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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT11: Antropologia das práticas esportivas e de lazer

Leonardo Turchi Pacheco, José Ronaldo Fassheber

O presente Grupo de Trabalho propõe dar continuidade e ampliar as reflexões realizadas em mais de vinte anos de reuniões anteriores da RAM e RBA nos diversos grupos de Antropologia das práticas esportivas e de lazer. Nesse sentido, tem por objetivo reunir antropólogos e demais cientistas sociais que realizam pesquisas no campo de estudos das práticas esportivas e do lazer. Os estudos desse campo antropológico permite diálogos e reflexões de dimensões plurais. Deste modo, as dimensões entre esporte, lazer e política; a defesa de direitos das práticas esportivas e de lazer de diversos grupos sociais e suas relações e articulações com a formação das identidades sociais (gênero, etária, étnica, nacional), as territorialidades urbanas e naturais, as maneiras de sociabilidade, as adaptações, as emoções e afetividades, as moralidades, a construção de corpos, a produção social de jogadores e atletas, a violência, o parentesco, os eventos e práticas esportivas ou de lazer englobam o escopo das investigações que constituem esse Grupo de Trabalho.

Palavras chave: esportes; lazer; praticas e discursos
Resumos submetidos
Pavilhão 9: estigma e liminaridade urdidos entre carnaval e futebol
Autoria: Julio Cesar Valente Ferreira
Autoria: O trabalho tem como objetivo etnografar as sociabilidades configuradas na torcida organizada Clube Desportivo Pavilhão 9, dedicada ao Sport Club Corinthians Paulista (ou, simplesmente, Corinthians), fundada na cidade de São Paulo em setembro de 1990 e que, já a partir de 1991, participa oficialmente do carnaval paulistano como bloco especial, sendo então denominada como Grêmio Recreativo Cultural Social Bloco Torcida Clube Desportivo Pavilhão 9. Durante os anos de 2020 e 2022, a pesquisa foi empreendida através de visitas à sede da torcida (onde também se realizam os ensaios no período pré-carnaval), aos espaços de produção das fantasias e alegorias, entrevistas com integrantes da torcida e da direção de carnaval da agremiação e observação participante dos eventos promovidos na sede, das idas ao estádio para partidas do Corinthians, do desfile e da apuração das notas do concurso. A pesquisa em curso ancora-se nas conclusões do estudo empreendido por Ferreira (2020), o qual mostra que, em São Paulo, a relação entre o futebol e o carnaval no interior das torcidas organizadas não ocorre nas mesmas condições de contorno, apesar da literatura escassa sobre o assunto assumir um construto semelhante identificando tão somente quem são estas agremiações (CAMPOS e LOUZADA, 2012) e em que grau estes torcedores organizados aderem ao carnaval de sua torcida organizada (HOLLANDA e MEDEIROS, 2018). Sobre estas condições de contorno, apenas os trabalhos de Bueno (2015) e Souza Junior (2020) versam sobre como estas duas cosmovisões se imbricam no caso de uma única torcida organizada específica, focando os mecanismos conciliatórios dos discursos de virilidade da torcida organizada e de confraternização preconizados pelo carnaval. No decorrer do estudo, verificou-se que, apesar de identificar os mesmos mecanismos conciliatórios, as mudanças empreendidas na participação no carnaval nos últimos três anos, quando se alterou a gestão de produção do desfile, vêm possibilitando à Pavilhão 9 ocupar o espaço urbano de outras formas para além do já estabelecido como torcida organizada, marcado profundamente pelo estigma e pela posição de liminaridade no próprio universo das torcidas organizadas em virtude de uma série de eventos trágicos (internos ou externos relacionados) ao longo da existência. Por fim, destaca-se que, mesmo com as consequência oriundas das mudanças na gestão do carnaval, o discurso norteador sempre é honrar o nome e a instituição Corinthians, que internamente caracteriza-se como manifestação de uma estrutura teleoafetiva.
