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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT38: Entre arte e política: articulações contemporâneas em pesquisas antropológicas

Vi Grunvald, Glauco Ferreira

Em continuidade às reflexões desenvolvidas em Grupos de Trabalho da RBA e da RAM e em Simpósios Temáticos do Encontro Anual da ANPOCS, esta proposta tem como foco práticas e sujeitos sociais que operam nos interstícios entre arte e política. No cenário antropológico contemporâneo, são constantes as investigações que buscam analisar ações sociais que se processam através de imagens, sons, materialidades, objetos, performances e formas expressivas que, não raro, se coadunam em processos de organização coletiva e mobilizações sociais que apontam o rico potencial transformativo de agências que são, simultaneamente, artísticas e políticas. Por outro lado, pelo menos desde os anos 2000, tem se intensificado, em nossa disciplina, o que podemos caracterizar como "virada artística" e que aponta para uma aproximação entre arte e antropologia do ponto de vista de suas práticas e fazeres, enfatizando novos caminhos etnográficos possíveis para exprimir os resultados de nossas pesquisas, bem como atentando para outras possibilidades metodológicas de construção das mesmas. Nesse sentido, buscamos acolher tanto pesquisas que, ao se debruçarem sobre o campo artístico, enfatizam suas potencialidades políticas (e vice-versa) quanto aquelas nas quais o fazer etnográfico opera a partir de produções que mesclam antropologia e práticas artísticas.

Palavras chave: Artes; Políticas; Agência
Resumos submetidos
"Tudo que nós têm é nós": pesquisa ativista, metodologias informadas por arte, lugares da negritude e práticas político pedagógicas de coletivos negros na universidade
Autoria: Tamiris Pereira Rizzo, Osmar Santos, Alexandre Brasil Fonseca
Autoria: Como o movimento negro se torna um educador coletivo das relações étnico-raciais em uma universidade pública? Na pesquisa que deu origem a este trabalho, assumimos a orientação teórico-metodológica da pesquisa ativista de Hale et al. (2008) para o trabalho de campo e das metodologias informadas por arte de Knowles e Coles (2008) para organização e apresentação dos resultados. Após análise de diário de campo, entrevistas e materiais audiovisuais produzidos pelos próprios coletivos, o trabalho foi estruturado a partir da análise de um poema de uma estudante; da composição de uma galeria de imagens feitas na UFRJ e, da elaboração de três contos literários ilustrados. Buscamos por meio deles, acessar e captar, por meio de outras chaves e linguagens, a politicidade, a ética e a estética presentes nas práticas educativas, nas estratégias político-pedagógicas e nas produções de novos conhecimentos em ciências e saúde por parte desses coletivos. Segundo Knowles e Coles (2008), as pesquisas informadas por arte buscam redefinir as formas e a representação da pesquisa, de tal modo, a criar novos entendimentos sobre processo, espírito, propósito, subjetividade, emoção, responsividade e compromisso ético, de modo a romper o distanciamento entre o conhecimento acadêmico e a comunidade. Todos os contos literários foram apreciados, em primeira mão, pelos ativistas dos coletivos. Este processo foi fundamental na partilha dos achados da pesquisa e na finalização dos contos em si. Essas escolhas teórico-metodológicas propiciaram reduzirmos às distâncias entre o fazer político-cultural e artístico dos coletivos negros universitários e as formas convencionais de retratá-los nas pesquisas etnográficas. Assim, por meio da arte, enfatizamos a percepção desses coletivos negros como lugares da negritude, atuando enquanto uma matriz formadora, conferindo especificidade aos saberes identitários, políticos e estético corpóreos que subsidiam novos conhecimentos, práticas educativas e estratégias político-pedagógicas de discentes negras/os. Este trabalho foi desenvolvido a partir da pesquisa que deu origem à tese "Tudo que nós têm é nós: lugares da negritude e práticas político pedagógicas de coletivos negros na universidade", cujas ilustrações foram escolhidas para concorrer ao I Prêmio Pierre Verger de Desenho da ABA e para a qual foi desenvolvida pesquisa etnográfica em que refletimos sobre arte, política e a atuação de coletivos negros na Universidade Federal do Rio de Janeiro. HALE, C. Engaging contradictions: theory, politics, and methods of activist scholarship. Berkeley: University of California Press, 2008. KNOWLES, J. G; COLE, A, L. Handbook of the arts in qualitative research: perspectives, methodologies, examples, and issues. Los Angeles: Sage Publications, 2008.
