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ISBN: 978-65-87289-23-6
MR07: Antropologia digital: etnografia e tensionamentos teóricos, éticos e políticos

Coordenação: Carolina Parreiras (Unicamp)

Debatedor/a: Patrícia Pavesi (UFES)
Participantes: Renato de Lyra Lemos (UFPE), Maria Elisa Máximo (Faculdade Ielusc), Vlad Schüler-Costa (The University of Manchester)

Resumo:
Desde a década de 90, os complexos processos de incorporação e corporificação da internet no cotidiano - além de eventos e experiências individuais e coletivas por eles desencadeados - têm gerado uma série de angústias e produzido impactos significativos sobre as formas como os antropólogos conduzem suas pesquisas.A intenção desta MR é intensificar o debate acerca dos desafios enfrentados pela antropologia para lidar com o caráter cotidiano das tecnologias e da internet, bem como com as desigualdades que produz e/ou reproduz, a partir de processos que têm recebido nomes como datificação e algoritmização.Neste sentido, propõe discutir formas de realização de etnografias e a própria reavaliação de categorias teóricas a partir dos tensionamentos e provocações colocados pela Antropologia Digital. A proposta é tematizar dilemas recorrentes ao ofício daqueles que fazem pesquisas para o digital, mas não se restringindo a este subcampo, uma vez que as tecnologias, plataformas e recursos digitais são elementos presentes em qualquer tipo de pesquisa antropológica atualmente.Dentre as questões a serem abordadas, estão: 1) a incorporação de recursos e ferramentas digitais nas pesquisas; 2) os impactos das tecnologias digitais em processos culturais e de constituição de subjetividades; 3) os impactos das novas tecnologias digitais na pesquisa em suas dimensões ontológicas, epistemológicas e éticas; 4) os impactos das tecnologias digitais na etnografia em termos práticos e teóricos.

Palavras chave: Internet; antropologia digital; etnografia
Resumos submetidos
Antropologia (pós-)digital: desafios e oportunidades
Autoria: Vlad Schüler-Costa
Autoria: Minha intervenção nesta mesa-redonda toma como partida a provocação de Florian Cramer e Petar Jandrić (Cramer & Jandrić, 2021), de que vivemos em sociedades cada vez mais pós-digitais (em que a mera distinção entre o "digital" e o "analógico" se torna progressivamente obsoleta), para interrogar o que isso nos pode dizer sobre a (ainda nascente) subdisciplina da antropologia digital. Em um mundo em que cerca de 80% da população global possui um smartfone (O'Dea, 2021), em que governos e empresas tomam decisões baseadas em algoritmos (Peters, 2017), em que automação torna-se um fator essencial na organização de capital e trabalho no capitalismo (Acemoglu & Restrepo, 2019), e em que boa parte da população global viu-se obrigada a deslocar sua vida para o universo online durante diversos lockdowns durante a pandemia de COVID-19 (Feldmann et al., 2021), tratar a "antropologia digital" como algo separado da "antropologia analógica" torna-se cada vez mais difícil. Portanto, se somos todos (pós-)digitais - ainda que alguns mais que outros -, desafios e oportunidades (metódicos e teóricos) são impostos à antropologia. Baseado em diversos trabalhos de campo realizados ao longo dos últimos quinze anos, nesta intervenção eu argumentarei que uma visão pós-digital é mais útil à antropologia do que visões que reforcem barreiras entre o digital e o analógico.
Desinstalando o determinismo racial digital: outras considerações sobre as relações entre pessoas negras e internet
Autoria: Renato de Lyra Lemos
Autoria: A grande maioria das pesquisas que historicamente referenciaram os usos da internet por pessoas negras, especialmente entre as décadas de 1990 e 2000, foram pensadas a partir de duas linhas de pensamento: ou por meio de uma ideologia cyberutópica da internet, como constituída por um espaço sem corpos, em que as relações de raça e gênero seriam apagadas, ou então através da aplicação das teorias da divisão digital, uniformizando os usos da internet por pessoas negras como estando restritas unicamente a uma experiência de lacunas infraestruturais mediada por falhas, reparos e colapsos. Essa delimitação dual, no entanto, acaba não levando em consideração os diversos tipos de vivências que vão para além dessas lógicas, apagando, assim, quaisquer contribuições que pessoas negras tenham realizado para o avanço na criação e uso dessas tecnologias. Desse modo, essa intervenção tem por objetivo debater as contribuições teóricas sobre tecnologias que vêm sendo propostas nos últimos anos por uma série de intelectuais negras, com o intuito de desconstruírem as configurações das narrativas dominantes brancas sobre tecnologia e reivindicarem uma agência tecnológica para as comunidades negras, além de denunciarem a existência e manutenção de práticas racistas nas infraestruturas digitais.