Ocupantes da altura: práticas verticais na cidade
Autoria: Bárbara Côrtes Loureiro
Autoria: Esta apresentação tratará dos resultados da dissertação de mestrado "Pendências: como corpos que se penduram usam e fazem a cidade", defendida em 06 de maio de 2022. O trabalho compreende os efeitos das práticas verticais - um conjunto de maneiras desportivas e artísticas de deslocamento pedestre pelo eixo vertical, com uso de equipamentos para suspensão do corpo, como arneses, fixados a cordas por meio de mosquetões - sobre as percepções do espaço urbano e as relações corporificadas com esse contexto. Para tanto, a discussão parte do caso peculiar de ocupação do viaduto Sumaré, na zona oeste da capital paulista, por essas práticas. O estudo do caso toma tal recorte devido às particularidades de sua ocorrência: no local em questão há praticantes dessas modalidades comparecendo diariamente para atividades sem vínculo institucional, de modo contínuo desde os anos de 1990. A pesquisa descreve e analisa situações do caso a fim de identificar o que as estabelece, como as práticas significam a si mesmas, à cidade, suas estruturas e seus usos. Como resultado central, sugere uma identificação dos usos não-previstos da cidade como expressão citadina do caráter incapturável da movimentação corporal autônoma.
Valentia e ancestralidade - pressupostos para uma genealogia do boxe baiano
Autoria: Michel de Paula Soares
Autoria: Na Bahia, tanto na capital como na região metropolitana e Recôncavo, o boxe é uma atividade popular, prática amplamente disseminada na paisagem, na música, na memória e na corporalidade soteropolitana (com a clara exceção das elites e da pequena classe média branca que vive em enclaves fortificados, seja na orla, seja em condomínios mais distantes da região central), encontrada em dezenas de bairros, favelas e quebradas. As teorias locais para a popularidade do boxe em Salvador, como escutei em meu trabalho de campo, revelam que a prática do boxe está intimamente associada à cultura da dança, ao carnaval popular dos blocos de rua (popularmente conhecidos como a "pipoca" do carnaval) e das práticas corporais populares do corpo, como a capoeira e suas ramificações, de uma forma mais ampla. Conforme escutei de um dirigente da Federação Baiana de Boxe, e meu principal anfitrião em Salvador, sobre a época em que viveu em São Paulo: "estranhei que o pessoal tinha dificuldade para fazer um ritmo de batucada no banco do ônibus; aqui em Salvador toda criança aprende algum tipo de ritmo desde que nasce, isso é fundamental para a aprendizagem do boxe". Assim, a partir de meus dados de campo, buscarei entender e analisar estas influências, saberes expressivos do cotidiano nos bairros populares, que indicariam uma pré-disposição à prática, aprendizagem e eficácia do boxe na Bahia - responsável pelas únicas duas medalhas de ouro do Brasil na modalidade. Ou seja, defenderei a tese, ainda provisória, de que sua genealogia está ancorada em performatividades de gênero e raça, encorporada no aspecto viril e guerreiro que atualiza e compõe modelos de dignidade da masculinidade negra dentro de um contexto urbano de racismo estrutural. Tudo isso regido pelo ideal heroico e universalizante que representa a prática olímpica da modalidade em questão. Em Arqueologia da Esquiva, minha tese em construção, busco contextualizar a formação de masculinidades racializadas no contexto urbano das metrópoles brasileiras, suas implicações e contradições que possibilitam a inserção de jovens - em sua maioria negros e periféricos - na prática do boxe. Desde as publicações de Loïc Wacquant (2002) a partir de uma academia em Chicago/EUA à etnografia de Osmundo Pinho (2017) em bailes de pagode baiano em Cachoeira/Bahia onde se dança "botando a base", sabemos que o boxe é uma modalidade atravessada por ideais de coragem, valentia corporal, simbólica e uma postura corporal agressiva, destemida e associada à favela, que mimetizada a violência sob a performance da ginga, da esquiva, da dança e do desafio.