Arte e vulnerabilidade travesti: considerações acerca de uma performance em caos paradoxal
Autoria: Iago Marichi Costa
Autoria: A partir de uma investigação a qual o principal objetivo é a identificação de formas potentes de resistência e agenciamento exercidos através da criação artística de pessoas trans* e travestis, apresento um recorte etnográfico de pesquisa que se refere à execução da performance "(r)e_c0l3t4: C40S P4R4D0XAL", interpretada por Guma Joana. Com eixo temático cravado na vulnerabilidade existencial do corpo travesti em território nacional, a prática opera em um ambiente de risco que nos remete igualmente ao descarte residual inadequado da produção de lixo brasileira. A análise culmina na verificação de contínuas manifestações imagéticas capazes de produzir laços e afetos, mas também na decorrente possibilidade de sobrevivência de sujeitos que agenciam coletivamente a contramão da política de morte e despejo desde a arte.
Fricções e ficções de imagens no norte de Moçambique
Autoria: Eduardo Vargas
Autoria: Resumo: Aberto na década de 1950, em pleno período colonial, um caminho de ferro corta o norte de Moçambique. De maneira intermitente por conta da guerra de Independência e da guerra dos 16 anos que a seguiu, ele conecta o oceano Índico, a leste, às férteis regiões de Cuamba e Lichinga, a oeste. Por ele passa há décadas um comboio que leva gente, sobretudo macuas, de Nampula a Cuamba. É o principal meio de transporte das pessoas e dos produtos de machamba entre os inúmeros povoados da região, a mais populosa do país. Este caminho de ferro foi refeito e estendido há uma década como parte de megaprojetos de exploração de carvão mineral e de agronegócio, que têm impactado severamente a região. Hoje é conhecido como o Corredor de Nacala. Este trabalho apresenta e discute imagens produzidas por diferentes agentes que cruzam este caminho de ferro, ou cujos caminhos este de ferro cruza, sejam elas feitas pelas instituições interessadas, sejam elas contrafeitas pelas populações envolvidas, numa particular guerra de imagens. Este trabalho também relata e discute experiências etnográficas em curso que envolvem a produção e a circulação de imagens fotográficas entre pessoas e instituições da região, notadamente a exposição fotográfica “Olhos Passageiros – Todos os Olhos” tal como ocorrida no início de 2020 no norte de Moçambique < https://youtu.be/U_7AaH3MbL0 >, quando foram expostas nas paredes externas dos vagões do comboio de passageiros uma centena e meia de retratos de utentes do mesmo comboio tirados em viagem realizada em 2016 e desta vez impressos e expostos em grande formato. Em todos os casos trata-se de saber o que (se) passa e o que não (se) passa nos caminhos que cortam de leste a oeste o norte de Moçambique; em que medida estes caminhos de gentes e entes se friccionam e se ficcionam reciprocamente, enfim, como transportar isso de um momento a outro, de um canto a outro, de uma associação a outra, de um mundo a outro reconhecendo e respeitando as armadilhas próprias aos modos de passagem, às palavras e às imagens, bem como aquelas que enredam quem as porta.
O lugar onde meus pés pisam neste momento
Autoria: Valentina Paz Bascur Molina
Autoria: No presente texto articulo uma discussão em torno da forma como se constituiu o sujeito moderno e os seus desdobramentos na atualidade. A partir dos postulados da pensadora Denise Ferreira da Silva (2019) sobre a questão da Diferença enquanto descritor do humano e, em interlocução com autoras como a antropóloga Els Lagrou (2009), teço um diálogo sobre as possibilidades outras da existência humana e não-humana. Junto das autoras, apresento a obra da artista indígena mapuche Paula Baeza Pailamilla para refletir em torno do corpo e da Diferença. Proponho pensar como as artes indígenas contemporâneas oferecem formas para habitar estas possibilidades. Introduzo o texto me situando enquanto autora e pesquisadora que habita um território em resistência, com antecedentes históricos que são visíveis na cotidianidade. O lugar onde meus pés pisam neste momento, é uma forma de construir conhecimento desde um lugar situado, numa tentativa por colocar em diálogo não apenas impressões do intelecto, mas também aquelas que provêm do corpo. Tomando como referência o que Donna Haraway (1995) conceitua como Saberes Localizados, enquanto caminho metodológico para questionar a forma em que as nossas visões de mundo têm sido constituídas. Coloco especial ênfase nas obras da artista Paula Baeza Pailamilla, a saber: Mi cuerpo es un museo [Meu corpo é um museu] (2019), e o registro audiovisual da performance chamada Kütral - Cuerpos (2020). Busco identificar a forma em que estas obras questionam aquele sujeito moderno que Denise Ferreira da Silva (2019) também propõe desmontar.
