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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT03: Antropologia (Audio)Visual) e Ciências Sociais: experiências de ensino e pesquisa

Denise Machado Cardoso, Nilson Almino de Freitas

As experiências que envolvem a Antropologia (Audio)Visual no âmbito da pesquisa e do ensino têm sido tema de Grupos de Trabalho e Simpósios Temáticos organizados pelo Comitê de Antropologia Visual em diversos eventos científicos. Nesse GT esperamos discutir o uso das imagens nas diferentes articulações possíveis entre ensino e pesquisa no campo das ciências sociais. Como desdobramento de uma reflexão em desenvolvimento desde a publicação do livro Antropologia Visual: perspectivas de ensino e pesquisa (Ferraz & Mendonça, 2014), esperamos estender a discussão sobre o uso de imagens do campo da antropologia visual, para as outras áreas das ciências sociais, como forma de dimensionar as limitações e potencialidades epistemológicas e metodológicas no tocante ao uso das linguagens visual, gráfica e audiovisual na sala de aula bem como na pesquisa e resultados elaborados nesses termos em vista de sua aplicabilidade no ensino. Esperamos trabalhos que versam sobre antropologia audiovisual, ética de abordagens com imagens, produção, memórias coletivas, etnografias participativas em imagem e som, uso de mídias, acervos, interlocuções com os campos da política, da performance, da fotografia e do cinema, da curadoria e da experimentação dos modos de narrar e ensinar ciências sociais, tanto no Ensino Básico, quanto no Ensino Superior.

Palavras chave: Antropologia Audiovisual, etnografia, ensino
Resumos submetidos
Inventários fotográficos e preservação digital de coleções antropológicas na Paraíba e no Rio Grande do Sul: Práticas e reflexões pedagógicas em Antropologia Visual
Autoria: Yuri Schönardie Rapkiewicz, José Muniz Falcão Neto
Autoria: Neste trabalho mobilizamos a experiência da oficina inserida no projeto cultural "Inventários fotográficos e preservação digital de coleções antropológicas na Paraíba e no Rio Grande do Sul" que foi contemplado na Bolsa Funarte de Estímulo à Conservação Fotográfica Solange Zúñiga - 2020. A atividade pedagógica enfocou a organização, curadoria, catalogação e digitalização de fotografias de interesse antropológico, à partir da expertise de gestão de acervos de imagens (fotografias, desenhos, vídeos e sons), por meio de práticas colaborativas desenvolvidas no âmbito dos núcleos de Antropologia Visual e da Imagem participantes, sendo eles, respectivamente: o grupo de pesquisa "Antropologia Visual, Artes, Etnografias e Documentários" (AVAEDOC/UFPB) e o "Núcleo de Antropologia Visual" (NAVISUAL/UFRGS). A oficina trimestral, ministrada entre Março e Junho de 2021, foi composta por seis encontros síncronos, quinzenais e virtuais, em que contamos com a participação de diferentes convidados com experiência na área, que partilharam os seus conhecimentos com os vinte alunos inscritos, provenientes das regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Como resultado final, os participantes da oficina organizaram suas próprias coleções fotográficas e disponibilizaram as mesmas, de forma pública, através do site do projeto: www.ufrgs.br/pavi. Assim, ao longo da formação, utilizamos, de forma intensiva, múltiplas ferramentas de comunicação e produção digital compartilhadas, tais como o Google Apps (Meet, Documentos, Planilhas), e redes sociais (Instagram), fomentando a catalogação de coleções digitais fotográficas e permitindo socializar importantes conhecimentos teóricos e metodológicos associados à Antropologia Visual e da Imagem durante a pandemia.