Uma febre do Padel: olhares etnográficos sobre esta prática esportiva em Santa Maria
Autoria: MORGANA MACHADO
Autoria: A temática do esporte enquanto matéria de lazer e prática tem seu espaço significativo no campo da Antropologia, e é do "metier" do antropólogo ousar olhar para enxergar (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1996). Assim, o fenômeno esportivo é observado partindo do entrelaçamento de uma série de escopos multifacetados e atravessados pelos olhares teórico-metodológicas, traduzindo pontos de vista privilegiados sobre diversos desdobramentos do tema, tais como apropriação nas cidades e as territorialidades, os rituais e as performances, a corporeidade e as construções de suas identidades e alteridades, o campo de disputas e suas linguagens e simbologias, bem como emoções, pertencimentos, laços, ostentações e modismos sócio-culturais. Para tanto, por meio deste relato de experiência, realizado com base no olhar de autores como Thomas Csordas, Pierre Bourdieu, Lévi-Strauss, Tim Ingold, Donna Haraway, dentre outros tantos teóricos, me permito aqui abordar algumas destas questões pretendo a partir de procedimentos metodológicos adotados que consistem tanto em revisão bibliográfica sobre o tema, quanto em observação parcialmente participante e en passant sobre a prática do Padel e seu "ressurgimento" em Santa Maria - RS. Palavras-chave: Padel, Antropologia do Esporte, Práticas urbanas, Corporeidades. Referências: BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre, RS: Zouk, 2011. CRAPRANZANO, Vincent. Diálogo. Anuário Antropológico/88 Editora Universidade de Brasília, 1991. CSORDAS, Thomas. Corpo/Significado/Cura. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2008. CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do Antropólogo: olhar, ouvir e escrever. Revista de Antropologia. SÃO PAULO, USP, 1996, v. 39 n º 1. FOUCAULT, Michel. Os corpos dóceis In: Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1997. GOFFMAN, Erving. Ritual de interação: ensaios sobre o comportamento face a face. São Paulo: Vozes, 2011. _________, E. Comportamento em lugares públicos. São Paulo: Vozes, 2010. HARAWAY, Donna. Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano / organização e tradução Tomaz Tadeu - 2. ed. - Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2009. INGOLD, Timothy. Da transmissão de representações à educação da atenção. Porto Alegre: Educação, v.33, 2010. LÉVI-STRAUSS, C. A Ciência do Concreto In: O pensamento selvagem. Campinas: Papirus, 1989. SIMMEL, Georg. PARK, Robert E. WEBER, Max. WIRTH, Louis. CHOMBAR DE LAUWE, P.H. O Fenômeno Urbano. RJ: Zahar Editores, 1967.
Torcer na Pandemia: Uma etnografia sobre as dinâmicas dos torcedores organizados durante a pandemia de covid-19 em Maceió- Alagoas.
Autoria: João Victor Mendes
Autoria: No início de 2020, o Brasil se viu assolado pela pandemia de covid-19, que já causava desordem em todo mundo. Aqui o "lockdown" chegou de maneira tardia, porém contribuiu significativamente para modificar as dinâmicas da nossa sociedade. Sair a rua era perigoso, ir ao mercado, ao shopping ou em um jogo de futebol. Somos conhecidos mundialmente como o país do futebol, clubes e torneios movimentam semanalmente milhares de torcedores, que se deslocam de suas casas até as arenas esportivas, para confraternizar e apoiar seus clubes. Com a pandemia, toda essa circulação ficou suspensa durante meses, os torcedores não tinham como externar a paixão pelos seus clubes, em detrimento dos protocolos de saúde. Este artigo, surge de observações participantes e etnografias, oriundas da minha pesquisa de mestrado na cidade de Maceió-Al, acompanhando de perto as atividades da Torcida Organizada Mancha Azul, principal instituição torcedora do Centro Sportivo Alagoano (CSA). A torcida organizada é vista como um importante ponto de sociabilidade, que agrupa indivíduos heterogêneos, em torno de um único objetivo (SIMMEL, 2006). Impossibilitados de frequentar os estádios de futebol, esses torcedores criaram estratégias, até então, inéditas para apoiar seus clubes e manter a sociabilidade torcedora. Essa nova dinâmica, consistia em colocar as faixas e bandeiras da torcida nas arquibancadas vazias dos estádios de futebol, sem cânticos, ou performances, a colocação desse material representava simbolicamente o domínio da torcida naquele espaço de concreto, que mesmo vazio, continuava sendo seu pedaço (MAGNANI, 2002). Pude acompanhar de perto toda a preparação do material da Mancha Azul, desde a escolha do material na sede da torcida, o trajeto onde os torcedores se apropriaram das ruas da cidade em comboio (MAGNANI, 2002), até sua colocação e retirada no estádio Rei Pelé. Dito isso, o objetivo é demonstrar com relatos etnográficos, como os torcedores organizados em Maceió, driblaram as adversidades impostas pelo covid-19, e resignificaram sua maneira de torcer e representar sua torcida.