O lugar onde meus pés pisam neste momento
Autoria: Valentina Paz Bascur Molina
Autoria: No presente texto articulo uma discussão em torno da forma como se constituiu o sujeito moderno e os seus desdobramentos na atualidade. A partir dos postulados da pensadora Denise Ferreira da Silva (2019) sobre a questão da Diferença enquanto descritor do humano e, em interlocução com autoras como a antropóloga Els Lagrou (2009), teço um diálogo sobre as possibilidades outras da existência humana e não-humana. Junto das autoras, apresento a obra da artista indígena mapuche Paula Baeza Pailamilla para refletir em torno do corpo e da Diferença. Proponho pensar como as artes indígenas contemporâneas oferecem formas para habitar estas possibilidades. Introduzo o texto me situando enquanto autora e pesquisadora que habita um território em resistência, com antecedentes históricos que são visíveis na cotidianidade. O lugar onde meus pés pisam neste momento, é uma forma de construir conhecimento desde um lugar situado, numa tentativa por colocar em diálogo não apenas impressões do intelecto, mas também aquelas que provêm do corpo. Tomando como referência o que Donna Haraway (1995) conceitua como Saberes Localizados, enquanto caminho metodológico para questionar a forma em que as nossas visões de mundo têm sido constituídas. Coloco especial ênfase nas obras da artista Paula Baeza Pailamilla, a saber: Mi cuerpo es un museo [Meu corpo é um museu] (2019), e o registro audiovisual da performance chamada Kütral - Cuerpos (2020). Busco identificar a forma em que estas obras questionam aquele sujeito moderno que Denise Ferreira da Silva (2019) também propõe desmontar.
"Tudo que nós têm é nós": pesquisa ativista, metodologias informadas por arte, lugares da negritude e práticas político pedagógicas de coletivos negros na universidade
Autoria: Tamiris Pereira Rizzo, Osmar Santos, Alexandre Brasil Fonseca
Autoria: Como o movimento negro se torna um educador coletivo das relações étnico-raciais em uma universidade pública? Na pesquisa que deu origem a este trabalho, assumimos a orientação teórico-metodológica da pesquisa ativista de Hale et al. (2008) para o trabalho de campo e das metodologias informadas por arte de Knowles e Coles (2008) para organização e apresentação dos resultados. Após análise de diário de campo, entrevistas e materiais audiovisuais produzidos pelos próprios coletivos, o trabalho foi estruturado a partir da análise de um poema de uma estudante; da composição de uma galeria de imagens feitas na UFRJ e, da elaboração de três contos literários ilustrados. Buscamos por meio deles, acessar e captar, por meio de outras chaves e linguagens, a politicidade, a ética e a estética presentes nas práticas educativas, nas estratégias político-pedagógicas e nas produções de novos conhecimentos em ciências e saúde por parte desses coletivos. Segundo Knowles e Coles (2008), as pesquisas informadas por arte buscam redefinir as formas e a representação da pesquisa, de tal modo, a criar novos entendimentos sobre processo, espírito, propósito, subjetividade, emoção, responsividade e compromisso ético, de modo a romper o distanciamento entre o conhecimento acadêmico e a comunidade. Todos os contos literários foram apreciados, em primeira mão, pelos ativistas dos coletivos. Este processo foi fundamental na partilha dos achados da pesquisa e na finalização dos contos em si. Essas escolhas teórico-metodológicas propiciaram reduzirmos às distâncias entre o fazer político-cultural e artístico dos coletivos negros universitários e as formas convencionais de retratá-los nas pesquisas etnográficas. Assim, por meio da arte, enfatizamos a percepção desses coletivos negros como lugares da negritude, atuando enquanto uma matriz formadora, conferindo especificidade aos saberes identitários, políticos e estético corpóreos que subsidiam novos conhecimentos, práticas educativas e estratégias político-pedagógicas de discentes negras/os. Este trabalho foi desenvolvido a partir da pesquisa que deu origem à tese "Tudo que nós têm é nós: lugares da negritude e práticas político pedagógicas de coletivos negros na universidade", cujas ilustrações foram escolhidas para concorrer ao I Prêmio Pierre Verger de Desenho da ABA e para a qual foi desenvolvida pesquisa etnográfica em que refletimos sobre arte, política e a atuação de coletivos negros na Universidade Federal do Rio de Janeiro. HALE, C. Engaging contradictions: theory, politics, and methods of activist scholarship. Berkeley: University of California Press, 2008. KNOWLES, J. G; COLE, A, L. Handbook of the arts in qualitative research: perspectives, methodologies, examples, and issues. Los Angeles: Sage Publications, 2008.