Reflexões sobre o processo de produção da hipermídia na pesquisa antropológica
Autoria: Maria Grazia Cribari Cardoso
Autoria: O artigo avalia a utilização da hipermídia e sua linguagem na divulgação dos trabalhos científicos. Resultado de projeto de pesquisa sobre o trabalho feminino nas religiões afro-brasileiras, construímos um site a fim de comunicar os resultados da pesquisa empírica. "Obrigação" no candomblé se refere a todas as atividades realizadas para a realização das cerimônias e a obrigação principal é a preparação das comidas sagradas para o sacrifício aos deuses, posteriormente repartida com a comunidade. Equiparamos esses trabalhos nos terreiros com os trabalhos domésticos relacionando-o com a condição do trabalho feminino no cenário local para mostrar o caráter voluntário e de resistência à exploração quando realizado na comunidade religiosa afro-brasileira. A hipermídia foi composta em formato de mosaico de fotografias acrescido por uma diversidade de imagens (vídeos, áudio, fotos, slides e textos escritos) que versam sobre as várias faces das atividades das cozinheiras de religião afro-brasileira desde sua família e seus afazeres domésticos no lar ao seu trabalho remunerado. A exibição dos resultados da pesquisa na hipermídia segue o mesmo fundamento da investigação científica, ou seja, ambas são reconstruções da realidade social elaborada para responder ao problema levantado. Assim como a linguagem escrita não substituiu a linguagem falada, o relatório audiovisual não substitui o relatório escrito, ele é complementar a este. Porém, diferentemente deste, representa o conceitual através da experiência do sujeito no mundo. Enquanto instrumento de comunicação científica, contribui com novas condições de diálogo observador/observado porque favorece a todos os envolvidos na investigação.
Vivendo e aprendendo : imagens de uma viagem à "campo".
Autoria: Petronio Potiguar
Autoria: Este texto é fruto de preparação da primeira etapa da pesquisa de campo rumo a aldeia Mapuera, na cidade de Oriximina, noroeste paraense, em 2018, para tese de doutorado, pelo Programa de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia, da Universidade Federal do Pará (PPGSA/UFPA). A pesquisa diz respeito à concepção de saúde/doença/cura entre os homens indígenas nessa aldeia, cujas subjetividades tornaram-se chaves centrais de análise. No entanto, o foco aqui é difundir essa experiência iniciada em 2018, em um contexto indígena, por acreditar que as referências sobre metodologia e instrumentos da pesquisa, em particular, a etnografia e as imagens, mostraram que o campo se faz presente, a partir do momento em que você decide desenvolver uma pesquisa, cujo local da investigação é mais um componente nesse processo e que os preâmbulos, antes de chegar "lá", são também partes deste campo. A escrita desse texto revela os meandros que antecedem o estar no campo, propriamente dito e como esse contexto pode se transformar em conteúdo para reflexões, em especial, para os iniciantes na pesquisa científica. E foi sob essa perspectiva que resolvi apresentar ao leitor essa experiência, que contribuíu para os campos posteriores a pesquisa em si, que se deu de janeiro a maio de 2020 e que , se não fosse as experiências vividas nos antecedentes para chegar na aldeia Mapuera, em 2018, não teria tanto êxito, como ocorrera em 2020 e 2021 (via watzap), momentos finais da pesquisa de campo. Nesse contexto, as narrações, imagens, anotações no caderno de campo e ,fundamentalmente, os ouvidos e olhares treinados, foram importantes nesse processo e que deram base para essa produção acadêmica, direcionada aos alunos de graduação e mestrado, cuja iniciação científica é presente. Por fim, a intenção aqui é levar os neófitos da pesquisa científica à compreender que os antecedentes à chegada ao campo de pesquisa, as vezes, considerados "não importantes", podem passar desapercebidos sem um tratamento adequado para a composição e preparo de pesquisas e que, se não for tratado com cautelas, podem provocar entraves em suas futuras investidas ao campo de estudo.