A produção de corpos atléticos: uma análise do regulamento antidoping da FINA
Autoria: Pedro Diniz Marques Vieira
Autoria: Este trabalho pretende analisar o documento de controle de doping da Federação Internacional de Natação (FINA), buscando refletir sobre as premissas básicas que embasam a existência deste conjunto de regras. A natação como modalidade competitiva é regulamentada através de uma cadeia burocrática que parte do Comitê Olímpico Internacional (COI), ao qual a FINA está associada e que, por sua vez, atua como monopólio que unifica as regras que devem ser seguidas pelas federações nacionais em suas competições. No que tange as regras antidoping, esta cadeia unifica a regulamentação imposta pelo COI através da World Anti-Doping Agency (WADA), criada para desenvolver a base científica que sustenta a política antidoping no esporte. A WADA é responsável por divulgar anualmente o World Anti-Doping Code e a atualizar a Lista de Substâncias Proibidas. Estes documentos possuem validade legal para todos os esportes ligados ao COI, de modo que as federações internacionais devem seguir estas deliberações, fazendo-as valer dentro de sua jurisdição. O documento que irei analisar é a aplicação direta destes documentos no universo da natação a nível internacional. A hipótese de que parto é de que o documento funciona como uma tecnologia disciplinar, que produz a norma da corporalidade atlética a partir da cristalização de pressupostos discursivos sobre o corpo, que tomam a forma de "verdades", como a clássica dicotomia entre corpo e sujeito.
Educação esportiva como projeto social: uma análise do Instituto Guarani (São Luís - Ma)
Autoria: Juliana Carvalho, Antonio Paulino de Sousa
Autoria: Este artigo é um desdobramento da minha pesquisa de mestrado sobre "As escolhas das escolinhas de futebol e a reprodução da desigualdade social em São Luís - Ma", pelo programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão, no âmbito da antropologia e sociologia do futebol. No desenrolar da pesquisa, que investiga a escolinha Grêmio Maranhense, entrevistei um técnico que já trabalhou nessa referida escolinha e nessa conversa fui apresentada a um projeto social chamado "Instituto Guarani", no bairro da Cohab, em São Luís. Esse técnico é um dos dirigentes e fundadores. Esse instituto tem como proposta principal ajudar jovens adolescentes para que eles não entrem e/ou não sigam no mundo da criminalidade. As atividades no futebol contribuiriam para a educação desses jovens, além de ser um meio no qual eles podem aprender técnicas esportivas e serem vistos por "olheiros" de outros times que podem investir na carreira deles como jogadores profissionais. A metodologia se deu através de uma entrevista online via aplicativo zoom no mês de novembro de 2021. Ao fim da conversa com o técnico se percebeu que o trabalho do Instituto Guarani tem sido um diferencial na vida desses jovens envolvidos no esporte, podendo ajudar a pensar o papel das instituições esportivas e na educação como fundamento de base para jovens. Palavras - Chave: Instituto Guarani, Educação, Escolinha de futebol.
As agarradas corporais indígenas e caboclas: as lutas ikindene, piãnguá e marajoara.
Autoria: FABIO JOSÉ CARDIAS-GOMES
Autoria: O objetivo deste trabalho é apresentar dados de estudos e coletas em campo sobre as lutas agarradas corporais conhecidas como ikindene, piãguá e marajoara. O enfoque da pesquisa envolve o desenvolvimento da psicologia do etnoesporte (Fassheber, 2006; Kylasov, 2012) e dos jogos e esportes tradicionais (JETs), em estágio pós-doutoral na USP, como diálogo entre a antropologia e a psicologia das práticas esportivas e corporais dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Metodologia qualitativa, bibliográfica, etnográfica e diário de campo. A primeira modalidade, o ikindene hekugu, é praticada por indígenas do Território indígena do Alto Xingu, localizado no Estado do Mato Grosso, porção sul da Amazônia brasileira. Há pouco material sobre esse modo de lutar-ritualizar, sendo mais recente a tese doutoral de Carlos Eduardo Costa (2013) e a dissertação de mestrado de Leandro Paiva (2021), das quais destaco impressões dos seus aspectos etnográficos e etnoarqueológicos, relacionado com os mitos, os ritos, a pessoa-comunal e o lúdico desta modalidade luta-luto. Em segundo lugar, a luta corporal do piãguá dos indígenas Maraguá do Estado do Amazonas , totalmente desconhecida pelo público leigo e acadêmico, até então. A dissertação de mestrado de Núbia Lira Cintrão (2012), sobre a farinhada em território indígena (TI) Maraguá é um raro trabalho que faz menção à manifestação cultural da luta piãguá. Desconhecida mesmo entre estudiosos das lutas corporais em ciências do esporte e educação física, muito menos citada como luta indígena na Base Nacional Comum Curricular, como é o caso das duas outras modalidades aqui em estudo. Ressalta-se a literatura escrita pelo escritor maraguá/saterê mawé Yaguarê Yamã, em especial o seu livro, dentre vários, entitulado Maraguápéyára (2014) no qual há uma breve descrição da luta chamada de piãguá, e toda sua função ancestral de ritos de poder, que foi modificada até sua versão contemporânea, reduzida ao ritual-lazer. Em terceiro, e com coleta de dados avançada, com indas e vindas aos territórios remotos do arquipélago do Marajó, com o estudo das primeiras obras, como a pioneira em José Wildemar Paiva de Assis (1997) até as comunicações recentes, e crescentes sobre a luta marajoara. Assim, apresento dados sobre a agarrada/luta marajoara, com mais de 200 anos, que recentemente se institucionaliza como esporte de rendimento e esporte escolar na educação física escolar. Destas leituras, estudos e coletas iniciais eu comunico algumas análises, interpretações e reflexões sobre modalidades de lutas agarradas brasileiras pouco conhecidas, e como parto também delas na construção de uma antropo-psicologia social do etnoesporte, dos jogos tradicionais e das práticas esportivas e corporais dos povos e comunidades indígenas e tradicionais.