Arte e vulnerabilidade travesti: considerações acerca de uma performance em caos paradoxal
Autoria: Iago Marichi Costa
Autoria: A partir de uma investigação a qual o principal objetivo é a identificação de formas potentes de resistência e agenciamento exercidos através da criação artística de pessoas trans* e travestis, apresento um recorte etnográfico de pesquisa que se refere à execução da performance "(r)e_c0l3t4: C40S P4R4D0XAL", interpretada por Guma Joana. Com eixo temático cravado na vulnerabilidade existencial do corpo travesti em território nacional, a prática opera em um ambiente de risco que nos remete igualmente ao descarte residual inadequado da produção de lixo brasileira. A análise culmina na verificação de contínuas manifestações imagéticas capazes de produzir laços e afetos, mas também na decorrente possibilidade de sobrevivência de sujeitos que agenciam coletivamente a contramão da política de morte e despejo desde a arte.
"Buona Sera Turin! Good evening Europe!": Performance e política no Eurovision Song Contest 2022.
Autoria: Fernanda Marcon, Rebecca Ramos Dias
Autoria: O evento "Eurovision Song Contest" é uma competição musical anual realizada em contexto europeu desde 1956. O projeto inicial do evento envolveu o discurso de união do continente europeu através da música dado o fim da 2ª Guerra Mundial. Atualmente, possui uma série de pré-seleções nacionais que culminam em duas semifinais e uma grande final, tendo como slogan revelar a "nova voz da Europa". Além disso, o país que tem sua composição representante premiada recebe o valor do prêmio para sediar a edição seguinte do festival, configurando um revezamento de anfitriões entre os países do continente. A comunicação pretende refletir sobre as performances das canções concorrentes no evento, tendo em vista o horizonte político estabelecido pelo Eurovision desde sua primeira edição. Entende-se que os grandes festivais musicais competitivos mobilizam e constituem diferentes discursos identitários sobre os espaços sociais e geopolíticos em que se realizam ou de onde partem os participantes. No caso do Eurovision, há muito se articulam noções de "europeidade" que hierarquizam e organizam as relações entre os países que participam da competição. Portanto, pretende-se observar como as performances das canções que competem no Eurovision 2022 dialogam e constituem modos de "cantar" a Europa, mas também os conflitos e questões geopolíticas da contemporaneidade a partir da observação do evento de forma online e acompanhamento de suas páginas oficiais em redes sociais. A etnografia virtual se insere como metodologia importante nesse contexto, haja vista que a produção do festival é particularmente pensada a partir da mediação do espaço virtual em que se divulgam as composições concorrentes de cada país, a veiculação de vídeos de inscrição e a transmissão ao vivo das performances nas etapas eliminatórias. A partir dos estudos de performance, mas também de perspectivas teóricas que iluminam o diálogo da arte com a política no próprio fazer antropológico, o trabalho busca refletir sobre uma Europa pandêmica e que constrói uma vez mais um discurso sobre a ameaça de guerra, desta vez por seu Leste (guerra da Ucrânia). Um fronteira civilizacional móvel e constituída internamente, a partir da qual se acionam símbolos políticos, como a nação e o continente, e se desdobram os conflitos latentes através das performances musicais competitivas.
Poéticas e políticas negras: uma etnografia sobre o Movimento Negro no campo artístico e acadêmico
Autoria: Amanda Santos Silveira
Autoria: Através de um diálogo entre Antropologia da Educação e Dança, este trabalho tem como objetivo apresentar dados parciais de um estudo etnográfico com dois coletivos negros, artísticos e vinculados a graduações em Dança no Rio Grande do Sul. O campo de pesquisa é composto pelo Coletivo Corpo Negra, de Porto Alegre/RS, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Coletivo Negressencia, coletivo multiterritorial que foi criado vinculado aos cursos de Dança Licenciatura e Bacharelado da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Trata-se de um recorte de uma pesquisa pautada na presença de coletivos negros no campo acadêmico, que tem como objetivo investigar as formas de aquilombamento entre sujeitos negros e negras na universidade e como o Movimento Negro aparece no campo universitário. Para tanto, mobilizo o conceito de aquilombamento a partir de Beatriz Nascimento (1989) e de Alex Ratts (2006) e a discussão sobre Movimento Negro a partir de Nilma Lino Gomes (2018). O Coletivo Negressencia e o Coletivo Corpo Negra são grupos formados por jovens negros/as intelectualizados/as e conscientes racialmente que reivindicam o acesso à educação e ao mercado de trabalho; o direito de circular e permanecer plenamente em espaços públicos; a criação de lugares ligados a religiosidades e o acesso aos direitos civis. As ações destes grupos são realizadas através do corpo e do movimento, proporcionando um diálogo entre dança, educação, arte, antropologia e política. Os coletivos, entendidos como grupos políticos produtores de experiências (de arte e de educação, principalmente), ressignificam a questão étnico-racial dentro e fora do meio universitário. Nesse estudo, além de artistas negros/as inseridos em grupos de militância, os/as integrantes dos coletivos são reconhecidos também como sujeitos de conhecimento. Adoto o pressuposto de que esses grupos - enquanto forma de organização política, artística e pressão social - têm se constituído como mediadores entre a comunidade negra, a sociedade e a Universidade. A importância do presente estudo está na necessidade de aprofundar a reflexão sobre a organização de coletivos negros que possuem caráter artístico. O cerne deste trabalho diz respeito aos saberes políticos produzidos pelas ações do Coletivo Corpo Negra e do Coletivo Negressencia. Pelo trabalho de campo realizado entre 2020 e 2022, estes grupos constroem saberes e aprendizados não só políticos mas também identitários e, como se trata de Dança, saberes artísticos.