Educação não-formal nas "quebradas": visualidades, pesquisa compartilhada e experimentação pedagógica na periferia de Sobral-CE
Autoria: Nilson Almino de Freitas, Jayanara Oliveira Fernandes, Quintino Silva
Autoria: A pesquisa aborda experiências compartilhadas de educação não formal a partir de execução de planejamento de produção de material didático com áudio, vídeo e avaliação compartilhada com o grupo pesquisado, constituído por membros de coletivo cultural denominado Movimento Social FOME, de inspiração anarquista, organizado por jovens moradores de bairro periférico de Sobral que atuam no campo da produção cultural, especialmente a partir do Hip Hop. O experimento está sendo aplicado em escolas de ensino médio em Sobral, nas disciplinas de sociologia e será avaliado com base na forma de recepção por parte de professores e alunos. Portanto, é uma investigação que sai da escola como lugar central da relação ensino e aprendizagem, já que o coletivo escolhido para compartilhar esta experiência não faz parte necessariamente de uma comunidade escolar, e volta para ela. É uma pesquisa também que se faz a partir de uma metodologia que se propõe a construir uma relação simétrica entre pesquisador e pesquisado, envolvendo bolsistas, professores e alunos vinculados ao Laboratório das Memórias e das Práticas Cotidiana - LABOME, da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA, IES com sede em Sobral, cidade do estado brasileiro do Ceará. O projeto foi iniciado em 2020 e já produziu uma série de obras(áudio)visuais. O acervo já existente no LABOME, por este motivo, está sendo usado para produção dos trabalhos que faltavam, e resolveu-se incluir outros produzidos pelo próprio FOME, como a Cypher (clipe com vários MCs) e podcast. Já contamos com a parceria do PIBID e do PROFSOCIO para isso. Alunos vinculados a estes dois programas se comprometeram a usar o material produzido Palavras-chave: educação não formal; periferia; Movimento Social FOME
Considerações sobre ensino e história da antropologia visual
Autoria: João M B Mendonça
Autoria: O ensino de antropologia nos cursos de graduação em Ciências Sociais brasileiros geralmente envolve componentes curriculares de Teoria Antropológica, os quais incluem diferentes perspectivas teóricas. A tendência principal na organização dos assuntos desses cursos de Teoria consiste em adotar uma cronologia, a qual vai de fins do século XIX, com Lewis Morgan, James Frazer e Edward Tylor, até o período contemporâneo, a partir de Clifford Geertz e outros autores. Esse conteúdo costuma ser dividido entre duas ou três disciplinas e ao longo de quase dois anos estudantes são levados à prática de leituras desses diversos autores, de modo que sua formação seja marcada pela história do pensamento antropológico. Esse mesmo tipo de perspectiva serviu de base para a estruturação curricular de um curso de graduação em antropologia que funciona em Rio Tinto-PB desde 2007, seja em relação às disciplinas de Teoria Antropológica como, mas também, em relação às disciplinas de Antropologia Visual I e II. Neste último caso, de modo mais ou menos similar às disciplinas de Teoria Antropológica, dois períodos procuram abranger as obras fundadoras do campo, desde fins do século XIX ao momento contemporâneo. Passa-se portanto, dos usos paradigmáticos da fotografia aos usos do cinema para chegar ao universo digital atual, de modo a que obras e autores "clássicos" do campo sejam abordados. Se por um lado, podemos nesse tipo de currículo, trabalhar também a relação entre autores como Margaret Mead ou Malinowski, desde o ponto de vista da Teoria Antropológica ao da Antropologia Visual, por outro lado, encontramos dificuldades em termos de conciliar aquilo que seriam as demandas e características próprias do ensino de antropologia visual dentro do espaço curricular representado por apenas duas disciplinas (dois semestres). Essa comunicação visa levantar alguns destes problemas relacionados ao ensino de antropologia visual em nível de graduação, em especial aqueles que dizem respeito à história da antropologia visual. Como, por exemplo, superar a concepção maquínica que às vezes caracteriza o ensino, como se a disciplina tratasse apenas de ensinar como se usa uma câmera para fazer bons filmes? Ou ainda, em que medida a perspectiva cronológica adotada acaba por ser mais ou menos eurocêntrica e em quais condições seria possível construir alternativas? Enfim, como a própria história da antropologia visual, em diferentes países, tornaria possível equacionar melhor as modalidades e desafios do ensino nessa área?
Ensinamentos da Antropologia Visual: experiência docente na graduação
Autoria: José Muniz Falcão Neto
Autoria: Numa trajetória e relação difícil (NOVAES, 2009) a antropologia e a imagem produziram diversos saberes no âmbito das Ciências Sociais, gerando discussões epistemológicas, estéticas, técnicas, culturais e etnográficas. Nas últimas décadas, vários laboratórios de antropologia visual foram criados no Brasil, onde propuseram-se trabalhar com a fotografia e o cinema na etnografia (ECKERT; ROCHA, 2016; PEIXOTO, 1995, 2019). A formação dos grupos e laboratórios de pesquisa são de grande importância no desenvolvimento da própria antropologia brasileira, pois foram eles que iniciaram as discussões teóricas e metodológicas das imagens nas pesquisas sociais (BANKS, 2009) em território nacional. Fruto destas intersecções é o grupo de pesquisa AVAEDOC (Antropologia Visual, Artes, Etnografias e Documentários) localizado na UFPB cidade de Rio Tinto, que desde 2009 contribui com inúmeras pesquisas na região do vale do Mamanguape (Mendonça, 2012, 2014). Sendo integrante deste grupo de pesquisa, graduado em Antropologia pela UFPB campus Rio Tinto, com habilitação em Antropologia Visual e mestre em Antropologia pela mesma instituição, participo do processo seletivo para professor substituto da UFPB desse campus no ano de 2019. Classificado e aprovado para suprir a vaga específica de um docente da Antropologia Visual, ministrei duas disciplinas: Introdução à Etnodocumentação e Antropologia Brasileira. Dito isto, o objetivo deste trabalho é traçar um panorama da formação antropológica num campus do interior da Paraíba, especificamente, da Antropologia Visual e suas potencialidades na formação antropológica e pedagógica. Portanto, pretendo apresentar a experiência da docência no curso de bacharel em Antropologia, expondo os estudos desenvolvidos no plano de aula (discussões de textos, fotografias e filmes) com os(as) discentes na disciplina de Introdução à Etnodocumentação, os(as) quais no final do curso como nota final da disciplina, produziram 12 ensaios visuais de diferentes contextos sociais e culturais do vale do Mamanguape - PB.