Pelota dividida, Etnografia sobre fútbol en el "interior" Argentino
Autoria: Francisco Monteverde
Autoria: Esta ponencia deriva del trabajo final de grado de la licenciatura en sociología titulado: "Pelota dividida, identificaciones en las hinchadas de futbol de monte buey" La misma propone un análisis desde el deporte hacia la realidad local de la capital nacional de la "siembra directa", en Monte Buey, pueblo del interior cordobés, indagando hacia nuevas territorialidades el fenómeno global del futbol. A partir de un trabajo etnográfico, se esboza el campo social del futbol como un importante espacio de socialización y configuración cultural en estas latitudes, donde se ponen en juego las identificaciones, motivadas por racialidad, clase, género y edad, propias. En este recorrido se ponen en relieve las relaciones entre las hinchadas de los dos clubes de futbol locales, San Martin y Matienzo. Al "agro negocio" y los marcos territoriales propios como trasfondo estructurante de desigualdades que se reconstruyen en los entramados culturales en cuestión propiciando divisiones y jerarquías. La "cultura del aguante" aparecerá como variable con sus particularidades locales, en las estrategias de las hinchadas para posicionarse en los marcos culturales locales, transitando limites de legitimidades y violencias. La pelota dirime disputas que van más allá de la idealizada igualdad de competencia perfecta del deporte moderno.
Redes de Sociabilidade, Lazer e Consumo como processadores de Subjetivações LGBTQIA+ nos Municípios de Araraquara e São Carlos
Autoria: Mateus Rodrigues dos Santos
Autoria: Este trabalho propõe compreender as variadas formas como indivíduos de gênero e orientações sexuais consideradas dissidentes, moradores dos municípios de Araraquara e São Carlos, constroem relações entre si, tecem redes de sociabilidade e elaboram práticas culturais que produzem suas subjetividades e identidades no cotidiano, em contextos de lazer. Tais locais e seus itens de consumo, serão concebidos como mediadores e comunicadores sociais que instrumentalizam estes processos. Por conta dos grupos identitários em análise, torna-se necessário realizar um mapeamento histórico da Comunidade LGBTQIA+ no país e fomentar a discussão reconhecendo as abordagens principais dos Estudos de Gênero e Sexualidade. Em seguida, lançar mão ao conceito de Sociabilidade e mobilizar o repertório de investigação da Antropologia do Consumo, dando fundamento teórico para as problematizações propostas. Influenciado por categorias da chamada Antropologia Urbana, como estratégia metodológica, propomos trabalho de campo etnográfico em bares e casas noturnas frequentados, predominantemente, por integrantes da comunidade LGBTQIA+ nas duas cidades.