"Buona Sera Turin! Good evening Europe!": Performance e política no Eurovision Song Contest 2022.
Autoria: Fernanda Marcon, Rebecca Ramos Dias
Autoria: Resumo: O evento “Eurovision Song Contest” é uma competição musical anual realizada em contexto europeu desde 1956. O projeto inicial do evento envolveu o discurso de união do continente europeu através da música dado o fim da 2ª Guerra Mundial. Atualmente, possui uma série de pré-seleções nacionais que culminam em duas semifinais e uma grande final, tendo como slogan revelar a “nova voz da Europa”. Além disso, o país que tem sua composição representante premiada recebe o valor do prêmio para sediar a edição seguinte do festival, configurando um revezamento de anfitriões entre os países do continente. A comunicação pretende refletir sobre as performances das canções concorrentes no evento, tendo em vista o horizonte político estabelecido pelo Eurovision desde sua primeira edição. Entende-se que os grandes festivais musicais competitivos mobilizam e constituem diferentes discursos identitários sobre os espaços sociais e geopolíticos em que se realizam ou de onde partem os participantes. No caso do Eurovision, há muito se articulam noções de “europeidade” que hierarquizam e organizam as relações entre os países que participam da competição. Portanto, pretende-se observar como as performances das canções que competem no Eurovision 2022 dialogam e constituem modos de “cantar” a Europa, mas também os conflitos e questões geopolíticas da contemporaneidade a partir da observação do evento de forma online e acompanhamento de suas páginas oficiais em redes sociais. A etnografia virtual se insere como metodologia importante nesse contexto, haja vista que a produção do festival é particularmente pensada a partir da mediação do espaço virtual em que se divulgam as composições concorrentes de cada país, a veiculação de vídeos de inscrição e a transmissão ao vivo das performances nas etapas eliminatórias. A partir dos estudos de performance, mas também de perspectivas teóricas que iluminam o diálogo da arte com a política no próprio fazer antropológico, o trabalho busca refletir sobre uma Europa pandêmica e que constrói uma vez mais um discurso sobre a ameaça de guerra, desta vez por seu Leste (guerra da Ucrânia). Um fronteira civilizacional móvel e constituída internamente, a partir da qual se acionam símbolos políticos, como a nação e o continente, e se desdobram os conflitos latentes através das performances musicais competitivas.
Poéticas e políticas negras: uma etnografia sobre o Movimento Negro no campo artístico e acadêmico
Autoria: Amanda Santos Silveira
Autoria: Através de um diálogo entre Antropologia da Educação e Dança, este trabalho tem como objetivo apresentar dados parciais de um estudo etnográfico com dois coletivos negros, artísticos e vinculados a graduações em Dança no Rio Grande do Sul. O campo de pesquisa é composto pelo Coletivo Corpo Negra, de Porto Alegre/RS, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Coletivo Negressencia, coletivo multiterritorial que foi criado vinculado aos cursos de Dança Licenciatura e Bacharelado da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Trata-se de um recorte de uma pesquisa pautada na presença de coletivos negros no campo acadêmico, que tem como objetivo investigar as formas de aquilombamento entre sujeitos negros e negras na universidade e como o Movimento Negro aparece no campo universitário. Para tanto, mobilizo o conceito de aquilombamento a partir de Beatriz Nascimento (1989) e de Alex Ratts (2006) e a discussão sobre Movimento Negro a partir de Nilma Lino Gomes (2018). O Coletivo Negressencia e o Coletivo Corpo Negra são grupos formados por jovens negros/as intelectualizados/as e conscientes racialmente que reivindicam o acesso à educação e ao mercado de trabalho; o direito de circular e permanecer plenamente em espaços públicos; a criação de lugares ligados a religiosidades e o acesso aos direitos civis. As ações destes grupos são realizadas através do corpo e do movimento, proporcionando um diálogo entre dança, educação, arte, antropologia e política. Os coletivos, entendidos como grupos políticos produtores de experiências (de arte e de educação, principalmente), ressignificam a questão étnico-racial dentro e fora do meio universitário. Nesse estudo, além de artistas negros/as inseridos em grupos de militância, os/as integrantes dos coletivos são reconhecidos também como sujeitos de conhecimento. Adoto o pressuposto de que esses grupos - enquanto forma de organização política, artística e pressão social - têm se constituído como mediadores entre a comunidade negra, a sociedade e a Universidade. A importância do presente estudo está na necessidade de aprofundar a reflexão sobre a organização de coletivos negros que possuem caráter artístico. O cerne deste trabalho diz respeito aos saberes políticos produzidos pelas ações do Coletivo Corpo Negra e do Coletivo Negressencia. Pelo trabalho de campo realizado entre 2020 e 2022, estes grupos constroem saberes e aprendizados não só políticos mas também identitários e, como se trata de Dança, saberes artísticos.
