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ISBN: 978-65-87289-23-6
GT57: O papel da antropologia nos estudos sobre o turismo no Brasil: desafios e possibilidades

Felipe Comunello, Lea Rodrigues

Os anos 2000 foram marcados por um esforço de Estado visando a expansão do turismo no Brasil. Esta perspectiva teve seu ápice com as promessas de retorno dos investimentos realizados pelo país nos megaeventos esportivos e a ampliação do acesso a bens e serviços para as classes populares. Eventos que abrangeram dinâmicas sociais, políticas, culturais e econômicas com efeitos sentidos até os dias atuais nos mais diversos âmbitos do mundo social. Porém, diferente de processos tais como remoções de comunidades, protestos, políticas de inclusão social ou categorizações das mudanças sócio-demográficas, o fenômeno turístico permaneceu pouco debatido na antropologia brasileira. Este GT objetiva contribuir para preencher esta lacuna. Este debate já acontece em intersecções temáticas, como é o caso dos estudos sobre turismo e comunidades pobres locais; turismo e etnicidade; turismo e religião; turismo e meio ambiente; turismo e pesca. No entanto, estes e outros investimentos em pesquisa, no campo do turismo, permanecem em uma situação, em certa medida, fragmentária. Diante da pandemia de COVID-19, o turismo foi um dos setores da economia mais afetados, globalmente. Houveram alterações nas dinâmicas de (i)mobilidade e no conjunto de atividades relacionadas ao turismo, com destaque para o avanço da digitalização e da "plataformização". O GT pretende valorizar trabalhos de cunho etnográfico. Com isso, esperamos contribuir para a compreensão deste fenômeno.