Entre Permanecer Ou Evadir: Estudo Acerca Das (Des)Mobilizações E Do (Re)Desenho Dos Modos De Vida Da Juventude Universitária A Partir Do Isolamento Social Provocado Pela Pandemia Covid-19
Autoria: Isabel Linhares
Autoria: Este estudo se propõe abordar as vivências e táticas da juventude universitária, no sentido de compreender o que (des)mobiliza seus modos de vida e/ou afeta e a desliga da vida universitária, observando como esses jovens atualizam formas de resistência ou se "perdem" em seus percursos, cujos trajetos, previamente traçados, estão sob ameaça nesse longo período de isolamento social provocado pela pandemia do COVID-19. Nesse sentido, busca-se conhecer quais táticas são utilizadas pelos jovens da Universidade Estadual Vale do Acaráu (UVA), na construção de condições para produzir a vida em tempos de pandemia, identificando implicações econômicas, sócio/culturais e políticas nos modos de ser e resistir, bem como o que os (des)mobiliza nesse novo cenário. O estudo emerge diante de resultados preliminares da pesquisa "Cartografias dos Afetos Juvenis: reinvenções dos sentidos do ser e viver em tempos de isolamento social" (2021). Referida pesquisa revelou que esse período interferiu negativamente no bem-estar dos(as) discentes, os(as) quais relatam sintomas como falta de concentração, medos, apatia e ansiedade, sendo esta última a mais citada. Estar afetado emocionalmente, trouxe várias implicações para a vida acadêmica e a relação com a universidade foi prejudicada, visto que muitos não tiveram condições para executar suas atividades. Ratificando a relevância da escuta das falas da juventude universitária, no sentido de compreender seus anseios, dilemas e modos de existir e resistir, propõe-se realizar essa escuta a partir de um viés metodológico (auto)biográfico, recorrendo a técnica da colcha de retalhos e produção de narrativas visuais. Para isso, realizar-se-á rodas de conversas e entrevistas narrativas, em ambiente virtual e/ou presencial, com discentes de diversos cursos da UVA, em um movimento de escuta atenta para o que dizem, de modo a identificar os elementos que mobilizam ou desligam essa juventude, no que diz respeito ao enfrentamento das questões da permanência na Universidade, no período de pandemia e pós-pandemia. Também será fundamental um levantamento de dados sobre o perfil dessa juventude universitária, sobre ingresso, permanência e/ou abandono, dando especial atenção aos últimos três anos (2020-2022). O estudo em pauta ganha relevância ao considerar que a questão da permanência universitária já anunciava fios de esgarçamento, mesmo antes da pandemia, agora agravada por outros fatores e condicionantes.
Protagonismo e participação política de povos indígenas no ciberespaço
Autoria: Cristiane Modesto do Nascimento
Autoria: O objetivo do presente estudo foi a análise do Movimento Indígena e a interação dos povos indígenas com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), identificando como o uso dessas ferramentas contribuem para a organização, comunicação e mobilização destas sociedades. Tomando por base a etnografia em ambientes virtuais, ou seja, aquela em que se utilizam comunicações mediadas por TIC como fonte de dados, realizou-se a análise de perfis nas mídias digitais (facebook, sites, blogs) para a coleta de informações. Partindo de tais investigações foi possível observar que, atualmente, os povos indígenas estão cada vez mais organizados e encontram nas TIC condições necessárias para se manifestarem, sem a interferência dos novos "órgãos tutelares". Palavras-chave: Movimento indígena; Ciberativismo; imagens