Un delirio lleno de tacos, glitter y amor: aproximaciones etnográficas a los modos de hacer de la colectiva Tarde Marika (Córdoba, Argentina)
Autoria: Maria Lucia Tamagnini
Autoria: Tarde Marika es una colectiva artística/activista de inspiración drag situada en la ciudad de Córdoba, Argentina. Sus integrantes se proponen "celebrar las disidencias de género y sexualidad" a través de acciones colectivas públicas, tales como: ciclos de cine, clases de danza, pequeños festivales, pasarelas (o runway) en el espacio callejero y encuentros vespertinos en los que ponen a disposición de les asistentes maquillajes, vestuarios y pelucas para que cada quien pueda "draguearse", "montarse" y crear un personaje a través del cual explorar lúdicamente la maleabilidad de las construcciones genéricas. Denominadas "Tardes Marikas", este tipo de encuentro dio origen y nombre al colectivo en febrero de 2017. En este trabajo realizo una primera aproximación etnográfica a esta colectiva, focalizando en modos de hacer con el drag que transitan entre arte y política. Para ello, describiré de qué manera llevan a cabo el "trabajo colectivo", cómo y con quiénes se vinculan en el marco de dichos procesos organizativos, qué reivindicaciones construyen y de qué manera articulan su "compromiso" con causas sociales más amplias, como la legalización del aborto o la implementación de Educación Sexual Integral. Como hipótesis exploratoria, propongo que estos modos de hacer se sostienen en base a tecnologías de la amistad, esto es, formas sociales de producción, gestión y circulación artística que involucran personas, afectos y deseos compartidos. Encaro esta aproximación desde un doble posicionamiento, como etnógrafa/investigadora y como integrante de la colectiva. Lo que pueda decir sobre Tarde Marika entonces es resultado, en parte, de una participación activa en una red constituida por vínculos que se desplazan en un continuum entre amistad y trabajo artístico.
Un delirio lleno de tacos, glitter y amor: aproximaciones etnográficas a los modos de hacer de la colectiva Tarde Marika (Córdoba, Argentina)
Autoria: Maria Lucia Tamagnini
Autoria: Tarde Marika es una colectiva artística/activista de inspiración drag situada en la ciudad de Córdoba, Argentina. Sus integrantes se proponen "celebrar las disidencias de género y sexualidad" a través de acciones colectivas públicas, tales como: ciclos de cine, clases de danza, pequeños festivales, pasarelas (o runway) en el espacio callejero y encuentros vespertinos en los que ponen a disposición de les asistentes maquillajes, vestuarios y pelucas para que cada quien pueda "draguearse", "montarse" y crear un personaje a través del cual explorar lúdicamente la maleabilidad de las construcciones genéricas. Denominadas "Tardes Marikas", este tipo de encuentro dio origen y nombre al colectivo en febrero de 2017. En este trabajo realizo una primera aproximación etnográfica a esta colectiva, focalizando en modos de hacer con el drag que transitan entre arte y política. Para ello, describiré de qué manera llevan a cabo el "trabajo colectivo", cómo y con quiénes se vinculan en el marco de dichos procesos organizativos, qué reivindicaciones construyen y de qué manera articulan su "compromiso" con causas sociales más amplias, como la legalización del aborto o la implementación de Educación Sexual Integral. Como hipótesis exploratoria, propongo que estos modos de hacer se sostienen en base a tecnologías de la amistad, esto es, formas sociales de producción, gestión y circulación artística que involucran personas, afectos y deseos compartidos. Encaro esta aproximación desde un doble posicionamiento, como etnógrafa/investigadora y como integrante de la colectiva. Lo que pueda decir sobre Tarde Marika entonces es resultado, en parte, de una participación activa en una red constituida por vínculos que se desplazan en un continuum entre amistad y trabajo artístico.