Palavras chave: Antropologia, turismo, Brasil
Resumos submetidos
Fazendo antropologia no extremo-oeste cearense: um estudo etnográfico da expansão turística na vila de Jericoacoara.
Autoria:
Autoria: A partir das observações de Rodrigues (2014), sabe-se que os estudos sobre turismo no Brasil no campo das ciências sociais são discutidos como um tema periférico, tendo em vista que a presença do tema no corpo de pesquisas possui objetivos díspares, dessa forma, se faz necessário "o enfrentamento deste fenômeno social de forma direta e não tangencial" (ibid., p. 46). Nesta perspectiva, apresentaremos a abordagem teórica metodológica que vimos adotando nos estudos sobre o processo de mudanças na organização do turismo praticado na vila de Jericoacoara, situada no extremo-oeste da costa cearense no município de Jijoca de Jericoacoara. O foco são as mudanças que vêm ocorrendo na Vila, em decorrência das disputas a respeito do gerenciamento do Parque Nacional de Jericoacoara (PARNA Jeri) criado em 2002 e no desenvolvimento da atividade turística na região. As pesquisas em Jericoacoara iniciaram-se em 2013, resultando em monografias e apresentações de eventos científicos. Desde então, vem sendo realizada a coleta de dados etnográficos na Vila, assim como a prática do exercício da observação in loco com a realização de viagens periódicas à vila. Contudo, em decorrência da pandemia, no período de 2020 a coleta de dados ficou restrita aos dados disponíveis on-line, realizando o levantamento de dados em sites jornalísticos, comunitários, institucionais e o acompanhamento das redes sociais e noticiários sobre o processo de reabertura do turismo na localidade. Em 2021, foi realizada uma visita na localidade no período de reabertura do turismo, com a intenção de observar as mudanças que ocorreram na retomada das atividades turísticas na região dentro de um novo contexto de turismo pós-pandemia regrado por medidas sanitárias, através de entrevistas com moradores e representantes de diversos segmentos; pousadas, caminhoneteiros, trabalhadores informais, representantes da gestão de turismo e dos equipamentos de saúde no município. Como recurso metodológico nos valemos da articulação entre etnografia e ecologia política efetuada por Little (2006) para identificar os atores, estratégias, argumentos e os interesses dos sujeitos envolvidos nos conflitos. Concluiu-se pela crescente elitização do turismo na localidade, sem resolução dos problemas ambientais e com perdas significativas para os trabalhadores ambulantes, os mais vulneráveis frente aos interesses do capital turístico, das instâncias governamentais e dos grupos políticos locais.
Entre o bairro e a roça: práticas econômicas dos moradores da foz do Rio de Contas em Itacaré - BA em contexto de expansão turística
Autoria:
Autoria: O presente artigo explora os impactos e mudanças econômicas e culturais ocorridas na cidade de Itacaré (Bahia) nas últimas décadas, em especial a partir da pavimentação da rodovia estadual BA 001 concluída em 1998 e a consequente ampliação e consolidação da indústria turística na região. O foco de observação se concentra, de um lado, no processo de produção de uma imagem pública de "paraíso natural da costa Atlântica" que sustenta o novo mercado e, de outro, nas especificidades dos modos de viver da população autodenominada nativa. Esta é constituída em sua maioria por moradores dos bairros quilombolas localizados na foz do Rio de Contas e das roças que se espalham em suas margens. Trata-se de uma população que habita, ao mesmo tempo, bairro e roça. O objetivo é apresentar uma reflexão sobre as práticas econômicas dos moradores ribeirinhos de Itacaré a partir de etnografia realizada em dois de seus bairros mais antigos: Marimbondo e Porto de Trás. O foco da observação concentra-se na intensa circulação de alimentos produzidos nas roças quilombolas e capturados no rio e nos seus mangues, com destaque para a relevância que esses produtos têm tanto na manutenção de um modo tradicional de vida em meio a um contexto no qual as relações se tornam cada vez mais monetarizáveis, quanto na criação de estratégias de participação econômica desses moradores na nova indústria turística, que cada vez mais se expande e consolida em toda a região baiana da Costa do Cacau. Palavras-Chave: Turismo. Quilombolas. Ribeirinhos. Itacaré-BA
O turismo como ritual de passagem: uma experiência etnográfica com turistas no Pantanal Sul
Autoria:
Autoria: Considerando as discussões da Antropologia do Turismo a respeito do turismo como ritual de passagem e das tipologias do turista com suas diferentes motivações apresenta-se uma breve experiência etnográfica realizada pela pesquisadora na condição de turista em relação com outros turistas na sub-região do Abobral, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, em uma pousada que oferta serviços de Ecoturismo. Constatou-se que as sensações de alternância e inversão do ritual do turismo, além de gradativas são relativas, pois estão condicionadas também aos interesses e desejos particulares de cada turista, as características do local visitado e das relações criadas com os funcionários e demais turistas ao longo da estadia. Assim, mesmo vivenciando a condição por si só liminar em que o turismo os colocam, os turistas sentem a imersão nas etapas, eventos e sensações típicas do ritual do turismo em maior e menor grau, tal como aponta Graburn (1983) quando afirma que quanto às inversões proporcionadas pelo ritual do turismo em relação às práticas e ações cotidianas dos turistas, há influência das escolhas destes quanto aos aspectos da vida "normal" que desejam modificar ou inverter. Sendo assim, busca-las na experiência pessoal e turística pode fornecer indícios de suas motivações, interesses e intenções, bem como os diferentes modos de vivenciar essa experiência turística, auxiliando na caracterização dos turistas que buscam praticar o Ecoturismo no ambiente pantaneiro.
O Turismo e a Covid-19 na Costa do Cacau: Evidências etnográficas
Autoria:
Autoria: Pretende-se aqui discutir as possíveis relações entre a ocorrência de Covid-19 e a atividade turística na Costa do Cacau, sul da Bahia. Com base nos relatórios epidemiológicos fornecidos pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus), foi feita a tabulação e sistematização da ocorrência de casos de Covid-19 e de óbitos de Covid-19 no período de maio de 2020 a janeiro de 2021 na microrregião Itabuna-Ilhéus, onde se insere o território turístico denominado Costa do Cacau. Os dados secundários foram combinados com pesquisa participante com vistas à descrição etnográfica na tentativa de esquadrinhar evidências a respeito das relações entre turismo e Covid-19 no terreno.