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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT26: Biodiversidade, territorialidade e saúde nas terras indígenas da Amazônia

Laura Pérez Gil, Pirjo Kristiina Virtanen

Nos últimos anos, tornou-se evidente que as terras indígenas na região amazônica são espaços para a proteção da biodiversidade. Frente a posições preservacionistas, diversos estudos mostram que a diversidade cultural e os conhecimentos tradicionais das populações indígenas que habitam a região amazônica são uma garantia para a sua existência. Esses coletivos contribuem para a continuidade e renovação da biodiversidade por meio de seus modos específicos de habitar, num sentido ingoldiano, mas também por meio de suas lutas contra os projetos extrativistas e de desenvolvimento de infraestruturas em grande escala. As rupturas drásticas que estes provocam nos mundos sociais indígenas são, igualmente, uma ameaça à biodiversidade. Por outro lado, a conservação da biodiversidade, estreitamente conectada com seus direitos à terra, é crucial para o bem-viver e a saúde das populações indígenas. Durante a recente pandemia da COVID19 a possibilidade de controle das fronteiras territoriais e de manter um certo grau de autonomia graças aos recursos existentes nos seus territórios foi crítica para muitas comunidades. Propomos nesse GT abordar, desde um posicionamento decolonial, uma reflexão que aponte para a transversalidade entre biodiversidade, territorialidade e bem-estar entre as populações indígenas, convidando a submissão de trabalhos etnográficos e teóricos que discutam aspectos diversos desse assunto. A autoria indígena e a coautoria com estudiosos indígenas são incentivadas

Palavras chave: Povos indígenas, biodiversidade, saúde.
Resumos submetidos
Saberes, coragem e ancestralidade: a experiência das mulheres indígenas de Oiapoque no enfrentamento à Covid-19
Autoria: Rita Becker Lewkowicz, Claudia Renata Lod Moraes
Autoria: Neste trabalho pretendemos abordar a experiência das mulheres indígenas dos povos Galibi Kali"na, Galibi Marworno, Karipuna e Palikur no enfrentamento à pandemia da Covid-19, nas Terras Indígenas Uaçá, Galibi e Juminã, localizadas no município de Oiapoque, no extremo norte do estado do Amapá, fronteira com a Guiana Francesa. O medo da chegada do vírus nas aldeias, as restrições sanitárias e a falta de infraestrutura da saúde nas aldeias provocaram um processo de ampliação e fortalecimento de práticas tradicionais de cuidado com a saúde, especialmente dos remédios à base de plantas, raízes, cascas e óleos, os banhos, os resguardos e os cuidados com a alimentação das famílias. Nos relatos das parteiras, elas mencionaram que da mesma forma que precisam ter coragem para fazer um parto, também precisaram ter muita coragem para enfrentar o desconhecido, superar o medo da pandemia, pela necessidade e vontade de ajudar os doentes em suas comunidades. Buscaram em seus conhecimentos ancestrais, associados às formas com que conhecem e vivem o território, meios para enfrentar a covid-19 nas suas aldeias. Se, por um lado, a atuação dessas mulheres foi no cuidado em seus domicílios e famílias, por outro lado, assumiram também uma dimensão política e de articulação entre comunidades e instituições. Neste caso, analisamos a atuação da Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão - AMIM na realização de ações de enfrentamento à pandemia em diferentes eixos, no apoio à segurança alimentar, na valorização dos conhecimentos tradicionais das mulheres e parteiras, e no fortalecimento de iniciativas de geração de renda sustentáveis protagonizadas pelas mulheres. Por fim, refletimos sobre os impactos da pandemia no território, considerando a aceleração e multiplicação de atividades ilícitas, como o garimpo dentro das terras indígenas. Atribuímos este fato à ausência das reuniões e ações coletivas de vigilância realizadas pelo movimento indígena local, à redução da presença das instituições governamentais e não governamentais nos territórios e à conjuntura política nacional, estimulando ações predatórias na Amazônia. As mulheres têm tido um papel importante no enfrentamento a estas ações predatórias, tanto na política cotidiana do âmbito doméstico-familiar, quanto na política institucional - ocupando cargos de liderança nas organizações indígenas do Oiapoque e até mesmo na Câmara Legislativa Municipal, procurando colocar em pauta as reivindicações do movimento indígena. A autoria deste trabalho é fruto de uma parceria entre Renata Lod, indígena Galibi Kali"nã coordenadora da AMIM e graduada pela Licenciatura Intercultural Indígena, e Rita Lewkowicz, antropóloga e coordenadora do Programa Oiapoque do Iepé.