Ceilândia, Cidade Aberta: A Periferia Como Presença Insurgente Em A Cidade É Uma Só? (Adirley Queirós, 2011)
Autoria: João Paulo Campos
Autoria: A tarefa deste ensaio é construir uma discussão interdisciplinar sobre o cinema como uma prática que se configura entre a arte e a política a partir da análise do filme A cidade é uma só? (2011), de Adirley Queirós. Partimos da hipótese de que esta obra elabora um pensamento estético-político em que as cisuras do Distrito Federal são postas em cena criticamente, gesto que revela aspectos da relação entre Brasília (Plano Piloto) e seus outros (Cidades-Satélites). Um dos motivos mais importantes do filme é a perambulação de personagens subalternizados entre Brasília e Ceilândia, cidades vizinhas cuja relação tecida na obra desvela a paisagem desigual do Distrito Federal. Saltando à origem histórica do conflito espacial em questão e desenvolvendo um jogo dramático que coloca personagens em movimento entre o centro e a periferia, o filme de Queirós constrói um registro que mistura documentário e ficção em cena, além de confrontar passado e presente através da montagem, com o objetivo de subverter a história oficial ou as "narrativas do progresso" (TSING, 2015) que narram a criação da cidade radiosa à brasileira. Levando a sério os recursos estéticos agenciados pelo cineasta, chegamos à conclusão de que este filme figura a periferia brasiliense como uma "presença insurgente" (ADERALDO, 2018) capaz de questionar a utopia modernista que serve como um "manto mito-poético" (HOLSTON, 1993) de Brasília, ofuscando suas origens históricas e os conflitos de classe que explodiram neste processo. Ceilândia é mostrada na obra, portanto, como as entranhas da cidade modernista - uma aventura estética que critica a história violenta, tão utópica quanto distópica, de construção e fundação da capital federal.
Funk e Covid-19: notas antropológicas sobre contágio, fluxos e sobrevivências
Autoria: Guilherme Vieira Bertollo
Autoria: O presente trabalho objetiva apresentar os resultados iniciais de uma pesquisa sobre funk e pandemia, desenvolvida no âmbito das discussões do grupo Cultura e Covid, promovido pelo projeto Arte, Política e Experimentação Etnográfica, sob coordenação de Vi Grunvald (PPGAS/UFRGS). O funk brasileiro, também chamado de "funk carioca", é um gênero de música eletrônica dançante (PALOMBINI, 2009) que enfrenta ampla criminalização, assim como ocorreu com o samba, a capoeira, dentre outras práticas com origens nas tradições culturais da diáspora africana. A perspectiva de artistas periféricos com relação às ações do Estado são temas frequentes nas produções musicais do funk, constituindo-se como contra-narrativas sobre a violência urbana e reproduzindo muitos dos problemas enfrentados cotidianamente pelas pessoas pertencentes a grupos marginalizados. No contexto da pandemia global de covid-19, foi indicado pelas autoridades de saúde pública (tanto no âmbito nacional quanto internacional), a necessidade do distanciamento social como principal atitude a ser tomada para evitar o contágio em grande escala. Pela mídia hegemônica, e também através de redes sociais como Twitter e Instagram, foram noticiados bailes funk e outras festas que causaram aglomerações nos centros urbanos e nas periferias de cidades brasileiras. A ampla repercussão através de canais midiáticos favorece o fortalecimento de preconceitos a respeito do funk, ao mobilizar noções estereotipadas sobre a cultura das periferias no imaginário social da classe média branca. O uso (ou não) de máscara foi identificado como um demarcador social (SOUZA, 2021), sendo muitas vezes dispensado pelas pessoas que moram em favelas, como um ato de transgressão. Em contextos periféricos, a relação dos sujeitos com a vida e a morte é diferenciada. Também a maneira como a periferia significa o Estado e suas intervenções é diversa da percepção das elites urbanas. Contudo, mesmo nos setores mais privilegiados, que, via de regra, têm maior acesso à informação e às estatísticas epidemiológicas, como índices de mortalidade, grande parte não se importava em desrespeitar os protocolos de saúde pública. Com as festas populares (de rua) proibidas, emerge o fenômeno da privatização do lazer. Nas periferias, os bailes funk resistem como uma "cultura de sobrevivência" (FACINA, 2021). Enquanto promove a repressão violenta às formas de resistência cultural e política de grupos periféricos, o Estado garante a manutenção de privilégios de classe. Nesta conjuntura, o movimento funk têm conseguido não apenas fazer a sua política de conscientização acerca da importância da vacinação da população brasileira, mas têm também nos ajudado a pensar a criação de políticas de cuidado diferencial para os grupos socialmente vulneráveis.
