O Espaço Concórdia - um projeto entre a realidade e o coração para a Educação de Jovens Adultos e Idosos
Autoria: Bárbara Fernanda Estevanato
Autoria: Resumo: Com ideias nada complicadas, Paulo Freire e Elza Freire (FREIRE, 1987) contribuíram para pensar uma multiplicidade de propostas educativas libertadoras que tem como base o exercício de diálogo entre educadores e educandos na Educação de Jovens e Adultos e Idosos (EJAI) entre elas, o Projeto EJA Aeroporto Padre Leão Vallerie – Espaço Concórdia, sediado em um salão paroquial e em uma escola municipal, locais de campo da minha pesquisa de mestrado sobre Educação & gênero. Esse projeto acontece na na cidade de Campinas (SP), no Núcleo de Ação Educativa Descentralizada (Naed) noroeste, um espaço geograficamente populoso, marcado por uma segregação socio-espacial, contando com muitos moradores de baixa renda, menor escolarização e marcado racialmente. O projeto EJA Aeroporto Padre Leão Vallerie é conhecido popularmente também como Espaço Concórdia por estar localizada no centro do território Campo Grande e por uma liberdade poética: “COM”, juntos, “COR”, coração, “DIA”, eterno/para sempre" Então: “Juntos em coração para sempre!” (LEÃO,4O ANOS, p.13,2022). O projeto iniciou-se em 2017 com o objetivo de lidar com a evasão a partir de um formato de educação dialógica e coletivizada, no sentido de trazer estruturas e princípios inovadores oferecendo turmas em todos os períodos e termos do Ensino Fundamental. Um dos maiores princípios do projeto é trabalhar sem hierarquização de disciplinas e com docência compartilhada em turmas multisseriadas e agrupadas. Os docentes são selecionados por processo seletivo e são incluídos em sua jornada de trabalho o TDEP (Tempo Docente Entre Pares) para organização da vida escolar, encontro entre pares na preparação de aulas públicas e docências compartilhadas (SANTOS,2020). Para se diferenciar da educação convencional oferecida na EJAI regular é oferecido TDIs (Trabalho Docente Individual), tempo pedagógico que os professores/ tutores utilizam para atendimento individualizado aos estudantes com dificuldades. Ademais são organizadas durante os bimestres variadas ações pedagógicas como as assembleias, salas circulares, aulas públicas, estudo do meio e passeios, avaliações coletivas, oficinas artísticas, bazares, cafés pedagógicos, rodas de conversas e até mesmo acompanhamento psicológico gratuito com parceria de projetos de extensão das universidades da região. Referências Bibliográficas: EQUIPE LEÃO 40 ANOS, revista, 2022. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. SANTOS, Nelton Miranda Lima Dos. “Humano, Demasiado Humano”- O Espaço Concórdia no Campo Grande: Sujeitos livres, Ensinantes e Aprendentes na Educação Dos sujeitos da modalidade EJA: Adolescentes, Jovens, Adultos e Idosos. Faculdade De Educação, Universidade Estadual De Campinas, Campinas, 2020.