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ISBN: 978-65-87289-23-6
MR50: Religião & Sociedade: 45 anos de pesquisas sobre religião no Brasil

Coordenação: Edilson Pereira (UFRJ)

Participantes: Patricia Birman (UERJ), Regina Novaes (UNIRIO), Rosenilton Oliveira (USP), Paola Lins de Oliveira (UFF)

Resumo:
A mesa aborda a importância da preservação e divulgação de patrimônios editoriais em Ciências Sociais no Brasil, a partir do caso exemplar de Religião & Sociedade. Fundada em 1977, junto ao Instituto de Estudos da Religião - ISER, a revista acompanha as transformações nos debates públicos e acadêmicos em torno do tema religião dentro e fora do país. Ao completar 45 anos, em 2022, a revista realiza o lançamento de seu site, no qual disponibiliza artigos, resenhas, documentos e ensaios veiculados nos 30 primeiros anos de sua existência, somando-os aos já disponíveis no Scielo.br/rs, desde 2007. Com isso, volumes antes existentes somente em formato impresso (muitos dos quais, esgotados) se tornam novamente acessíveis ao grande público. Abordaremos a relevância desse acervo para diferentes gerações de pesquisadores da antropologia brasileira.

Palavras chave: periódico científico; religião e sociedade; estudos de religião
Resumos submetidos
Roger Bastide: saberes religiosos e antropológicos em alguns de seus embates e combates.
Autoria: Patricia Birman
Autoria: As controvérsias e engajamentos da antropologia brasileira, e também, dos adeptos do candomblé, fizeram da obra de Roger Bastide uma referência quase incontornável, principalmente em relação à religião dos africanos no Brasil e na África. Foram muitos os posicionamentos e as análises das gerações posteriores sobre as reflexões de Bastide. Ele tanto foi "acusado" de encampar atitudes preconceituosas como foi elogiado por combatê-las. E assim, seja por se descobrir afinidades com suas ideias, seja por recusá-las criticamente, continua-se a reconhecer Roger Bastide como uma autoridade acadêmica sobre, principalmente, os estudos afro-brasileiros. Vamos recolocar algumas das polêmicas - a partir de textos publicados em Religião e Sociedade - sobre a produção de saberes no candomblé e no campo da antropologia e da sociologia. Estão presentes nesses trabalhos, direta ou indiretamente, a noção de modernidade, de cientificidade e de autoria religiosa em trabalhos antropológicos. Examinaremos, pois, certas questões compartilhadas por Roger Bastide levando em conta os contextos que as produziram. Como o nosso autor, repetimos, não podemos ficar indiferentes e exteriores às situações que compartilhamos na vida social.
Religião e Sociedade: conjunturas, campos, disputas e gerações.
Autoria: Regina Novaes
Autoria: Em 1977, ainda em pleno regime militar, nasceu Religião & Sociedade. A revista contou com a participação de vários pesquisadores do Instituto de Estudos da Religião (ISER) e do Centro de Estudos da Religião (CER), entre os quais destaco Rubem Alves, Rubem César Fernandes, Peter Fry, Alba Zaluar - então professores da professores da UNICAMP- e Duglas Teixeira Monteiro, professor da USP. Dois anos depois, em um número profundamente marcado pelo trágico falecimento de Duglas Monteiro em 1978, encontramos um editoral no qual se explicita um (re)posicionamento da Revista no interior do assim chamado "campo acadêmico dos estudiosos da religião". "Sem negar a profundidade das reflexões elaboradas em círculos religiosos", afirmam os editores, "fazemos aqui ciência da religião. Há religiosos entre nós e muitos dos que aqui escrevem estão engajados nas disputas ideológicas que dividem o campo religioso brasileiro; mas ao entrarem no terreno das ciências, eles se submetem a regras de comunicação que são diferentes daquelas que prevalecem nas organizações eclesiásticas". Ao mesmo tempo, reconhecem que nos "meios científicos" existem "valores e limitações que lhes são próprios". O objetivo da presente comunicação é pensar sobre essas (e outras) afirmações presentes no editorial da Revista em 1979 (número 4 ) estabelecendo comparações com alguns temas que marcam hoje contribuições para Revista. Por esse caminho, podemos refletir sobre campos, conjunturas e mudanças entre diferentes gerações de "pesquisadores da religião".
"Hoje eu orei, Ele é negro": a gêneses do movimento negro evangélico no Brasil
Autoria: Rosenilton Oliveira
Autoria: Neste texto procuro descrever, de modo sintético, o processo de configuração do Movimento Negro Evangélico (MNE) no contexto brasileiro e o modo como os símbolos da herança africana no Brasil são acionados nas ações desses grupos. Com base em análise documental, entrevistas e pesquisa de campo, argumenta-se que a) é possível traçar algumas linhas gerais que balizam as ações do MNE - dentre elas o combate ao racismo; b) há uma rejeição das religiões afro-brasileiras como sendo o único lócus da "cultura negra no Brasil" sem, no entanto, difundir práticas discriminatórias; c) opera-se uma radicalização do movimento de "africanização" iniciado por alguns pais e mães de santo, a ponto de também o cristianismo ser considerado uma "religião de matriz africana".
Arte e religião na Revista Religião e Sociedade: debates e tendências
Autoria: Paola Lins de Oliveira
Autoria: Religião e Sociedade é uma das mais longevas e bem-avaliadas publicações científicas dedicadas à divulgação de pesquisas, no âmbito das Ciências Sociais e humanidades, sobre a temática da religião no Brasil, com predomínio das abordagens antropológicas e sociológicas. Desde a década de 1970, quando foi criada, a revista reúne, catalisa e norteia os principais debates sobre religião nos campos de estudos nos quais se insere. Nesta ocasião, apresento alguns resultados de um levantamento sobre artigos, resenhas e ensaios publicados em Religião e Sociedade que abordam as relações entre arte e religião. O objetivo é explorar preliminarmente o modo pelo qual materialidades, performances, músicas, entre outras manifestações "artísticas" foram tratadas nesta publicação, chamando a atenção para tendências e transformações no debate acadêmico acerca das interfaces entre os temas. Se, por um lado, a linha editorial da revista já opera o recorte do vetor religioso, por outro, partimos do entendimento da arte como categoria ampliada que abarcaria o conjunto de artefatos materiais utilitários ou não, visuais, musicais ou performáticos, produzidos em contextos sociais com reconhecido valor estético e cultural seja no âmbito de sua produção, "recepção" ou circulação.