Funk e Covid-19: notas antropológicas sobre contágio, fluxos e sobrevivências
Autoria: Guilherme Vieira Bertollo
Autoria: O presente trabalho objetiva apresentar os resultados iniciais de uma pesquisa sobre funk e pandemia, desenvolvida no âmbito das discussões do grupo Cultura e Covid, promovido pelo projeto Arte, Política e Experimentação Etnográfica, sob coordenação de Vi Grunvald (PPGAS/UFRGS). O funk brasileiro, também chamado de "funk carioca", é um gênero de música eletrônica dançante (PALOMBINI, 2009) que enfrenta ampla criminalização, assim como ocorreu com o samba, a capoeira, dentre outras práticas com origens nas tradições culturais da diáspora africana. A perspectiva de artistas periféricos com relação às ações do Estado são temas frequentes nas produções musicais do funk, constituindo-se como contra-narrativas sobre a violência urbana e reproduzindo muitos dos problemas enfrentados cotidianamente pelas pessoas pertencentes a grupos marginalizados. No contexto da pandemia global de covid-19, foi indicado pelas autoridades de saúde pública (tanto no âmbito nacional quanto internacional), a necessidade do distanciamento social como principal atitude a ser tomada para evitar o contágio em grande escala. Pela mídia hegemônica, e também através de redes sociais como Twitter e Instagram, foram noticiados bailes funk e outras festas que causaram aglomerações nos centros urbanos e nas periferias de cidades brasileiras. A ampla repercussão através de canais midiáticos favorece o fortalecimento de preconceitos a respeito do funk, ao mobilizar noções estereotipadas sobre a cultura das periferias no imaginário social da classe média branca. O uso (ou não) de máscara foi identificado como um demarcador social (SOUZA, 2021), sendo muitas vezes dispensado pelas pessoas que moram em favelas, como um ato de transgressão. Em contextos periféricos, a relação dos sujeitos com a vida e a morte é diferenciada. Também a maneira como a periferia significa o Estado e suas intervenções é diversa da percepção das elites urbanas. Contudo, mesmo nos setores mais privilegiados, que, via de regra, têm maior acesso à informação e às estatísticas epidemiológicas, como índices de mortalidade, grande parte não se importava em desrespeitar os protocolos de saúde pública. Com as festas populares (de rua) proibidas, emerge o fenômeno da privatização do lazer. Nas periferias, os bailes funk resistem como uma "cultura de sobrevivência" (FACINA, 2021). Enquanto promove a repressão violenta às formas de resistência cultural e política de grupos periféricos, o Estado garante a manutenção de privilégios de classe. Nesta conjuntura, o movimento funk têm conseguido não apenas fazer a sua política de conscientização acerca da importância da vacinação da população brasileira, mas têm também nos ajudado a pensar a criação de políticas de cuidado diferencial para os grupos socialmente vulneráveis.
Ceilândia, Cidade Aberta: A Periferia Como Presença Insurgente Em A Cidade É Uma Só? (Adirley Queirós, 2011)
Autoria: João Paulo Campos
Autoria: A tarefa deste ensaio é construir uma discussão interdisciplinar sobre o cinema como uma prática que se configura entre a arte e a política a partir da análise do filme A cidade é uma só? (2011), de Adirley Queirós. Partimos da hipótese de que esta obra elabora um pensamento estético-político em que as cisuras do Distrito Federal são postas em cena criticamente, gesto que revela aspectos da relação entre Brasília (Plano Piloto) e seus outros (Cidades-Satélites). Um dos motivos mais importantes do filme é a perambulação de personagens subalternizados entre Brasília e Ceilândia, cidades vizinhas cuja relação tecida na obra desvela a paisagem desigual do Distrito Federal. Saltando à origem histórica do conflito espacial em questão e desenvolvendo um jogo dramático que coloca personagens em movimento entre o centro e a periferia, o filme de Queirós constrói um registro que mistura documentário e ficção em cena, além de confrontar passado e presente através da montagem, com o objetivo de subverter a história oficial ou as "narrativas do progresso" (TSING, 2015) que narram a criação da cidade radiosa à brasileira. Levando a sério os recursos estéticos agenciados pelo cineasta, chegamos à conclusão de que este filme figura a periferia brasiliense como uma "presença insurgente" (ADERALDO, 2018) capaz de questionar a utopia modernista que serve como um "manto mito-poético" (HOLSTON, 1993) de Brasília, ofuscando suas origens históricas e os conflitos de classe que explodiram neste processo. Ceilândia é mostrada na obra, portanto, como as entranhas da cidade modernista - uma aventura estética que critica a história violenta, tão utópica quanto distópica, de construção e fundação da capital federal.