Memórias e identidades entre torcedores organizados do Riograndense Futebol Clube (Santa Maria-RS)
Autoria: Mateus Cordenonsi Bonez, Maria Catarina Chitolina Zanin
Autoria: O presente trabalho tem o propósito de apresentar parte de uma pesquisa de doutorado em Ciências Sociais, a qual tem como norte o intento de compreender a construção e a negociação de identidades de torcedores/as do Riograndense Futebol Clube, instituição fundada em 1912 na cidade de Santa Maria-RS. Este clube tem origem ferroviária e participou por diversas vezes de campeonatos oficiais, tendo se sagrado campeão do interior, bem como vice campeão gaúcho em 1921. No entanto, desde 2017 não atua como time profissional de futebol, mantendo somente atividades nas categorias de base. Sendo assim, partindo de um esforço metodológico que coloca em relevo o "encontro etnográfico" (CRAPANZANO, 1980) e as narrativas sobre si características da etnobiografia (GONÇALVES, 2012), esta proposta de trabalho apresenta uma reflexão acerca da produção de identidades de um grupo de torcedores/as organizados do Riograndense, membros da T.O.R (Torcida Organizada do Riograndense), fundada em 2012, ano do centenário do clube. No primeiro semestre de 2022, foram realizadas entrevistas etnográficas (GUBER, 2001) e encontros etnográficos que erigiram narrativas biográficas demonstrativas de, principalmente, construções identitárias concernentes com o bairro Perpétuo Socorro, local da sede do clube, e a família, esta vinculada ao trabalho ferroviário e seus coletivos. Enquanto dados preliminares, pode-se dizer que as identidades dos torcedores/as, nas narrações orais e nas práticas de lazer oriundas do ato de torcer, reforçam constantemente os laços familiares e a comunidade (bairro) enquanto alicerces do clube e da torcida. As memórias de vinculação territorial e familiar sobrepujam, assim, as memórias dos jogos, dos ídolos e dos títulos. Além disso, no que concerne às significações de lazer, este trabalho interessa-se não em concebê-lo perante o mundo do trabalho e o tempo de trabalho, mas em compreender as relações que se estabelecem entre práticas de lazer, modos de vida e vida ordinária (MAGNANI, 2018). Desta feita, essa torcida organizada evoca identificações que se mantém demasiadamente por meio de memórias, assim como outros/as interlocutores/as da pesquisa, mais velhos/as. Identidades ferroviárias, operárias e periféricas se aglutinam e roteirizam as práticas de lazer da torcida, que ocorrem no estádio e fora dele, em encontros casuais ou em jogos das categorias de base.
Do lazer convencional a outras formas de diversão: entendimentos que conduzem o lazer na periferia de Belém (PA)
Autoria: Flavio Henrique Lobato, Juliana Azevedo Hamoy, Mirleide Chaar Bahia
Autoria: Historicamente, no contexto globalizado, capitalista e eurocêntrico, foram concebidos conceitos e práticas próprios de uma concepção hegemônica de lazer, a qual conformou entendimentos convencionais do que seria, de como deveria ser e em que espaços e tempos deveria ocorrer o lazer, bem como quem dele poderia ser beneficiário. Diante disso, o presente trabalho objetivou analisar as experiências e os entendimentos que conduzem o lazer de uma comunidade periférica de Belém-Pará-Brasil. Metodologicamente, a partir de uma abordagem qualitativa, foram empregadas pesquisas bibliográfica, documental e de campo. Em um exercício do fazer etnográfico, foram realizadas conversas informais, observação participante, entrevistas semiestruturadas e anotações em caderno de campo. Entre os resultados, evidenciou-se que os moradores dessa periferia, frequentemente, associam o lazer a pelo menos cinco aspectos: 1) dinheiro - somente pode usufruir do lazer quem pode pagar por ele; 2) tempo - quem não trabalha ou não tem uma rotina muito cansativa consegue ter tempo para o lazer; 3) espaços - praças, orlas, parques de diversão, cinemas, shoppings etc. foram apontados como sinônimos de lazer; 4) práticas opostas ao trabalho - descanso, repouso, ficar em casa sem fazer nada, viajar, jogar futebol etc.; e 5) sentimentos, sensações ou emoções - diversão, alegria, felicidade, satisfação etc. No geral, essas e outras narrativas, em grande parte, fazem referência à lógica do lazer convencional, a qual chega numa comunidade periférica de Belém-Pará, denominada "Mata Fome", por meio da mídia e das ações governamentais, que ditam o que é e o que não é, o que pode e o que não pode ser considerado lazer. Mais contemporaneamente, as redes sociais alimentam a vontade incessante por festas, viagens e cruzeiros marítimos para se desfrutar das experiências de lazer. Desse modo, muitas vezes guiados por essas visões totalizantes, os moradores da periferia de Belém - Pará não conseguem enxergar ou considerar as suas experiências cotidianas como uma forma de lazer. Com efeito, a compreensão, o desejo e a luta pelo direito ao lazer são, com frequência, circunscritos a determinadas formas legitimadas socioeconomicamente como lazer.